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interview ISSN 2175-6708

abstracts

português
Andrea Macadar entrevista o arquiteto Paulo Mendes da Rocha, ganhador do Prêmio Pritzker 2006, numa conversa sobre a arquitetura do Pavilhão do Brasil, construído na Feira Internacional Expo’70, na cidade de Osaka, Japão

english
Andrea Macadar interview the architect Paulo Mendes da Rocha, winner of the Pritzker Prize in 2006, in a conversation about the architecture of the Brazil Pavilion, built at the World Expo '70 in Osaka, Japan

español
Andrea Macadar entrevista al arquitecto Paulo Mendes da Rocha, ganador del premio Pritzker 2006, en una conversación sobre la arquitectura del Pabellón de Brasil, construido en la Feria Internacional Expo `70, en la ciudad de Osaka, Japón

how to quote

MACADAR, Andrea. Paulo Mendes da Rocha. Entrevista, São Paulo, ano 07, n. 026.02, Vitruvius, abr. 2006 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/entrevista/07.026/3302>.


Estádio Olímpico, candidatura de São Paulo para Olimpíadas de 2012. Arquiteto Paulo Mendes da Rocha e MMBB Arquitetos

Andrea Macadar: Com relação à questão política, você acha que teve alguma relação importante naquele momento, impressa no Pavilhão de Osaka? Algum conceito proposital a exprimir, ou alguma outra frente... Já escreveram tanto sobre esse assunto... É um assunto que me intriga e realmente gostaria de ter isso mais claro!

Paulo Mendes da Rocha: Em que sentido? Em relação à Ditadura Militar?

AM: Exatamente. Se o Pavilhão teve alguma referência direta?

PMR: O Pavilhão teve para eles. Para nós, era só expressão de liberdade. Bloquearam o propósito da mostra interna que era justamente o ensaio sobre a idéia da consciência, sobre ocupação dos espaços na América pela civilização de um modo geral, e coisas do tipo. Para nós, não era uma intenção de confronto, era simplesmente um exercício da liberdade. Eles interditaram praticamente o Pavilhão para não ficar mal para o Brasil construir a parte edificada de pedra e cimento, digamos em ferro. Mas não mandaram contratar uma empresa para fazer uma “exposiçãozinha mambembe” como sempre se fez, de “berimbau”, “rede” e “tendas de índios”,essas coisas.

AM: No inicio não era algo que saiu de dentro, como se quisesse também demonstrar, lá fora, o que estava acontecendo aqui no país?

PMR: Não, não seria o caso...

AM: Não teria nenhuma relação...

PMR: Não nasceu nada por isso! Não era um pavilhão feito contra a Ditadura Militar, de jeito nenhum... A Ditadura Militar que era contra a liberdade e a expressão da inteligência brasileira. É diferente...

AM: A interpretação era deles, no caso? No seu caso a sua arquitetura ela não tem assim, vamos dizer, essa coisa de querer ir contra?

PMR: Tem, de querer ir contra, você pode dizer que tem, para eles tem. Tudo que é livre... Quem reprime a liberdade... Mas não era panfletária se você quiser, não fazia parte de um movimento contra a ditadura... Eu fui cassado pelo AI5... Eu fazia parte como muitos filósofos, professores na universidade, colegas. Por essa razão ou aquela razão. Eram obstáculos à implantação de um regime fascista, de fundamentos repressivos fascistas.

AM: Retomando a parte conceitual do Pavilhão em Osaka. Com relação à representação nacional, o senhor acha que não teria e não tem porquê, vamos dizer, uma arquitetura que deva ser nacional lá fora? Isso aí estaria fora de cartaz, vamos dizer... Não estaria relacionada diretamente ao que estava se fazendo aqui naquele momento?

