Stefano Ferracini: É comum adjetivar as obras italianas como similares às portuguesas, holandesas, espanholas, etc. Existem, pelo contrário, pontos de referência nacionais? Pode-se definir uma arquitetura italiana?
Camillo Botticini: Estava a projetar juntamente com o meu colega Paolo Mestriner uma praça de um pequeno centro nos montes perto de Brescia. A administração queria uma intervenção leve, mimética, ecológica, que pudesse ser uma resposta ao caos que se encontra em volta. Nós, em resposta estávamos a estudar a arquitetura japonesa, como a de Ito ou Sejima, na procura de referências para uma possível proposta.
Neste sentido reparamos na distância que estes exemplos tinham em relação ao contexto específico italiano: em primeiro lugar relativamente às qualidades dos mestres japoneses, mas também em relação à capacidade intrínseca da natureza “italiana” de não se afastar dos traçados históricos, de tentar procurar sempre um sinal e de ter uma espécie de DNA urbano que fundamenta o nosso operar na definição dos espaços.
Acho que tal característica tem que ser considerada como uma especificidade dos arquitetos italianos, temos de começar deste ponto.
SF: Esta é uma consideração importante num processo onde a única arquitetura que parece ter valor nas publicações é aquela sem contexto, mas existe ainda quem considere a cidade e o construído como ponto de partida…
Uma questão ainda sem resposta é como reagir em relação à perda da qualidade do urbano, tentar seguir o caráter do lugar para propor um projeto com capacidade de rivalizar um espaço existente e complexo.
Na Itália, a história, a morfologia do território e tudo que existe têm de ser visto em maneira crítica, nada deve ser deitado fora, tudo é uma referência. A arquitetura tem de se repropor como resposta concreta e coerente à envolvente e não para fugir aos problemas que se encontram em volta. A questão principal não é refazer o Moderno, mas como utilizar todos os materiais disponíveis e as nossas referências culturais para evitar o desastre e sobretudo superando a incapacidade de enfrentar o caos.