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interview ISSN 2175-6708

abstracts

português
O arquiteto Rodolpho Ortenblad Filho, editor por dois anos da revista Acrópole, teve durante as décadas de 1950 e 1960 uma grande inserção no meio arquitetônico paulista, com diversos projetos publicados e premiados

español
Entrevista con Rodolfo Ortenblad Filho, editor de la revista Acrópole durante dos años, importante arquitecto en los años 1950 y 1960 en la ciudad de São Paulo, y con varios premios y proyectos publicados

how to quote

PEREIRA, Sabrina Souza Bom; GUERRA, Abilio. Rodolpho Ortenblad Filho. A arquitetura moderna paulista olhando para Wright e Neutra. Entrevista, São Paulo, ano 12, n. 048.01, Vitruvius, out. 2011 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/entrevista/12.048/4083>.


Residência Rodolpho Ortenblad Filho, São Paulo, 1957. Arquiteto Rodolpho Ortenblad Filho
Foto José Moscardi [ACAYABA, Marlene Milan. “Branco & Preto”, p. 101]

Sabrina Souza Bom Pereira e Abilio Guerra: Como foi o início de sua carreira?

Rodolpho Ortenblad Filho: O período mais ativo da minha carreira foi até 1980. Eu e meu irmão construímos várias casas no Brooklin, na Praça Moreira Cabral, Ibirapuera. A empreiteira era a construtora Panamericana e eu sempre dirigia e fiscalizava as obras.

SSBP/AG: Como eram feitos os contatos para se conquistar os clientes?

ROF: Pelas placas de obra, na época nós colocávamos placas grandes. No início da minha carreira eu projetava e construía, contratava um empreiteiro e dirigia a obra até o final. As mais de trinta casas que projetei para minha família no Itaim foram construídas por empreiteiros e dirigidas por mim. A minha casa da Rua Campos Bicudo, fui eu que construí (sua esposa comenta: “as placas naquela época eram muito importantes, porque tinham poucos arquitetos, então as placas influenciavam muito”). As pessoas viam uma casa, a achavam bonita e de qualidade, e me procuravam. Eu também era procurado por indicação e assim criei um acervo de clientes.

Marino Barros, que foi meu colega de turma, construiu muitas casas que eu projetei. Ele, por sinal, era um perfeccionista, construía muito bem. Fez muitas casas que projetei, inclusive a da Rua México, esquina da Rua México, que foi demolida e no lugar foi feito uma casa que parece um pombal. Essa casa está publicada na Acrópole e foi resultado de um concurso que a proprietária, Sra. Clemância Assad, fez convocando cinco arquitetos. Ela resolveu comprar a casa do meu pai na Praça General San Martin e, na época, meu pai não quis vender. Então ela disse: “quem a projetou?”. Meu pai respondeu: “foi meu filho, Rodolpho”. E Dona Clemância decidiu: “então eu quero que ele faça um projeto para mim”. Como eu estava de viagem marcada para a Europa, fiquei um ano fora, ela esperou que eu voltasse. Quando voltei, eu fiz a casa e a família morou lá muito tempo. Durante a construção, ela teve mais um filho e foi preciso fazer mais um dormitório.

As obras demoravam de um a dois anos, eram construções artesanais – bem, ainda é assim... Eu detalhava bem as casas, fazia questão de detalhar tudo, usava muito a solução com pátios, quando possível no fundo, mas quando não era possível, colocava na frente mesmo. Ou seja, minhas casas sempre tinham pátio, tornando necessário um sistema de segurança. Em geral, eu usava aquelas vigotas de concreto, que além de serem estéticas, quebravam um pouco o excesso de luz e davam segurança. Voltando a sua pergunta, como naquela época havia poucos arquitetos, principalmente nesta especialidade de fazer casas, eu me tornei muito conhecido como arquiteto especialista em residências e muitos vinham por indicação, porque visitaram a casa de um cliente e gostavam. Com isso, passei a ter muitos clientes e projetos. Eu fazia questão de colocar na placa “projeto e fiscalização”.

Residência Alfredo e Clemância Assad, Jardim América, São Paulo, 1952. Arquiteto Rodolpho Ortenblad
Foto José Moscardi [Acrópole, n. 191, ago. 1954]


SSBP/AG: Como desenvolvia os projetos de arquitetura e complementares?