PMR: Essas questões são muito delicadas, mas eu nunca vi assim. De qualquer maneira, elas mudam, no tempo, esses conceitos... Ou pelo menos o conceito propriamente não, mas a ação das pessoas. Eu acho que talvez não volte nunca mais, porque essas coisas não voltam para trás. A afirmação de peculiaridades especificas daquela cultura, ao contrário das diversidades culturais, tem que demonstrar que todas, cada uma a sua maneira, almejavam justamente esse encontro definitivo do habitante no planeta. Naturalmente você jamais construirá nada nas regiões polares árticas do mesmo modo que constrói nas costas mediterrâneas ou nas nossas cálidas e deliciosas praias. Isso é mais ou menos óbvio. Por outro lado não faremos, com certeza, palácios de blocos de gelo como um “iglu” de camponês no lugar do esquimó. Isso que eu quero dizer, é que a técnica, a ciência e as artes do arquiteto são uma coisa só. Você vai fazer o oportuno. Se você tiver que fazer uma universidade na Amazônia, você vai saber perfeitamente que nessa universidade, de um modo muito peculiar, vai se especular sobre a natureza, e tudo isso. Portanto, é de presumir que uma grande parte dessa universidade seria dedicada à botânica, à vida vegetal e animal, e à vida no planeta de certas águas. Portanto, serão laboratórios refinadíssimos, com instrumentos que exigem climatização perfeita, microscópios eletrônicos, por exemplo, balanças de precisão total, centrífugas que se aborrecem até com a rotação da própria terra. Portanto, se você pensar que, porque está na Amazônia vai fazer uma universidade de pau a pique, como alguns arquitetos já pensaram, é uma ingenuidade total. Você não tem que representar mais que no macaco está a sua origem Já sabemos. Somos um homem contemporâneo, então você vai ter que fazer alguma coisa muito bem fundada no clima todo, naquelas terras frouxas e inundáveis, portanto turbilhões pneumáticos, estacas travadas, o clima todo, os ambientes absolutamente controlados do ponto de vista climático, o grau de umidade isso e aquilo. Por outro lado, tão transparente, de cristais, e tão belo, com a floresta tão encostada tão perto quanto possível, são problemas técnicos. Portanto, não vai fazer com a mesma madeira da floresta para dizer que esta fazendo uma arquitetura do lugar que representa... Isso é uma idiotice que não tem tamanho. O fio de prumo, por exemplo, não tem nacionalidade. Por isso você pode fazer um croqui aqui e construir depois lá no Japão. É essa a minha opinião. A presença fundamental e o grande encanto do momento que estamos vivendo da arquitetura. Isso não nos afasta da mais remota memória do passado, ao contrario; é justamente uma manifestação como conseqüência, já na expectativa, há muito tempo, esperada, por todo esse esforço que fizemos, digamos, desde o neolítico. É para isso, não é para demonstrar cada vez mais qual é a tribo desse macaco, ou qual é a tribo daquele outro. Isso não faz sentido nenhum.

AM: Você mesmo coloca essa mutação conceitual das próprias exposições como um caminho necessário. Qual a sua opinião em relação a este assunto? Ainda se justificaria esse tipo de exposição universal, no caso de Osaka, no mundo? O senhor acha que tem a mesma justificativa? Mudou em relação ao século passado, vamos dizer, do séc. XIX aos dias atuais, desde as primeiras que enfatizavam a troca, comércio e produtos? Você acha que hoje esse tipo de evento ficaria com esse mesmo conceito comercial ou mudou?

PMR: A minha impressão é a seguinte: que essas exposições do passado, tão comentadas e tão faladas, tiveram a sua importância. São inaugurações de uma idéia que já está consolidada e que se desdobrou na própria ONU, ONG’s, etc. Mas já deu os frutos que tinha que dar. Compreende? Isso não quer dizer que não tenhamos que voltar a outras formas originárias para futuros frutos. Entretanto, o mesmo tipo de exposição talvez seja tolice, já estamos carecas de ver um ao outro. Você aterriza no aeroporto do outro hoje em dia, quase que diariamente. Então essa exposição mundial está num “tour” que hoje se faz, aterrizando em Paris, depois em Roma etc... E você está vendo, pois hoje nós visitamos o mundo inteiro. Isso tudo ainda é muito recente. A América foi descoberta como quem diz a cinco, seis gerações atrás. É nada quinhentos anos. A explosão do universo, não representa coisa nenhuma. A nossa vida é muito breve. De qualquer maneira é a nossa vida e não temos outra, não podemos reclamar disso. É todo o tempo de nossa vida, é uma vida inteira. Mas as coisas andam de geração em geração, de século em século. Então para mim, essas feiras já deram os frutos que são esses, justamente, a estreita convivência dos dias de hoje entre as nações do mundo. Poderiam se fazer outros eventos com caráter de feira. Já estão fazendo sobre a cidade contemporânea, sobre isso, sobre aquilo, fórum social mundial. Esse é o fruto das feiras.

