Antônio Agenor de Melo Barbosa: Este ano de 2002 é o ano do centenário do Presidente Juscelino Kubitschek e do Urbanista Lúcio Costa, dois dos criadores de Brasília, digamos assim. O seu livro mais recente é Brasília Kubitschek de Oliveira. Que tipo de questões o livro aborda?
Ronaldo Costa Couto: O livro conta um pouco do que foi e fez Juscelino. Mostra, por exemplo, por que ele construiu Brasília e tão depressa. Avalia os reflexos dela nos rumos e no desenvolvimento do país. Discute se ela valeu a pena, quanto custou. Capital da roubalheira e da inflação ou segunda descoberta do Brasil? Recupera um pouco do debate sobre a mudança da capital, que pegou fogo na época. Mostra quem era a favor ou contra e por quê. Explica como e por que JK, o presidente mais feliz que o Brasil teve, depois sofreu tanto e morreu três vezes.
AAMB: JK morreu três vezes?
RCC: Sim. Duas morreu em vida. Mortes longas e dolorosas. A terceira, instantânea, foi no quilômetro 165 da Via Dutra, perto de Rezende, em 22 de agosto de 1976. Desgovernado, o Opala em que ele ia de São Paulo para o Rio atravessou o canteiro central e bateu numa carreta de 12 rodas que vinha na outra pista. Choque brutal, horrível. Morreu na hora. Há quem considere esse acidente suspeito, provocado, criminoso. Mas essa é outra história...
AAMB: Mas o livro entra no assunto, não é?
RCC: Era inevitável. Pois ele traz um pouco da vida, paixão e morte de JK.
AAMB: Mergulha fundo na história de Brasília?
RCC: Resume a história toda da mudança da capital e da construção de Brasília. Desde as idéias dos Inconfidentes mineiros. Um pouco da história de vida de JK. E fala de outros construtores de sonhos. Como Oscar Niemeyer, Lúcio Costa, Israel Pinheiro, Bernardo Sayão, Burle Marx, candangos. Há também dezenas de historinhas. Muitas delas divertidas, algumas comoventes, outras tristes. Trata de realizações, conquistas e glórias, pesadelos, lições de manhas e artimanhas políticas, pioneirismo e entusiasmo, amor e ódio, dor, paixão e frieza, alegria e tragédia.
AAMB: Tem muita história oral?
RCC: Sim. Mais de cinqüenta entrevistados ajudam a contar essa grande história. Do arquiteto Oscar Niemeyer ao Embaixador Walther Moreira Salles; do valente candango Seu Zé até o ex-Ministro Roberto Campos. Claro que a historiografia foi levada em conta. Há obras sérias e interessantes sobre os dourados Anos JK e Brasília. Algumas, ótimas. E há também muitos documentos. Ainda bem.
AAMB: Por que Brasília Kubitschek de Oliveira?
RCC: Por que Brasília é filha de Juscelino. É dele, paixão dele. Nasceu com a cara dele.
AAMB: Por que razão, afinal, JK fez Brasília?
RCC: A meu ver, não foi por uma só razão. Mas várias. Uma delas? Ele adorava o Rio, mas estava muito preocupado com a vulnerabilidade do governo. Com a governabilidade. O Rio era um paiol de pólvora. Os reflexos da Guerra Fria pesavam muito. Agressividade e intolerância política, guerra ideológica. A costura política kubitschekiana foi hábil e paciente, mas firme. Ele atravessou campo minado. O intervencionismo militar estava na moda, ameaçava. A oposição era muito forte e contundente. Com Brasília, ele redefiniu a agenda política, deslocou o eixo das discussões. Esse assunto é bastante discutido no livro. Mas ela foi muito mais. Por exemplo: mudou a direção e o sentido do desenvolvimento nacional. A avaliação do projeto não cabe em análise convencional de custo/benefício. É decisão estratégica, tomada de olho num futuro brilhante para o país. O olhar de JK.