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interview ISSN 2175-6708

abstracts

português
Nesta entrevista, Alfredo Sirkis, ex-Secretário de Urbanismo da Cidade do Rio de Janeiro, fala de questões como sustentabilidade urbana, política ambiental para as cidades, e as ações da Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro nessa área

english
In this interview, Alfredo Sirkis, former Secretary of Urban Planning of Rio de Janeiro, talks about issues such as urban sustainability, environmental policy on cities, and the City Hall of Rio de Janeiro in this area

español
En esta entrevista, Alfredo Sirkis, ex Secretario de Urbanismo de la Ciudad de Río de Janeiro, habla de cuestiones como sustentabilidad urbana, política ambiental para las ciudades, y las acciones de la Prefectura de la Ciudad de Río de Janeiro en esta ár

how to quote

MAGALHÃES, Roberto Anderson M.. Alfredo Sirkis. Entrevista, São Paulo, ano 09, n. 033.01, Vitruvius, jan. 2008 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/entrevista/09.033/3290>.


Cidade do Samba
[fonte: Website Alfredo Sirkis]

Roberto Anderson M. Magalhães: Como você vê a sua passagem na SMAC e depois na SMU? O que você conseguiu alterar na SMU a partir da sua visão ambiental?

Alfredo Sirkis: A SMU tem mais poder que a SMAC. É mais abrangente. Em tese, você pode fazer mais coisas pelo meio ambiente na SMU do que na SMAC. No entanto, quando se compara os dois governos, o primeiro governo do prefeito César Maia foi mais realizador, e como reflexo, eu emplaquei, relativamente, mais projetos na SMAC do que eu consegui na SMU. Fizemos as ciclovias, o mutirão de reflorestamento, a criação, depois desfeita, de uma gerência de despoluição, que pela primeira vez passou a mexer com a questão da poluição hídrica dentro da SMAC. Essa gerência foi depois retirada da SMAC e colocada na RioÁguas. Foi um momento muito dinâmico. Mas a Secretaria em si é uma secretaria com menos abrangência do que a Secretaria de Urbanismo. A Secretaria de Urbanismo, sobretudo quando acumulada com a presidência do IPP, como eu exerci e que foi uma condição que coloquei na época para assumi-la, ela tem um poder mais abrangente sobre a cidade. Ela realmente mexe com os fundamentos, com o desenvolvimento urbano e, portanto, com conseqüências ambientais extremamente importantes.

O próprio pensamento vai evoluindo, de uma ecologia muito associada à idéia de áreas verdes, parques e praças, arborização, etc. para a questão da sustentabilidade urbana pensada como integrada com a questão econômica. Que tipo de investimento imobiliário num determinado bairro é o mais conveniente? Qual é o modelo urbanístico a ser adotado, se é um modelo de segregação de usos, como é o caso do Plano de Lucio Costa na Barra da Tijuca, ou se são conceitos de usos múltiplos integrados, como defende, por exemplo, a recém falecida Jane Jacobs e todas as pessoas que seguem o seu pensamento, o que é o meu caso. Então, fica claro que no urbanismo, em transportes, eventualmente, na fazenda, em obras, em educação, há muito o que fazer pelo meio ambiente. Então, volto a repetir: o ideal seria que no futuro a idéia de sustentabilidade e a consciência ambiental perpassassem de tal forma o conjunto da administração, que todas as secretarias fossem do meio ambiente também.

RAMM: Que ações desenvolvidas na SMU você ressaltaria como contribuindo para as questões ambientais?

