Antônio Agenor Barbosa e Juliana Mattos: E o Restaurante Rio´s também no Aterro do Flamengo. Como foi a sua concepção e implantação em um sítio tão privilegiado e com uma paisagem exuberante no entorno?
Marcos Konder: A questão do restaurante é a seguinte: Primeiro tínhamos que fazer tudo muito rapidamente, em apenas seis meses, e segundo eu tinha que construir uma obra que respeitasse a paisagem. Então parti para uma idéia que, do ponto de vista construtivo, é muito simples, ou seja, fácil de executar. Foi aí que pensei logo em propor uma modulação. Propus estruturas modulares de 5 x 5 metros. E também a minha maior preocupação era a de não fazer algo que fosse muito agressivo ou que aparecesse demais na paisagem. Então parti para a idéia das arcadas, que me pareceu a mais adequada.
Ah! E eu conto aqui uma história interessante para vocês que, de alguma forma me acompanha já há muito tempo. E talvez saia um pouco do centro da pergunta original mas acho que vale a pena relatar para vocês. Um dia desses eu estava numa copiadora fazendo reproduções de algumas imagens, croquis e outros desenhos que eu tinha do meu projeto do Monumento. Pois aí uma senhora se aproximou de mim e disse-me: “olha, eu acho lindo este Projeto. Fica ali no Aterro do Flamengo e, em minha opinião, é uma das obras mais bonitas do Oscar Niemeyer”.
AA / JM: O senhor também é o autor do Projeto do Edifício Sede da Prefeitura do Rio de Janeiro (o famoso “Piranhão”) no Bairro da Cidade Nova. Quais são as principais características que o senhor destaca neste trabalho? Recentemente o Prefeito César Maia mandou pintar com a cor laranja – a cor da Prefeitura, usada desde os uniformes das escolas municipais até na publicidade oficial – todo o coroamento do Edifício da Prefeitura. E lá no alto mandou escrever – em letras garrafais – o nome “Prefeitura” e também o endereço do Portal da Prefeitura na internet. Então eu pergunto: O senhor foi consultado a respeito desta “intervenção” que descaracterizou o teu projeto que é todo em concreto aparente e monocromático? O que o senhor achou desta idéia do Prefeito?
MK: Eu gosto deste apelido “Piranhão” (risos). Acho um apelido simpático e nada tenho contra. Ele faz referência ao fato de que aquela região onde foi construído o edifício era, originalmente, uma região famosa de prostituição naquela área que se chama Cidade Nova. Quanto à concepção eu fiz um projeto de um modo geral composto por um grande edifício e dentro de uma estrutura modular. Eu fiz ali na verdade dois edifícios que se comunicam horizontalmente e lá vocês poderão observar que existem duas prumadas de elevadores o que faz com que eles sejam independentes verticalmente.
E um outro aspecto que eu tinha receio era de que o fato de tratar-se de uma obra pública, esta poderia não ser bem executada e bem construída como em geral ocorre com este tipo de coisa no Brasil, infelizmente. Então eu parti para um projeto relativamente simples, sereno, baseado na tal estrutura modular que já mencionei. Mas, ao mesmo tempo, é um edifício que marca a presença na paisagem e criou, a meu ver, uma boa referência como Sede da Prefeitura Municipal.
E é um edifício muito funcional, parti para uma planta livre que pode ser adaptada como for necessário. E a estrutura é feita apenas por apoios externos que aparecem na fachada do edifício. E as tais colunas de apoio, que são côncavas, também recebem internamente toda a parte de dutos de infra-estrutura do edifício. É um projeto que eu gosto muito e que atende bem a uma função de edifício público.
Mas, infelizmente, o nosso pequeno imperador o César – o Prefeito César Maia – resolveu fazer aquilo que eu considero, como autor do projeto, uma barbaridade. Ele mandou pintar, sem que eu fosse consultado, no topo do edifício uma faixa enorme, cor de laranja, que é a cor da COMLURB (empresa de limpeza urbana do município), fazendo referência à Prefeitura e ao site da Prefeitura e etc. Um dia eu fui surpreendido por um repórter do jornal O Globo que me ligou perguntando se eu concordava com a faixa que havia sido pintada no topo do edifício. Eu confesso que tomei um susto ao ser informado. O que soube é que o Prefeito tinha a idéia de que a tal pintura fosse provisória mas, ao que parece, infelizmente ela já está lá há muito tempo descaracterizando a integridade do meu projeto. Espero que o próximo prefeito tenha o bom senso de tirar aquilo.