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interview ISSN 2175-6708

abstracts

português
Yannis Tsiomis, professor que estará seguindo o grupo do curso de extensão da Unesp Bauru na cidade de Paris, fala de projetos urbanos, arqueologia e pesquisa. A presente entrevista foi feita por email em abril de 2012

français
Yannis Tsiomis, professeur qui suivra le groupe du cours d'extension de l'Unesp Bauru à Paris, parle de projets urbains, de l'archéologie et de la recherche. Cette interview a été réalisée par courriel en avril 2012

how to quote

RETTO JR., Adalberto. Yannis Tsiomis. Entrevista, São Paulo, ano 13, n. 050.03, Vitruvius, jun. 2012 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/entrevista/13.050/4335>.


Projeto Agora Athenes
divulgação

Adalberto da Silva Retto Júnior: No seu projeto para a sistematização da área arqueológica de Atenas, assim como nas discussões em torno do Congresso organizado pelo senhor e intitulato Le site archéologique et la ville. Transgresser les limites (Il sito archeologico e la città. Paris, Palais de Chaillot, 27 a 28 de março de 2000), emerge uma estreita relação entre arqueologia e urbanismo: "Qualquer projeto de intervenção em um sítio arqueológico no centro de uma cidade é um potencial projeto arqueológico, e qualquer campo arqueológico é um projeto urbano, do momento em que, cedo ou tarde, será colocada a questão de integração do sítio no âmbito da cidade e do modo de como se trata os seus diversos limites, isto é, a questão da relação do próprio sítio com a cidade.”

Nesta abordagem a definição do projeto é o de assumir as características cognitivas da especificidade e das diferenças históricas, geográficas e morfológicas do território como elementos onde se deve apoiar a concepção dos espaços urbanos. Um trabalho que não tem a pretensão de ser uma simples intervenção urbana com justaposição de superfícies, materiais, quase sempre autônomos ou indiferentes do contexto, mas ao contrário, que articulem espaços, definindo a hierarquia, separações, conjunções, diferenças. Um verdadeiro e próprio projeto de arquitetura do solo onde história, morfologia e corpos existentes participam de modo ativo para definir a identidade, as relações entre os espaços abertos da cidade e do território.

Como essas questões levantadas pelo senhor foram desenvolvidas no projeto Pour le réaménagement du site archéologique et le projet urbain du quartier environnant l'Agora à Athènes”?

Yannis Tsiomis: pergunta que requer uma resposta muito longa ... Apenas algumas dicas de resposta portanto.

1) O sítio arqueológico na cidade européia (principalmente na Grécia e na Itália, mas também na França, na Espanha e em parte ainda nos vastos territórios da Tunísia), o sítio arqueológico, portanto, não é um buraco na cidade. É parte da cidade, e é necessário saber tratar os limites entre sítio e cidade e tendo em conta a estrutura urbana.

2) O projeto arqueológico é um projeto urbano na medida em que incentiva o trabalho sobre os limites e a refletir a estrutura urbana que se formou na diacronia. A estratificação - o estudo da evolução no tempo das formas urbanas - é um conceito chave.

3) Tendo dito isto, há uma especificidade do sítio – o respeito com as escavações e sua valorização – que somente um trabalho conjunto entre arquiteto e arqueólogo pode conseguir. Trata-se também de uma negociação entre várias disciplinas. Em todos os casos, as intervenções em sítios arqueológicos devem ser minimalistas e reversíveis porque a pesquisa nunca cessa. O trabalho do arquiteto deve ser modesto, quase invisível.

4) A cidade é feita de formas e usos. É necessário que o arquiteto responsável pelo projeto arqueológico e urbano – o que era o caso da Ágora de Atenas - leve em conta o patrimônio incalculável que constitui os usos na cidade em torno do sítio arqueológico.

5) Neste sentido, o trabalho para o sítio arqueológico e para o trecho da cidade que o rodeia é um trabalho sobre o espaço público.

6) Muitas outras respostas poderiam ser adicionadas a estas... o que ficará para uma outra oportunidade!

Projeto Agora Athenes
divulgação

ASRJ: No vídeo Brasília, na série “Un architecte, une ville”, TV5 éducation. Réalisation C. Ouanounou. (2005), o senhor começa o seu percurso na nossa capital a partir do Catetinho. Qual a importância do Catetinho para entendimento do processo de construção de Brasília?

YT: Para mim Catetinho tem principalmente um valor simbólico e emblemático. É quase uma "cabana" na "terra de ninguém" que fora o território de Brasília na época. Catetinho é o símbolo da contradição do Brasil: uma capital construída e acessível por via aérea - o sinal da modernidade - e uma cabana modesta de madeira para construir o grande sonho da verdadeira cidade - capital do Estado da nação.

Há algo de tocante neste pequeno edifício. Ele é simples, bonito, como uma casa de família que reúne a família brasileira em torno de Juscelino Kubitschec. Mito ou realidade, a noite após a jornada de trabalho exaustiva, vejo reunidos Costa, Niemeyer, os engenheiros, os administradores, os trabalhadores comuns tocando violão para ganhar força para o dia seguinte. Toda fundação ex nihilo de cidade-capital do Estado nação é uma aventura extraordinária: Washington, Atenas, Ancara, etc.

Mas Brasília, com o espaço, é a fundação da respeitabilidade do Brasil. Eu amo a beleza do Rio de Janeiro e a arrogância de São Paulo. Mas Brasília destrói para sempre, para o resto do mundo, esta imagem-clichê folclórica do Brasil – Copacabana, mulheres nuas, samba, as favelas coloridas – que eu amo também, aliás! Brasília faz o Brasil ter acesso à categoria das potências mundiais - para melhor ou para pior aliás. Mas inicialmente é o símbolo de orgulho conquistado pelo povo. É bom evidentemente este aspecto, mas não se deve esquecer o outro: como no resto do mundo, isso não apaga a injustiça e a desigualdade bruta. Brasília tira o Brasil desta imagem de país latifundiário, mesmo se ainda hoje há algum caminho a percorrer, isso é visível! Mas eu me refiro à época e impacto que essa obra teve em todos os países do mundo. Na minha Grécia distante eu aprendi a respeitar o Brasil a partir de Brasília.

Para mim, o Catetinho permite enxergar e imaginar ao mesmo tempo o problema, o investimento humano, a alegria de viver uma aventura única menos individual que coletiva: aventura estratégica, política, intelectual, artística ... Não se trata somente de arquitetura e planejamento urbano, mas de um conjunto de coisas que fazem enxergar um país de outra forma. O Catetinho é o sinal dessa mudança de olhar.

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