Ana Paula Baltazar: Archis sempre foi uma publicação de arquitetura "diferente": primeiro pelo formato e design gráfico, e principalmente através de seu conteúdo. Eu gostaria que você comentasse sobre as razões e efeitos da mudança de editora, tais como o caráter celebrativo do NAi em contraste com a visão crítica expressa pela Archis, e a tentativa de promover uma revista mais interativa com o novo formato editado pela Artimo. Como você vê o impacto do novo formato para o público (compradores usuais e novos compradores) e quais as principais diferenças de abordagem entre NAi e Artimo com relação a forma e conteúdo?
A maioria das publicações arquitetônicas geralmente se consideram críticas. É interessante a abordagem celebrativa da arquitetura Holandesa proposta pelo NAi, e parece "vender" muito bem no mundo todo (eu tenho visto os livros anuais deles para todo lado). Como você vê as tendências do jornalismo arquitetônico em geral, e especificamente como você vê a Archis nesse contexto? Como você aborda a especialização na arquitetura sem perder de vista a abordagem genérica necessária para manter uma visão social ?
Ole Bouman: Archis sempre foi uma revista reflexiva. Contudo, ela tinha que lidar com dois fatores que eram progressivamente hostis a essa tradição. Primeiramente, como um produto no mercado, ela era posicionada pela editora a partir de um ângulo muito especificamente orientado para um nicho. Elsevier queria produzir um título para a comunidade de designers holandeses, e toda a política em termos de marketing derivou dessa idéia. Entretanto, a editora tinha urgência em aumentar suas magens de lucro. Ambas as tendências eram ruins para um título que estava determinado a explorar arquitetura como ela poderia ser, em vez de publicar como ela é.
O outro fator está relacionado à cultura na qual arquitetura é reduzida à produção de umas poucas estrelas. Seria muito fácil capitalizar em cima da fama e popularidade da arquitetura holandesa, enfatizando infinitamente o trabalho dos top 10 da nação. No entanto, nós sentimos como nossa responsabilidade pública antecipar futuros potenciais da arquitetura, em termos de mandato e estratégia, no intuito de ajudar a disciplina continuar a florescer. Essa ambição é complicada, e algumas vezes mal interpretada, por ser sempre baseada em colocar novas questões, testar reputações e definir novos territótrios. Nada é dado por garantido.
Tornando-se independente e com a nova editora Artimo, Archis pode renovar as ambições mencionadas acima além de ter um posicionamento mais claro quanto a elas. Nós começamos a almejar uma revista que estimule e teste o espaço mental dos seus leitores, oferecendo "momentos" interativos na revista. No próximo ano esta política será expandida com a introdução de um ambiente virtual que complete o triângulo dos espaços mental, físico e rede (network). Nós temos grandes esperanças de que essa ambição seja um sucesso, sendo reconhecida pelas pessoas mais aventureiras engajadas com arquitetura pelo mundo afora. Contudo, pelo caráter sempre experimental desse trabalho, nós nunca podemos aspirar entrar no mercado de massa.