Nascido na Argentina e radicado no Rio de Janeiro há cerca de trinta anos, o arquiteto e urbanista Jorge Mario Jáuregui tem o seu nome associado, principalmente, a projetos de urbanização e de planejamento em comunidades onde todos os aspectos da informalidade são a tônica dos seus desenvolvimentos urbano-arquitetônicos e sociais.
Na entrevista, realizada no Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da UFRJ, Jáuregui nos fez uma exposição detalhada sobre sua trajetória profissional na cidade, expondo os fundamentos teóricos e metodológicos com base nos quais vincula a atuação de arquiteto e urbanista a preocupações de ordem social e política. A esse respeito, destacam-se em sua fala referências constantes à Filosofia e à Psicanálise, a seu ver fundamentais à construção de uma perspectiva capaz de unir teoria e prática. A interlocução permanente com tais elaborações participa do modo como concebe e problematiza o fenômeno urbano, que compreende nos termos de uma trama complexa: segundo suas palavras, uma interseção de fluxos e fixos, que é preciso interpretar e ordenar.
Por sua vez, a favela é lida por Jáuregui do ponto de vista da ideia de caos – que, conforme ressalta, diz respeito a uma ordem complexa, não uma desordem, suscetível a planejamento a partir da escuta da demanda. Tais ideias são discutidas pelo arquiteto conforme ele descreve o desenvolvimento de alguns projetos, tais como os que realizou no Complexo do Alemão e em Manguinhos – descrição esta que coloca em relevo questões e desafios incontornáveis à intenção de abordar a tensa relação entre cidade “formal” e “informal” no Rio de Janeiro.
Vale conferir no texto os temas que são elaborados por Jáuregui em resposta a algumas provocações, relativas, dentre outros pontos, à sua intenção de humildade na interlocução com moradores das comunidades em que atua; à sua perspectiva sobre patrimônio arquitetônico; e, finalmente, à problemática, senão polêmica, distinção entre projeto arquitetônico e a construção em curso na favela – que, a seu ver, teria a ver menos com um trabalho de composição estética do que com a criatividade de uma população, a sua infinita atividade, capacidade de construção, de mobilização.
Por fim, é preciso considerar a crítica que o arquiteto direciona ao debate sobre a relação formal-informal na cidade, a seu ver pouco consolidado e desenvolvido.