AS: Em primeiro lugar ter emplacado aos trancos e barrancos, contra ventos e marés a noção de revitalização do Centro da cidade e da Área Portuária. Não se desenvolveram exatamente como eu queria, houve vários problemas. Houve o problema do Guggenheim, por exemplo. Mas de qualquer maneira, se olharmos para o centro da cidade hoje e olharmos a cinco anos atrás, podemos perceber claramente um processo de revitalização em curso: o Circo Voador, o Centro de Convenções da Cidade Nova, o Rio Cidade da Rua do Lavradio, o Rio cidade da Rua do Riachuelo, e os investimentos privados que foram induzidos. O grande projeto residencial Cores da Lapa, na Lapa, modernos prédios de escritórios no Centro da Cidade, como é o caso da Torre Almirante e agora da torre Tishman Spyer, o Hotel Ibis Fórmula 1, dois hotéis que estão sendo feitos na Avenida Marechal Câmara, a Sala Vivo-Rio no anexo do Museu de Arte Moderna, ou seja, o Centro está se revitalizando, a Área Portuária também. Tem ainda a Cidade do Samba. O primeiro grande empreendimento para a revitalização da Área Portuária, a Vila Olímpica da Gamboa, isso tudo não tinha. Em 2000 o Centro era considerado uma área esvaziada, decadente, que estava condenada a morrer, e aí o novo centro surgiria na Barra da Tijuca, como teorizavam alguns empresários (1).

Houve, também, a criação de duas estruturas na SMU, que a longo prazo vão ter um efeito extremamente importante. Do ponto de vista do controle, a Gerência de Operações Especiais, já que no passado a SMU não exercia uma ação punitiva, e as transgressões aos seus embargos ficavam impunes. Nesta administração isso acabou. Fizemos uma porção de demolições administrativas, algumas de prédios inteiros. Uma outra questão importantíssima foi a criação da Gerência de Regularização Urbanística, o Pouso, com a possibilidade de se passar a trazer favelas e loteamentos para a legalidade urbana. A urbanização como primeiro passo através do Favela Bairro e Bairrinho, complementados por uma ação específica de regularização, inclusive com a criação de regras para poder construir legalmente no que é hoje essa cidade informal.

Então, eu diria, passando assim como gato sobre brasas, que essas foram as realizações mais importantes. Acho que poderíamos ter feito mais se não tivesse havido alguns problemas, sobretudo com relação à revitalização do Centro. A questão das ciclovias, por exemplo, foi uma bola dividida. Eu tentei trazer o planejamento e a execução cicloviária para o IPP, mas não consegui. Ficou no Meio Ambiente (SMAC) e deixou de ser prioridade, mas enfim, acho que deu para avançar e acho que a minha ação na Secretaria de Urbanismo foi mais abrangente. O poder da Secretaria de Urbanismo é maior.

RAMM: Mas o que mais foi feito em termos de normatizações, como o Decreto das Águas Pluviais?

AS: Uma das coisas que se criou foram as APACs que foram concebidas na SMU, como a do Jardim Botânico e a de Botafogo, e a ampliação da APA da Lagoa, que na prática é uma APAC. Elas foram conduzidas dentro de um processo participativo, onde os moradores opinaram, através de várias audiências e reuniões triangulares entre a Prefeitura, as associações de moradores e os construtores. Conseguimos soluções que, ao contrário da APAC do Leblon, não são contestadas por ninguém. Não se vê gente com problemas em relação à APAC do Jardim Botânico. Ou em relação à ampliação da APA da Lagoa. Enquanto isso, com relação às outras, eu mesmo soube pelo Diário Oficial. Como é o caso da APAC do Leblon. E até hoje ela tem gerado conflitos.

