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interview ISSN 2175-6708

abstracts

português
O arquiteto Rodolpho Ortenblad Filho, editor por dois anos da revista Acrópole, teve durante as décadas de 1950 e 1960 uma grande inserção no meio arquitetônico paulista, com diversos projetos publicados e premiados

español
Entrevista con Rodolfo Ortenblad Filho, editor de la revista Acrópole durante dos años, importante arquitecto en los años 1950 y 1960 en la ciudad de São Paulo, y con varios premios y proyectos publicados

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PEREIRA, Sabrina Souza Bom; GUERRA, Abilio. Rodolpho Ortenblad Filho. A arquitetura moderna paulista olhando para Wright e Neutra. Entrevista, São Paulo, ano 12, n. 048.01, Vitruvius, out. 2011 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/entrevista/12.048/4083>.


Edifício-sede do Instituto de Arquitetos do Brasil, São Paulo, 1946. Arquitetos Rino Levi, Abelardo de Souza, Galiano Ciampaglia, Hélio Duarte, Ruchti, Miguel Forte e Zenon Lotufo
Foto divulgação [Acervo Digital Rino Levi/Fapesp]

Sabrina Souza Bom Pereira e Abilio Guerra: Como foi sua participação no Instituto de Arquitetos do Brasil?

Rodolpho Ortenblad Filho: Eu fui diretor do IAB-SP a partir do fim da década de 1950. Eu freqüentava muito o Clube dos Artistas, que era no subsolo do IAB, e me dava muito bem com os pintores. O local era frequentado pelos artistas Volpi e Bonadei, que formavam o núcleo paulista de pintores de vanguarda. Estes relacionamentos me tornaram muito conhecido como arquiteto e fui convidado para participar da diretoria. Eu era secretário quase permanente e redigia as atas. Fiquei bastante tempo no IAB.

SSBP/AG: Quem participava do IAB na época?

ROF: O arquiteto Ícaro de Castro Mello, muito influente socialmente, foi presidente durante muito tempo. Depois houve um período em que o pessoal de esquerda tentou várias vezes dominar a diretoria do IAB e não conseguiu; mas depois conseguiu e eu me afastei, pois entendi que não dava mais – era só blá, blá, blá e não se construía nada.

SSBP/AG: O IAB promovia ações culturais?

ROF: Nas gestões do Ícaro de Castro Mello e outros arquitetos importantes, o IAB teve uma projeção muito grande. Tinham artistas que faziam a exposição e depois doavam obra de arte, como o Alexander Calder, que deu uma escultura para o IAB. Eu e o Carlos Lemos conseguimos viabilizar no jornal Folha de S. Paulo um caderno semanal que publicava trabalhos e notícias sobre arquitetura, o que deu uma projeção para a profissão no meio social. Carlos Lemos era muito amigo de um dos donos da Folha, o Otávio Frias, e foi através dele que conseguimos o caderno sobre arquitetura. Naquela época o IAB era representativo da categoria, orientando os associados sobre a legislação, explicando sobre as modificações de leis municipais e eventualmente até federais.

SSBP/AG: Sobre o que falava este caderno?

ROF: Concursos, exposições, coisas assim. Todos os anos havia o Salão Paulista de Arte Moderna, ali embaixo da Praça do Patriarca, na Galeria Prestes Maia. Era um salão de arquitetura, pintura, escultura e artes gráficas. A partir de um salão, eu passei a expor e ganhei vários prêmios com projetos meus; depois comecei a fazer parte do júri, na área de arquitetura, com Carlos Milan e Oswaldo Bratke; Aldemir Martins participava também, mas na parte de artes plásticas. Havia muita atividade paralela ao exercício profissional de projeto, na qual eu participava e nunca deixei de colaborar.

SSBP/AG: Vocês conseguiam interferir na legislação da cidade?

ROF: Algumas coisas, mas não muitas. O código de obras, o código Saboya, era obsoleto e o IAB de certa forma conseguiu interferir, inclusive na parte urbanística. Alguns arquitetos, como Alberto Botti e Jorge Wilheim, que foi secretário de obras, gostavam desta parte política.

ORTENBLAD FILHO, Rodolpho. A residência do arquiteto. Acrópole, São Paulo, n. 192, set. 1954, p. 543-549

SSBP/AG: Como você se tornou editor da revista Acrópole?

ROF: Quando era diretor do IAB, a revista Acrópole, propriedade de pai e filho judeus, precisou de um brasileiro como diretor responsável. Em 1953 foi exigido às publicações em geral, que tivessem um editor responsável nascido no país. Eu já redigia o Boletim mensal do IAB – Departamento de São Paulo, que, em formato de “separata”, circulava inserido na Acrópole. Sr. Max Gruenwald e seu filho Manfredo me conheciam por ter fornecido para publicação projetos de residências de minha autoria. Comecei a projetar e construir desde 1948, quando cursava o 2º ano da Faculdade de Arquitetura Mackenzie.

Eles me registraram como diretor responsável; constava até salário, que eu não recebia, pois trabalhava de graça. Mas foi muito bom para mim, porque passei a ser correspondente de várias publicações internacionais. Como eu era diretor da maior revista de arquitetura e praticamente a única aqui do Brasil, eu recebia livros para fazer resenhas, que eu publicava em uma separata da revista Acrópole, onde saíam notícias sobre livros, revistas, comentários diversos... Eu era o único redator dessa separata, que era distribuída anexada à revista Acrópole. Curioso é que eu não guardei nenhum exemplar delas.

SAMMARTINO, Edmundo. Revestimento em litocerâmica. Acrópole, São Paulo, n. 193, out. 1954, p. 34-35. Ortenblad usou muito litocerâmica em seus projetos

SSBP/AG: Qual era a sua função e os critérios para publicação?

ROF: Minha função era apenas editorial. A seleção do que seria publicado era da competência principalmente do Sr. Max e do Sr. Manfredo. Não eram publicados trabalhos de engenheiros e de caráter antiquado. Mas raramente eram recusados projetos para publicação, pois era conhecida a orientação da revista Acrópole: arquitetura contemporânea. Os trabalhos podiam ser de todo o Brasil, raramente do exterior, mas precisavam ser modernos e atuais. Foram editados artigos de pesquisas históricas de arquitetos dedicados ao ramo, como, por exemplo, dos professores Luiz Saia e Carlos Lemos.

Bloco04.04. ORTENBLAD FILHO, Rodolpho. Palácio das Indústrias. Comissão do IV Centenário de São Paulo. Acrópole, São Paulo, n. 193, out. 1954, p. 53-57

SSBP/AG: Quais foram os números memoráveis?

ROF: Publicamos os projetos do arquiteto Oscar Niemeyer para o Ibirapuera por ocasião do IV Centenário de São Paulo, o Edifício Copan, residências e edifícios públicos de relevante qualidade, muitos deles premiados em concursos e nos Salões de Arte da Galeria Prestes Maia, organizados por um idealista, Sr. Gomes Cardim.

SSBP/AG: Qual o motivo do término da revista Acrópole?

ROF: Os motivos foram de ordem econômica, falta de anunciantes etc. Por muitos anos ela foi a mais importante publicação brasileira dedicada à arquitetura.

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