Jorge Mario Jáuregui: Como o senhor entende a trajetória da Arquitetura Moderna no novo continente e qual seria a relação com a Modernidade no sentido da articulação do edifício com a cidade?
Tomás José Sanabria: Não consigo entender arquitetura a partir de um rótulo. Para mim a arquitetura deve ser sempre contemporânea. Desde muito cedo me chamou a atenção a simplicidade da nova arquitetura criolla e sempre me agradou o fato que por escassez de recursos, os materiais eram usados segundo as circunstâncias propiciavam. Quase todos os povoados e casarios eram brancos caiados, com os tetos de madeira com beirais de proteção e cobertos de telhas (diferentemente da arquitetura do México, Brasil ou Peru, com suas ricas culturas em tradição e materiais).
Segundo as possibilidades de recursos, apropriava-se de elementos inspirados na arquitetura espanhola, simples ornatos que puderam contribuir na conformação de magníficas composições.
Naquela época, eu economizava dinheiro para visitar povoados e fazer croquis de paisagens urbanas que me chamavam a atenção: uma grande arvore e sua relação com as construções vizinhas, as pequenas igrejas e seus espaços públicos, etc.
Mais tarde, quando finalmente freqüentei a Escola de Arquitetura, onde existia disciplina, onde me exigiam tarefas específicas, me vi obrigado a deixar de lado o romance. Foi quando eu entendi o significado do Desenho e tive a grande sorte de ser aceito na Graduate School of Design, na Universidade de Harvard.
Estávamos no final da Segunda Guerra Mundial. A Escola toda tinha no máximo uns 30 alunos e era dirigida por Walter Gropius. Além dele, também davam aulas Martin Wagner, I. M. Pei, Hugh Stubbins e Marcel Breuer. Como os professores não tinham encomendas, dedicavam-se integralmente ao ensino, o que resultava no estreito contato entre os mestres e os alunos. Eu me sentia num mundo incrível, onde nos era exigido grande esforço e muita destreza. A cada dia me sentia melhor, mesmo que o tempo fosse escasso para aprender e trabalhar em tantas novas disciplinas. Não tínhamos férias, pois as escolas tinham que se preparar para abrigar a grande demanda de novos alunos que deixavam a frente de combate.
Quando recebi o meu diploma de arquiteto e regressei para a Venezuela, não sabia para que tinha ido estudar arquitetura. Eram tantas as dúvidas que não tinha ainda muito claro como me portar profissionalmente. Tinha bem claro o credo a seguir, mas não como aplicá-lo. Deparei-me com um meio muito atrasado, sem maiores atrativos, no qual a profissão era desconhecida ou desprezada, situação que me levou a criar o primeiro escritório de arquitetura da Venezuela.
A funcionalidade foi a base da minha formação e, na medida do possível, fui incorporando novos conceitos à realidade da cultura local, tais como a simplicidade e o respeito pelo homem e pelo ambiente urbano.
Nessa época, quando estudávamos, existiam bem pouco livros de arquitetura contemporânea. Lembro-me de um sobre Le Corbusier e um outro, que comprei em 1945 e que me impressionou muito: Brazil Builds, publicado em 1944. Este livro fez que renascesse meu amor pelo que é nosso, pelo latino-americano, ao mesmo tempo que entrevia a nova filosofia, a contemporaneidade que acabara de aprender nas obras executadas pelos brasileiros nos anos 30.