Estive em Medellín em setembro de 2012 para conhecer a cidade e assistir ao XV Congreso Ibero-americano de Urbanismo.
Contava que estas experiências pudessem contribuir para a pesquisa que desenvolvo em meu mestrado, na qual investigo como a arquitetura educacional paulista contemporânea vem se apresentando como uma intervenção urbana, enfrentando as principais problemáticas da cidade de São Paulo, a partir da experiência dos Centros Educacionais Unificados. A ideia era analisar essa vocação da arquitetura educacional paulista a partir de sua própria história, mas também lançar mão de outros exemplos similares da atualidade, para ampliar as perspectivas de análise, o que justificava o interesse pelo caso de Medellín.
Em minha passagem pela cidade, solicitei uma conversa com Carlos Pardo, arquiteto responsável pelo projeto do Colégio Antônio Derka, símbolo da arquitetura educacional transformadora da periferia informal e urbana de Medellín.
Sua fala supera a simples contextualização dos processos que levaram ao projeto do colégio, tornando-se a porta de entrada para compreender a realidade mais abrangente das transformações na cidade. Com isso, esta entrevista visa contribuir para superar a estigmatização do tema, marcado pelas estilizadas fotos que contrapõem a linguagem contemporânea e a plasticidade dos novos edifícios de Medellin enfrentando o emaranhado tecido da cidade informal (como é o caso do Parque Biblioteca España).
Ainda sobre as contribuições da entrevista a seguir, é válido destacar a importância do diálogo e da troca de experiências para o enriquecimento da prática analítica. É ter a oportunidade de olhar nossa própria realidade através de outros olhos e referencias.
A narrativa de Carlos dissolve a polarização entre o novo e transformador objeto arquitetônico e o insatisfatório cenário existente. Destaca a importância da arquitetura educacional, mas reforça a compreensão de que a transformação desejada depende de uma ampliação do poder de ação no contexto social e urbano do território e isso só se daria através da interação de três fatores: políticas públicas renovadas, projeto arquitetônicos cuidadosos e intervenções urbanas integradoras.
A conversa se inicia com o propósito de discutir temas como a arquitetura do lugar a partir de sua experiência à frente do escritório Obranegra Arquitectos, no projeto do Colégio Antonio Derka. Vale destacar que o Colégio se situa na ladeira norte oriental de Medellin, no Bairro de Santo Domingo Sávio, que chegou a ser uma das regiões mais pobres e violentas da cidade. Este projeto foi alvo de grande reconhecimento na mídia especializada, sendo premiado na VII Bienal Iberoamericana realizada em Medellin, em 2010.
A entrevista se deu em duas partes. Uma primeira constituída de uma conversa informal em que apresento as questões trabalhadas em minha pesquisa. Para a discussão, sugere-se uma ênfase maior, baseada nas problemáticas em comum entre os CEUs e o Colégio Antonio Derka: arquitetura educacional como intervenção urbana. Neste breve primeiro momento apresento algumas fotos aéreas dos CEUs, explicando resumidamente que se tratava de um projeto da prefeitura de São Paulo, que em apenas quatro anos de mandato construiu 21 escolas se propondo a integrar, em um mesmo lote, equipamentos escolares aos de cultura e esportes em regiões de expressiva ocupação irregular que apresentavam uma carência, não só desses equipamentos, mas de investimentos que proporcionassem qualidade de vida urbana aos seus habitantes.
O trecho transcrito a seguir, representa a segunda parte da conversa em que Carlos Pardo faz uma apresentação dos processos e questões que buscam explicar o porquê o colégio resultou no que é...