Então, o que conseguimos basicamente em termos de política urbanística foi conter o ritmo da construção civil na Zona Sul, nas áreas de classe média, onde o ritmo demasiadamente aquecido e o volume demasiadamente grande criava um certo comprometimento da qualidade de vida. Por outro lado, induzimos a um investimento maior no centro da cidade, e em outras áreas como o Grande Méier, por exemplo. Então, acho que houve um reequilíbrio do investimento. E no caso da Barra da Tijuca, o investimento continua indo para lá. Eu acho que a infra-estrutura ambiental da Barra da Tijuca e Jacarepaguá não melhorou. E isso se deu, sobretudo, em função do bloqueio do empréstimo do G-Big, que o Governo Federal bloqueou. E isso é um problema, porque essa vertiginosa expansão da Barra da Tijuca está chegando a um limite de sustentabilidade, muito mais em função de um modelo urbanístico do que do volume que você tem lá. A Barra da Tijuca tem o paradoxo de ao mesmo tempo ter uma baixa densidade e, no entanto, existir a sensação de super saturação, dada pelos impasses no sistema de transportes. A Avenida das Américas foi quadruplicada, a Avenida Airton Sena foi duplicada, construiu-se a Linha Amarela, que supostamente seria a solução para todos os problemas, e hoje aquilo continua um engarrafamento só. Por que? Porque existe uma dependência total em relação ao automóvel. E não existe a densidade suficiente para você viabilizar economicamente, com facilidade, o transporte de massa sobre trilhos. Então, é um paradoxo, você ter uma área de baixa densidade com absoluta super-saturação, por causa do modelo de segregação de usos. Na Barra da Tijuca, para você comprar uma caixa de fósforos, você precisa pegar o carro e ir para o shopping.

RAMM: Falando, então, de Barra da Tijuca e desse modelo de expansão da cidade para novas áreas, de alguma forma, vocês tentaram conter essa expansão? Houve tentativas de adensar áreas já ocupadas para impedir a ocupação de novas áreas?

AS: Sim, um caso típico foi o do PEU Vargens. O PEU Vargens, no caso da sub-zona A-17, no lado direito da Avenida das Américas, na direção do Recreio, acabava com aquela visão de conjunto de torres isoladas, e estabelecia um tecido urbano do padrão do Jardim Oceânico, ou mesmo da Zona Sul, que é o padrão de densidade boa, com gabarito mais limitado, com a possibilidade de se ter um tecido urbano contínuo, com calçadas, lojinha no andar térreo, com a possibilidade de um espaço público ocupado pelos pedestres e não uma não-cidade nas dimensões do automóvel, como é a Barra da Tijuca. O problema é que, quando na macroeconomia você comete certos erros, você demora cinco anos para consertar, enquanto no urbanismo, quando se comete certos erros, você demora cem anos para poder consertar. Então, um dos grandes desafios intelectuais que existem é como desmodernizar o modelo econômico da Barra da Tijuca. Até hoje, ninguém deu uma solução satisfatória para isso. Na verdade, isso é praticamente impossível. Você vai ter que conviver com aquilo. Que jeito? Aquilo foi feito de forma a bloquear a criação de um tecido urbano normal. Mesmo naqueles lugares bem horrorosos, logo no início da Avenida das Américas, onde você tem um verdadeiro paliteiro de espigões, cada espigão é isolado do outro. Você tem uma grade, você não tem uma vida urbana ali embaixo. A vida se dá intra-muros. Então, eu acho que em relação às áreas já ocupadas da Barra da Tijuca, muito provavelmente, Inês é morta, não tem jeito. Agora, em áreas novas de expansão, como o Recreio, a Sub-zona A-17, Vargem Grande, Vargem Pequena, algumas áreas em Jacarepaguá, etc., você pode ainda mudar esse modelo e adotar um modelo normal, de prédios, mais ou menos ao lado um do outro, comércio lojista embaixo, calçada, pracinha, as pessoas circulando, uma densidade boa... Muitas vezes, as pessoas criticam a densidade, ou têm medo de densidade, e elas não percebem onde está o verdadeiro problema. Não é a densidade. A densidade não é problema. A densidade pode ser solução. Mas o problema é a forma de você trabalhar essas coisas.

nota

1
Apesar de se referir à Revitalização do Centro como um projeto instalado a partir de 2000, é importante lembrar que esse processo é mais anterior, iniciando-se com o Corredor Cultural da década de 1980 e continuando na década seguinte através de intervenções de diversos níveis de governo.

Reflorestamento do Morro Dois Irmãos, Rio de Janeiro
[fonte: Website Alfredo Sirkis]

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033.01
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033.02

Francisco Ribas Barangé

Marcio Cotrim and Mónica Cruz Guáqueta

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