Mariana Wilderom: Vimos ao longo dos caminhos percorridos pelo metrocable a presença expressiva de guarda corpos, escadas, que parecem indicar uma intervenção, uma requalificação dos passeios... é isso?
Carlos Pardo: Sim, como te disse, fizeram não só edifícios educativos e sim, requalificaram, criaram espaços públicos. Alguns projetos são feitos por concurso e outros são feitos pela EDU, que tem mais agilidade e conta com uma equipe grande de arquitetos...
MW: Parece que em São Paulo ainda não conseguimos atingir este tipo de integração nas intervenções, parece que fazemos escolas, habitação, saneamento, mas não conseguimos juntar isso a outros programas.
CP: Sim, eu creio que é importante perceber que este edifício é um grão de areia dentro de um grande projeto, dentro de um PUI (Projeto Urbano Integral). Alejandro Echeverri foi o cérebro dos PUI, que é este grande projeto, é a mãe de tudo isso. Os PUI conseguiram articular habitação com educação, espaço público, saúde, tudo isso... e fez com que todas as secretarias fossem juntas trabalhar. Eu não sei como conseguiram...pois foi muito difícil. Mas conseguiram e os PUI foram capazes de fazer isso e a vontade política de Sérgio Fajardo. Agora se tornou uma fórmula. Todos os prefeitos querem fazer isso, todos vêm à Medellín ver como se deu isso. Por sorte, depois de seu mandato assumiu um prefeito do mesmo partido que continuou com os parques bibliotecas, espaços públicos... e com isso conseguimos oito anos. O prefeito que governa agora não é do mesmo partido mas está trabalhando na mesma linha e eles são muito amigos. Então já estamos contando com 12 anos seguidos aplicando o mesmo programa, isso não é fácil e é importantíssimo.
MW: Echeverri é arquiteto urbanista?
CP: É arquiteto urbanista formado em Barcelona e foi peça fundamental. Nós arquitetos o ajudamos, mas foi ele que conseguiu visualizar o macro.
MW: Às vezes me preocupa um pouco que a arquitetura paulista seja muito autorreferente. Como é aqui? As escolas de arquitetura formam linhas de arquitetos diferentes?
CP: Aqui chamamos de “olhar para o próprio umbigo”. Bom, aqui acho que não. Creio que aqui haja muita camaradagem. Em Bogotá eu creio que isso aconteça mais, a Universidad de los Andes tem uma linha mais marcada... Mas aqui em Medellín são os mesmos professores em diferentes universidades. Aqui temos a Bolivariana (privada) e a Universidad Nacional (pública).
[Encerrando a nossa conversa, Carlos cita uma frase de Peter Zumthor]. Essa é uma frase que me encanta... e para falar de arquitetura do lugar, temos que falar de Zumthor, Siza, Alvar Aalto, Salmona...
“A presença de determinados edifícios têm pra mim, algo de secreto. Parecem simplesmente estar aí. Não se depara nenhuma atenção especial à eles. No entanto, sem eles, é praticamente impossível imaginar o lugar onde estão. Estes edifícios parecem estar fortemente enraizados no chão. E dão a sensação de ser uma parte natural de seu entorno” (1).
O edifício parece então uma extensão da geografia, não é um edifício que chega e aterrissa. Claro que se deve entender um pouco como vive esta gente, porque constroem assim, o que lhes interessa. Vocês vão se dar conta da vitalidade que têm da rua.
nota
1
A frase original e parte do seu contexto é reproduzido a seguir: “To me, the presence of certain buildings has something secret about it. They seem simply to be there.We do not pay any special attention to them. And yet it is virtually impossible to imagine the place where they stand without them. Those buildings appear to be anchored firmly in the ground. They make the impression of being a self-evident part of their surroundings and they seem to be saying: “I am as you see me and I belong here”. ZUMTHOR, Peter. Thinking architecture. Basel/Boston/Berlim, Birkhauser, 1999, p. 17-18.