Ana Paula Baltazar: Como você vê criticamente a arquitetura holandesa e seus impactos na cena mundial (considerando que a própria maneira que ela se vende através da celebração gera um impacto), e principalmente como você situa o trabalho de Koolhaas no cenário da "overdose" de imagens (muitas vezes vendidas como conceitos) da arquitetura contemporânea, especialmente na arquitetura holandesa? (o comentário sobre Koolhaas é uma sugestão de Abílio Guerra)
Ole Bouman: O que deve ser evitado é confundir o sucesso da arquitetura Holandesa com o sucesso da proliferação de estratégias de mídia pelos arquitetos Holandeses. Estas são duas coisas completamente diferentes. Se estamos falando de edifícios atuais, há na Holanda, como em qualquer outro lugar, e como sempre, exceções que provam a regra. As exceções tem sido feitas por uma geração relativamente bastante talentosa tanto de designers quanto de clientes. A regra é a insensata produção em massa de esquisitices (funnies) arquitetônicas e galpões pragmáticos.
APB: Ser crítico e ter um objetivo bastante específico quanto a redefinição de arquitetura como mídia cultural (como você tem abordado) não parece ser uma tarefa fácil, principalmente quando isso envolve a a manutenção de uma publicação cara como a Archis. Além de ser o editor chefe da Archis, você também colabora nos desenvolvimentos práticos dessa nova cultura da arquitetura além da escala do edifício como objeto. Eu gostaria que você conectasse o papel da Archis com sua própria prática na direção do potencial da arquitetura como mídia contemporânea. Até que ponto a abordagem crítica da Archis é influenciada pelo seu involvimento prático em projetos como transPORT 2001 (e outros que você esteja envolvido), e como você vê a inserção e influência de tais projetos na arquitetura mundial?
OB: O que poderia ser um efeito colateral decisivo da midiatização da arquitetura refere-se ao fato de que no final das contas, arquitetura (design arquitetônico) pode ser trabalhada muito melhor com estratégias de publicação do que através de projetamento do espaço (designing space). Na nova era, arquitetura e publicação estão ambas focadas na criação de relações sociais e semióticas. Não há mais distinção entre produção primária e cobertura secundária. Há também uma minguante distinção entre o físico e o cibernético. Essas esferas tendem a mergir-se até que a distinção seja de todo esquecida. Se isso é verdade, então haverá uma prática completa. A minha participação em trabalhos de design não é "minha outra prática", mas uma outra modalidade da mesma ambição: criar relações sociais de forma significativa, liberadora e crítica. Produzir domínio público.