O padre Vieira tem discursos que eu guardei de cor, mas não porque eu seja um sábio que lê Vieira, não leio. Eu vi citado numa coisa muito bonita que comentava justamente cinema. Esqueci o nome do nosso querido cineasta que fez isso, infelizmente, mas todo mundo deve saber. Eu acho mesmo que era o projeto da vida do Vieira. Não sei se foi Nelson Pereira dos Santos quem que fez, mas ele deu uma entrevista sobre isso em que ele comenta que o próprio Vieira já tinha, nos seus discursos, uma visão absolutamente cinematográfica. Ele convocava as pessoas para entenderem o que ele estava dizendo em última estância, ou entre outras estâncias, com imagens. Ele estava falando justamente sobre as virtudes do discurso, como quem diz “eu estou falando tudo isso e vocês não estão entendendo, não levam a sério, não acreditam”. Então, lá pelas tantas ele diz assim: “quereis ver com os olhos de ver, então vede. A árvore possui raízes, troncos, galhos, ramos, folha, flores e frutos”. Ou seja, ele está jogando com os frutos, que aquilo frutifique. Então já frutificou.

Seria um pouco absurdo reservar imensas áreas não sei aonde e territórios para as feiras. Têm-se usado como argumento, nas últimas feiras, a idéia de modernização das cidades, o que eu acho no sentido da palavra, na minha opinião, uma infâmia. É como se fosse a necessidade de rede de saúde melhorada para atender às crianças, de transporte público para apaziguar as aflições da população e realizar mesmo a espacialidade da cidade contemporânea. O enfrentamento da questão da habitação acessível para todos é ineficaz! Os governos, os órgãos de decisão, a democracia na sua representação não se comovem com isso, simplesmente não fazem. Então eu preciso fazer uma estapafúrdia, uma “Feira Mundial” para mexer com a cidade. Eu sou absolutamente contrário a essa idéia, alimentar essa idéia. Porque o que sobra das feiras, geralmente, é um desastre. Isso, para os arquitetos é uma pena. Você comenta – pelo menos no pequeno dossiê que me mandou – a extinção dos CIAM’s, etc. É uma pena que não se mantenha esse tipo de fórum permanente como discussão de questões de arquitetura para comentar coisas desse tipo. Você move o capital e enriquece as empresas de turismo e outras tantas e larga um escombro que a cidade, mesmo ela, não tem condições de absorver aquilo tudo como útil para si mesmo, apesar de uma avenida ou outra, uma coisa ou outra servirem. Portanto, você produz justamente uma exibição de como é a classe dominante de um modo geral, os governos. Perdulárias em relação ao atendimento das questões cruciais da população que justamente contém essa demanda crucial. O desenho essencial da cidade. Eu acho uma estupidez fazer cidades com carnaval, feiras e coisas do tipo. É mesmo um museu extraordinário.

AM: Até mesmo as Olimpíadas, que já são um caso...

PMR: A Olimpíada pode-se dizer que também. Eu tenho a impressão que vai dar algum desastre. Mas, de qualquer modo, a história das Olimpíadas deve-se elogiar porque tem sido um fator importante na construção da paz. Mas também a tendência é degenerar por que já começa a questão da disputa dos prêmios, etc. De um modo exagerado.

Croqui para Pavilhão Brasileiro na Expo’70, Osaka, Japão. Arquiteto Paulo Mendes da Rocha

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