Antônio Agenor Barbosa e Juliana Mattos: Qual a sua avaliação sobre as intervenções urbano-arquitetônicas ocorridas no Rio de Janeiro na última década, tais como Rio Cidade e Favela Bairro? O senhor já foi consultado pelo Poder Público em algum momento para opinar a respeito ou para participar de algum projeto ligado a estes temas?
Marcos Konder: Eu não tenho sido muito consultado. Quanto ao Rio Cidade eu acho que é um projeto que cumpre sim suas funções embora seja tudo muito de natureza mais “cosmética” infelizmente. Mas acho que há um valor de fazer com que haja uma reflexão sobre as obras públicas na cidade, no espaço público, mesmo que eu não seja totalmente a favor de muita coisa que foi realizada. Mas eu até participei sim de uma equipe do Rio Cidade em que fizemos um projeto para a Rua São Clemente, no bairro de Botafogo, mas que nunca foi executada.
Quanto ao Favela-Bairro eu acompanho sim e acho que há um grande mérito neste programa. Eles foram desenvolvidos pelo Sergio Magalhães que é um arquiteto de valor. Mas este é, ao mesmo tempo, um programa perigoso, pois a meu ver parte da premissa de que aquilo que lá está na informalidade é algo bom e que cabe a nós apenas uma correção de certos parâmetros e etc. Quando na verdade não podemos achar que a favela é uma coisa totalmente positiva e digna de se viver. As pessoas só estão lá, como todos sabem, devido à falta de oportunidades de terem acesso a uma rede de crédito para financiar e construir suas casas em áreas mais dignas, organizadas e, sobretudo, bem servida por uma rede de infra-estrutura e de transporte. Mas isto ainda está muito longe de acontecer, infelizmente. De maneira que o Programa Favela-Bairro atua mais como um instrumento de correção de certas áreas mais desorganizadas e até perigosas do ponto de vista da segurança de algumas construções. E buscam, a medida do possível, levar algo de infra-estrutura a estes lugares. E sou a favor sim de uma política clara de controle da favelização da cidade.