Antônio Agenor de Melo Barbosa: O senhor que já exerceu cargos importantes aqui no Estado, qual é a sua relação com o Rio de Janeiro atualmente?
Ronaldo Costa Couto: Sou apaixonado pelo Rio. É minha cidade do coração. Desde a adolescência, nunca perdi o contato com ela. Referência de vida inteira. Tenho um filho carioca de nascimento e outro de coração. Parte muito querida de minha família vive no Leblon. Alguns dos meus melhores amigos e amigas são cariocas. Nascidos ou não no Rio. E muitas das melhores lembranças e esperanças. Portanto, ainda me resta o direito de opinar. Mesmo sem certezas e com muita humildade.
AAMB: Sendo assim, o que lhe parece mais importante para o Estado do Rio de Janeiro hoje?
RCC: O crescimento continua fundamental. Mas acima de tudo é preciso combater a pobreza. Não é apenas por razões de justiça social, aliás mais do que suficientes. É também por inteligência, pela qualidade de vida, por tudo. Não há nada mais importante. Vivemos numa sociedade perigosamente doente. É preciso mudar isso. Há também as graves questões de segurança pública, ambientais, urbanas e outras.
Permito-me radicalizar uma vez na vida: sem educação, não há salvação.
AAMB: O Senhor participou ativamente de um importante período da história recente do Brasil que foi a transição do Regime Militar para a abertura democrática, durante a década de 80. Como o senhor avalia o atual cenário político do Brasil?
RCC: O que há de melhor é a certeza de que a democracia chegou para ficar. Há liberdade política. O pior? Não tenho dúvida: o mar de pobreza do país, o subdesenvolvimento, a péssima distribuição da renda social, o alto grau de desemprego aberto e disfarçado. Somos a décima economia do mundo, mas ainda há milhões de brasileiros na miséria e sem esperança. Mais? O diabo danado da impunidade, da corrupção, da violência urbana e outras desgraças. Ufa!
AAMB: Como economista e historiador, qual o futuro que o senhor vê para o Brasil? O Brasil vai obter a projeção que tanto almeja ou ainda estamos longe de um desenvolvimento?
RCC: O país pode ser muito melhor. Isso depende mais de nós brasileiros do que dos outros. A questão política é fundamental. Por isso é tão importante votar bem (quando dá: às vezes as opções são terríveis). Amor ao Brasil, competência e dedicação são fundamentais. Seriedade também. O grande Capistrano de Abreu certa vez propôs uma Constituição assim: “Artigo 1º. Todo brasileiro é obrigado a ter vergonha na cara. Artigo 2º. Revogam-se as disposições em contrário”.
AAMB: O que o senhor julgaria como um assunto interessante para um próximo livro? Existem planos concretos para um próximo trabalho?
RCC: Estou trabalhando agora no fenômeno Matarazzo, história do maior conglomerado empresarial brasileiro de todos os tempos. Uma baita história. Tem de tudo. Uma delícia.