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interview ISSN 2175-6708

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Leia a entrevista de Vittorio Gregotti a Marise Barda, na qual ele fala sobre a prática projetual, modos de pensar a arquitetura e a influência do processo de globalização

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BARDA, Marisa. Vittorio Gregotti. Entrevista, São Paulo, ano 01, n. 003.01, Vitruvius, jul. 2000 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/entrevista/01.003/3350>.


 

Torre residencial com vista do pórtico, vista do pátio interno. Bicocca, Milão. Arquiteto Vittorio Gregotti.
Foto Donato Di Bello

Marisa Barda: Quais são os elementos que considera mais importantes em seu processo projetual.

Vittorio Gregotti: Sou um arquiteto que sempre tentou basear a profissão de arquiteto sob alguma reflexão teórica. E este pensamento teórico naturalmente não pode ser separado da arquitetura que se faz, é uma espécie de busca de relações lógicas sob os quais basear a própria pesquisa. Este é um dos aspectos constantes que mantive desde que comecei a exercitar a profissão de arquiteto até hoje. Eu escrevo livros, dirijo revistas ou sou professor porque quero ser arquiteto e não porque quero ser um histórico ou um crítico de arquitetura. Acredito que a relação entre a teoria e a prática seja importante e à qual é necessário fazer referência sempre, principalmente em um período histórico como este que estamos vivendo, no qual os pontos de vista entre os arquitetos que se denominam todos modernos na realidade são muito diferentes entre si. Para se poder resolver um problema é necessário refletir teoricamente, questionar-se e dar respostas que sejam coerentes com o que se faz na prática. Esta, em breves palavras, pode se dizer que é o meu modo de trabalhar.

MB: Qual a importância dos detalhes em seus projetos?

VG: Nós damos grande importância aos detalhes. Talvez até para torná-los o mais essenciais possível e pouco expressivos, eles são muito pensados, mas não ocupam o primeiro lugar. Nós queremos dar mais importância ao desenho urbano em seu conjunto. Nós quisemos desenhar os detalhes, mas eles devem aparecer em um segundo plano. Na Bicocca fizemos um trabalho muito importante em termos de detalhes: eles foram cuidadosamente desenhados para que não houvessem diferenças entre o conjunto e o detalhe, que deve ser reconhecido nas diferentes escalas

MB: De modo geral, qual é o início do processo projetual ?

VG: Antes de mais nada nós olhamos o entorno. E a relação entre o que devemos construir com o entorno. Não só do ponto de vista da percepção, mas também em relação às tradições, como a cultura e o modo de pensar. Por exemplo, atualmente estamos trabalhando na África do Norte. Analisamos qual significado tem aquele lugar em relação à cultura do lugar, a relação com o sítio. Não significa que quando nós analisamos o contexto temos que fazer algo de parecido, muito pelo contrário. Mas para fazer algo é necessário conhecer e criar um diálogo. Muito freqüentemente, após ter desenvolvido um projeto e até te-lo detalhado nos mínimos particulares, se recomeça tudo de novo: é como trabalhar com os tecidos – se vai para frente e para trás.

MB: Qual o papel do cliente no desenvolvimento dos projetos?

V.G.: O cliente é importante, mas freqüentemente se encontra o cliente com o qual não existe um diálogo cultural. Isto torna tudo muito difícil, porque se pode enganar o cliente, podemos fazer de conta que concordamos com suas exigências e depois fazer outras coisas, mas isto é cansativo e não produtivo. No caso da Bicocca tivemos muita sorte porque os clientes são culturalmente homogêneos com o que nós pensamos sob vários pontos de vista. Foi possível dialogar com sinceridade. Uma das coisas mais difíceis é encontrar um bom cliente.

MB: Come é construir em Milão?

VG: É muito cansativo e muito difícil. Tem uma série de impedimentos e tenho que confessar que as dificuldades são constantes. Por uma lado, a população é muito surda, pouco interessada ao ambiente que está entorno, com as qualidades morfológica, física e formal. Ela está interessada que haja menos poluição, mas isto faz parte de outro aspecto. A população em geral é muito precavida em relação aos arquitetos e às suas idéias, e com certa razão, afinal já foram feitos muitos desastres nos últimos 50 anos. Isto representa um obstáculo, um freio, na realidade a população é muito conservadora e não quer que os valores e direitos adquiridos sejam alterados, mesmo que a mudança seja para melhor. Esta espécie de situação conservadora da opinião pública se reflete também nas instituições devido aos partidos políticos, que para angariar mais votos, não contradizem a população, criando dificuldades ulteriores. Tanto é verdade que nos últimos 15 anos, em Milão, as únicas obras construídas importantes foram a Feira e a Bicocca.

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