Antônio Agenor Barbosa e Juliana Mattos: O senhor costuma acompanhar a produção arquitetônica contemporânea tanto no Brasil quanto internacionalmente? Como faz isso, através de leituras ou viagens?
Marcos Konder: Olha, estou com 79 nanos e você me pergunta de perspectivas de futuro. Acho engraçado. (risos) Mas me interesso ainda por muita coisa, gosto muito de música, faço minhas viagens onde aprendo muito, e ainda leio, estudo, desenho, pesquiso. Tiro muitas fotografias, faço algumas viagens e procuro sempre me atualizar. Mas não faço viagens de arquitetos “fominhas” que só querem ver arquitetura. (risos) Se houver uma obra de interesse que esteja no meu caminho e vou lá e visito. Mas me interesso por muitas outras coisas.
AA / JM: Quais as dicas que o senhor daria para o jovem que pretende estudar Arquitetura ou que já está prestes a se formar em Arquitetura e Urbanismo?
MK: Olha, eu tenho uma frase de efeito que sempre digo para os mais jovens: “Arquitetura não é profissão, arquitetura é devoção!”. E acho que isto resume não só o que eu fiz na minha vida de arquiteto como também o que eu acredito que seja um bom conselho para os mais jovens.
AA / JM: O senhor é um arquiteto muito requisitado para proferir conferências e palestras nas Faculdades de Arquitetura?
MK: Sim, mais até do que posso atender. E aqui quero registrar o meu protesto desta mania que se tem no Brasil de não remunerar os conferencistas. Não se reconhece, por exemplo, que um sujeito experiente, às vezes com mais de cinqüenta anos de profissão e já aposentado, vai sair da sua comodidade e não se tem o respeito em se considerar essa conferência como uma atividade produtiva e que, portanto, deveria ser bem remunerada.
Também sempre fui muito requisitado para ser membro de júri de concursos, já participei do julgamento de mais de 30 concursos, e sempre fui muito exigente com os trabalhos, chegando por vezes, a fazer voto em separado para que um projeto ao qual não acreditava ser bom e que já tinha o voto favorável dos outros julgadores, não ganhasse por unanimidade, pois nesse caso era como dizia Nelson Rodrigues, “toda unanimidade é burra”, e eu definitivamente acreditava que não se podia dar valor em excesso para um projeto que não merecia tal reconhecimento.