ROF: Eu visitava o terreno, conversava com o cliente, observava o programa, o orçamento. Uma das coisas que eu mais dava prioridade era o orçamento. Recordo-me de um cliente, um advogado aposentado, que queria fazer uma casa muito grande. Quando me consultou, eu perguntei: “qual é a sua condição financeira para construir essa casa? O senhor não quer aguardar ou reduzir o programa?” Mas ele insistiu tanto que eu fiz o projeto quase como ele pretendia, mas ele parou no meio, levou mais um ano ou dois para terminar. Eu entregava um projeto detalhado, com todos os elementos para tocar a obra: fazia o cálculo estrutural, pedia o projeto de formas para o calculista para conferir se não havia interferências no projeto arquitetônico, solicitava o projeto de hidráulica também. Quando o projeto estava inteiro, vamos dizer assim, eu iniciava a obra. Eu contratava outros profissionais para fazer os projetos complementares.

A parte estrutural da casa da D. Clemância Assad foi projetada pelo engenheiro Roberto Zuccolo. Ele ficou muito conhecido com suas inovações – usava o sistema de concreto protendido –, mas era um homem difícil, que entregava as coisas em cima da hora; mas era muito bom profissional. O projeto estrutural do edifício na Cidade Universitária foi feito por um engenheiro japonês, mas nunca mais ouvi falar dele. Muitos construtores tinham seus calculistas de confiança. O projeto hidráulico, quando eu podia, indicava um amigo, o engenheiro Eurico Freitas Marques. O projeto elétrico era menos importante e os pontos de luz e energia faziam parte do projeto executivo, que não era complicado, pois não havia Internet e usar ar condicionado incorporado à obra era muito raro. Este prédio onde moro, por exemplo, foi projetado para receber ar condicionado, tem o lugar para o equipamento, mas só um morador resolveu fazer, aqui não houve necessidade. Eu contratava os projetos complementares, mas eles sempre passavam por uma análise final minha.

SSBP/AG: Como era o acompanhamento da obra?

ROF: Eu ia quando era chamado ou espontaneamente. Eu me dedicava a isso na parte da manhã, visitando obras, orientando o engenheiro, resolvendo algumas dúvidas que ele ou outro profissional pudesse ter.

SSBP/AG: Como eram as participações em concursos?

ROF: Eu participava com colegas. Com Carlos Lemos, fiz a ampliação do Clube Atlético Paulistano, o projeto da Concima foi com o Arnaldo Paoliello e o Marino Barros. Com o Marcello Fragelli foi o concurso do Clube da Orla, no Guarujá, mas que não foi executado, apesar de premiado. O Marcello insistiu em fazer um telhado que eu não concordava; era um projeto muito agradável, mas no fim o incorporador escolheu o projeto do Sérgio Bernardes, que fez uma coisa que nunca funcionou, pois era inadequada para função de clube.

Bloco 06.03. Mesa Aranha, Branco e Preto, São Paulo, 1952. Design Roberto Aflalo [ACAYABA, Marlene Milan. “Branco & Preto”, p. 94]

SSBP/AG: Como era a especificação do mobiliário?

ROF: Na época eram poucas as lojas brasileiras de mobiliário. Havia aquelas que importavam móveis, como a Forma, que tinha uma loja no subsolo do Instituto dos Arquitetos do Brasil. Eram móveis concebidos na Bauhaus ou desenhados por Mies van der Rohe, Alvar Aalto, Saarinen. Foi quando apareceu a Branco e Preto, de propriedade de um grupo de quatro arquitetos brasileiros muitos bons, que se tornou a primeira produtora de moveis com qualidade no Brasil. Eles criaram uma linha de móveis artesanais e usavam um tipo de tecido de lã produzido pelo lanifício Fileco, de propriedade de Miguel Forte, um dos sócios da empresa de móveis. O grande desenhista de móveis da firma era o Roberto Aflalo, que criou muita coisa interessante. Ele era meu colega de turma e o mais influente na parte de criação. Eu usei os móveis da Branco e Preto na minha casa da Rua Campos Bicudo, na casa da Capitão Antonio Rosa e aqui nesse apartamento que estou hoje, onde tenho uma mesa, duas cadeiras, sofás, e a “Mesa Aranha”, desenhada pelo Aflalo.

Bom, quando o cliente me permitia orientá-lo neste item, eu sugeria que ele não contratasse decorador antes de acabar a obra, pois eles geralmente palpitavam no projeto de uma maneira desastrosa. Indiquei muito a Branco e Preto, alguns móveis do Joaquim Tenreiro também. Na minha fazenda eu tenho uma mesa dele. Mas muitos móveis da fazenda eram integrados com o projeto e foram todos desenhados por mim, com muita influência do mobiliário japonês. Eu gostava muito da arquitetura japonesa e de certa forma ela me influenciou também nos detalhes de arquitetura. Na sala de estar, o tema da composição de lambris de madeira e painéis brancos sofreram muita influência japonesa.

