José Wolf: Quais são os principais pontos de sua plataforma?
Arnaldo Martino: O objetivo central é a valorização da Arquitetura quanto à sua função social e cultural, entendida como um componente indispensável para a construção e o desenvolvimento da nossa sociedade através da criatividade, da promoção da qualidade ambiental e da contribuição para uma cultura urbana apropriada e genuinamente brasileira. As frentes de luta serão muitas, dentre elas:
A requalificação da Arquitetura, em uma discussão com a própria sociedade, esperando superar a futilidade e o glamour estimulados sobretudo com a ajuda de uma mídia apenas voltada para o mercado. Trata-se de mostrar o valor do Arquiteto em virtude das suas competências únicas e específicas no campo das artes e técnicas da construção, do conhecimento do Urbanismo e do respeito ao ambiente natural;
A valorização do trabalho do Arquiteto que passa pela afirmação e reconsideração do Direito Autoral;
A melhor condição de contratação do trabalho profissional, mediante a democratização do acesso aos contratos públicos e com remuneração digna e justa;
A ampliação da luta pelo concurso público para o acesso aos importantes trabalhos de Arquitetura, buscando como sempre na história do IAB, a formação de júris independentes e representativos da pluralidade profissional;
A contraposição às imposições dos órgãos públicos nas licitações para serviço técnico especializado decididas pela seleção de propostas somente por menor preço, com prazos políticos irrealizáveis, recorrendo a edificações padrão grotescas e que enfeiam a cidade, além dos honorários calculados por metro quadrado de desenho e outras barbaridades idênticas. Esses são comportamentos governamentais que dilapidam a economia pública, pois o desapreço pelos projetos bem feitos e completos, impede a obtenção da boa qualidade final das obras para as quais, paradoxalmente, os investimentos em construção, e os custos em uso e em manutenção, que não são pequenos, ainda são acrescidos pela incúria, desleixo e negligência de certos administradores sem imaginação;
A discussão quanto a formação dos novos quadros, relativamente as diretrizes curriculares, as qualificações profissionais e as quantidades compatíveis com as demandas sociais e econômicas;
A melhoria da ação do IAB como entidade de apoio aos Arquitetos, principalmente os mais jovens, criando cursos gratuitos ou subvencionados de aperfeiçoamento e especialização, e um banco de dados curriculares, de escritórios e de empresas, tentando facilitar o acesso ao trabalho e aos estágios; um apoio técnico e jurídico para a contratação de serviços profissionais; e ainda uma assistência especializada para a aplicação dos cada vez mais complicados e intrincados Códigos Urbanísticos e de Edificações, etc;
A criação de um novo código de ética do IAB, no qual este possa se posicionar mais claramente na defesa dos Arquitetos; nas relações profissionais com lealdade na competição, e contra as posturas que levam à um aviltamento dos trabalhos e ao prejuízo da qualidade da Arquitetura;
O engajamento na discussão da revisão do Plano Diretor da cidade de São Paulo e da produção e atualização dos Planos Diretores das demais cidades do nosso Estado;
O estabelecimento de um sistema de comunicação eficiente de forma a divulgar amplamente as informações, como instrumento de esclarecimento do público e de democratização da profissão;
A atuante participação do IAB através de suas representações nos Conselhos Municipais e Estaduais e da Região Metropolitana, apoiadas em comissões permanentes de Arquitetos que aprofundem as questões e subsidiem o posicionamento dos representantes na condição de opinião institucional.
Um aberto relacionamento com as outras entidades representativas: FNA, ABEA, ASBEA e ABAP, e apoio e luta pela criação do tão almejado Conselho de Arquitetura e Urbanismo.
JW: Como tornar o IAB mais visível e acessível junto à mídia e à sociedade civil?
AM: O IAB deve fazer-se presente, divulgando as opiniões mais representativas dos Arquitetos, não apenas os óbvios consensos que nem sempre são possíveis, mas também as polêmicas e justas contraposições cujos conteúdos ainda estiverem em debate; trata-se de abordar os fatos relevantes do nosso cotidiano urbano, nos quais são notáveis as implicações ambientais e sociais, seja em resposta às demandas solicitadas, seja antecipando e discutindo questões que deverão orientar políticas públicas para médio e longo prazos e diretrizes futuras em relação às cidades. As Bienais Internacionais de Arquitetura são grandes momentos e oportunidades para este debate e exposição na mídia; quanto a elas, pretendemos iniciar imediatamente o projeto da VII Bienal, abrindo esta discussão já no início do próximo ano, para formular um modelo de Bienal compatível com esta função de prestígio na imprensa e esclarecimento do público que, de certa forma sempre será nosso cliente.
JW: Qual a relação com os Núcleos do Interior?
AM: O IAB de São Paulo já tem uma efetiva estrutura estadual, congregando os Arquitetos que vivem e atuam fora da sede que está na capital. Os núcleos têm uma participação importante dos profissionais locais e uma inserção social efetiva e altamente considerada nas suas respectivas regiões. O reconhecimento deste importante fato, fez com que se abrisse agora, pela primeira vez, grande espaço de participação dos colegas que moram e atuam profissionalmente no interior, na composição da nossa equipe de Diretoria e do Conselho Superior. Confiamos em uma ótima interação com os colegas integrantes dos Núcleos. Deve-se ainda ressaltar a importância do outro instrumento institucional de deliberação que é o Conselho Estadual; ele será intensamente operacionalizado, como forma de inserção ampla dos interesses dos Núcleos.