SSBP/AG: Como foi sua participação no Inocoop?

ROF: Eu fui convidado a trabalhar como funcionário no Inocoop, o Instituto de Orientação às Cooperativas Habitacionais de São Paulo. Era uma instituição que comprava terrenos e construía residências. Eu fiz protótipos que começava com núcleos de sala, cozinha, banheiro e um dormitório. Essas casas foram concebidas para ter a facilidade de ser ampliadas sem alterar o núcleo principal, graças ao telhado de apenas duas águas, voltado para o fundo do terreno. Inicialmente esses terrenos tinham 5m por 10m, depois aumentaram para 10m x 20m. Eu saí da empresa quando formei um grupo com os arquitetos Marcello Fragelli, Telésforo Cristófani e José Ghiu.

SSBP/AG: Como foi a experiência das casas em Campinas?

ROF: Eu projetei muita coisa para o Banco Hipotecário Lar Brasileiro, inclusive um conjunto de dez casas na rua Barão de Itapura. Era uma rua em declive, que chegava a um parque muito bonito. E o BHLB pediu que eu as fizesse todas diferentes. Eu desenvolvi alguns partidos bem parecidos, mas com soluções diferentes de fachada. Algumas tinham um pátio entre os dormitórios e outro na sala.

Sesi, Sorocaba SP, 1967. Arquiteto Rodolpho Ortenblad Filho
Foto divulgação [Acervo Rodolpho Ortenblad Filho]

Sesi, corte transversal e plantas Ambulatório e Delegacia, Sorocaba SP, 1967. Arquiteto Rodolpho Ortenblad Filho
Redesenho Sabrina Souza Bom Pereira

SSBP/AG: Como chegou a encomenda do projeto do Sesi em Sorocaba?

ROF: Na época, o diretor do Sesi já conhecia meu trabalho e me convidou para fazer o projeto. Era um terreno muito ruim, doado pela prefeitura. De um lado, havia uma grota com uma nascente; existia ainda um desnível grande entre um lado e outro do terreno, de quase 10m. Adotei um partido onde coloquei o ginásio de esporte e a piscina no lado próximo à grota e a água da nascente foi usada para abastecer a piscina. Dispus então duas alas paralelas de três níveis. Embaixo tinha os pilotis e mais dois níveis para salas multiuso, que abrigava cursos de culinária, costura, e diversos outros. Esse projeto, de 1967 ou 1968, foi premiado com o prêmio “Governador do Estado”.

SSBP/AG: Você e o arquiteto Jose Luiz Fleury de Oliveira trabalharam juntos para o Clube Alto de Pinheiros. Como foi essa parceria?

ROF: Um grupo de moradores nos escolheu para desenvolver o projeto para o clube, mas, infelizmente, um desacordo entre os moradores fez com que fosse escolhido um novo arquiteto para finalizar o projeto. Quem fez isso foi o arquiteto Fábio Penteado. Uma parte do clube – a primeira sede, a parte das piscinas e das quadras – é projeto nosso.

Prédio de Histologia da USP, São Paulo, 1967. Arquiteto Rodolpho Ortenblad Filho
Foto Sabrina Souza Bom Pereira

Prédio de Histologia da USP, cortes longitudinal e transversais, São Paulo, 1967. Arquiteto Rodolpho Ortenblad Filho
Redesenho Sabrina Bom Pereira [Fonte: Coesf]

SSBP/AG: Como você se envolveu com o projeto do Prédio de Histologia da USP?

ROF: Em 1967 foi feito um programa para construção dos prédios principais da USP no Butantã. O coordenador era o arquiteto Paulo Camargo e eu fui indicado pelo professor Junqueira, companheiro meu de pesca submarina no Iate Clube de Santos. Ele era o catedrático da cadeira de Histologia e me convidou para fazer o projeto do prédio da Histologia. Hoje funciona a Faculdade de Veterinária; como o edifício é muito versátil, pôde ser modificado para o novo uso. O partido é interessante. Eu organizei o edifício com a estrutura totalmente independente, com tubulações horizontais e verticais visitáveis; como o terreno era bem inclinado e possibilitava dois níveis, situei o prédio com laboratórios na parte superior, que é maior. Ele se liga ao prédio de aulas teóricas, situado na parte baixa do terreno, através de uma passarela. Ainda existe.

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Flávio Coddou, Albert Brito and Nuno Correia

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