Maycon Sedrez: Olá Pieter, minha primeira questão seria: vocês já usaram recursão ou um sistema generativo no processo de projeto?
Pieter Schreurs: Bem, isso depende em como você aborda o projeto generativo, em como você olha para isso. Eu quero dizer, vários dos nossos projetos são baseados em, vamos dizer, tecnologias swarming, no qual você tem nós individuais no espaço que definem a posição dos elementos arquitetônicos na forma como um todo ou o corpo do edifício. Eles são parte de um sistema unificado e informam entre si suas posições relativas e o sistema estrutural e de fechamento são gerados baseados nesses nós. Nesse sentido a nuvem de pontos forma a base do projeto arquitetônico, e tudo é gerado a partir dela. Então nossos projetos são sempre construídos em uma certa lógica que cria um sistema integrado, com o que nós começamos fazendo a forma ou o que define a forma completa do edifício, então todos os componentes são gerados baseados na mesma lógica. Nós temos diversos exemplos, e eu acho que o melhor deles é o A2 cockpit em Utrecht ao longo da rodovia A2.
Nós projetamos a forma geral do corpo do edifício e nessa forma nós geramos a nuvem de pontos, no qual nós geramos o sistema estrutural e de fechamento que é completamente integrado e suporta totalmente as cargas. Não é que usamos um projeto generativo para projetar espaços ou fazer espaços, mas nós usamos sistemas generativos para criar nosso sistema estrutural e detalhes paramétricos, o que nos permite fazer isso e integrar o projeto dinamicamente a edifícios com o corpo de formas complexas, baseado num sistema integrado com sua própria lógica interna.
MS: Então é também paramétrico? Você pode mudar a forma do edifício parametricamente?
PS: É totalmente paramétrico. Em nossos projetos o ponto de início é sempre um processo de projeto paramétrico. Então nós sempre fazemos um sistema paramétrico com o qual começamos a projetar, no qual nós incorporamos nosso partido e nossa lógica. Isso nos permite sempre adaptar a circunstâncias locais e observar as consequências das nossas decisões de projeto.
MS: Então a complexidade do projeto é na realidade o resultado desta informação que você usa como dado de entrada para a nuvem de pontos, ou informação que você coleta do local.
PS: Não é bem que nosso projeto é generativo nesse sentido. Nós nos vemos como arquitetos, então nós projetamos uma certa forma ou corpo do edifício. Nós usamos ferramentas digitais e scripting para informar nosso projeto e permitir uma complexidade rica e liberdade de projeto, enquanto integramos todas as condicionantes. Nós temos, claro, pensamentos e ideias sobre o porquê e como as coisas funcionam de um jeito ou de outro. Mas nós criamos um sistema que incorpora todos esses diferentes tipos de informação que acomoda para este tipo de projeto, para esta forma. Então, na realidade você pode ver de uma maneira que nós criamos um sistema que permite certa liberdade de projeto da nossa própria perspectiva. Em nossa abordagem do projeto nós usamos o conceito de linhas de força, semelhante ao desenho de carcaças de veículos, para modelar e simplificar o corpo do edifício, ou uma barreira de som, ou uma parede de escala, todos esses diferentes tipos de produtos e construções.
MS: Que programa vocês usam?
PS: No momento nós usamos muito Rhino e Grasshopper. É claro fácil de usar, facilmente acessível. Nós usamos um monte de diferentes ferramentas durante o tempo que o escritório existe. Nós usamos programação em Python também. Realmente depende no projeto específico e nos requisitos. Nós usamos Pro/Engineer e este tipo de ferramentas paramétricas para engenharia, pois elas são muito precisas, as medidas e a geometria são muito precisas, o que nos ajuda a controlar a produção da geometria. Mas nós usamos AutoCAD também para projeto paramétrico, com rotinas AutoLISP para gerar este tipo de nuvem de pontos ou lógicas e gerar todo tipo de diferentes elementos para produção. Nós também usamos ferramentas como processing ou às vezes códigos .net, como C# ou Java para realmente fazer nosso próprio programa exclusivo para realizar certas rotinas.
MS: É bastante computacional. Vocês fazer modelos físicos?
PS: Dificilmente. É muito, muito digital. Nós temos um modo de trabalho digital, eu quero dizer, claro que nós usamos croquis nas fases iniciais do projeto. Mas nós tentamos, o quanto antes, começar a usar as ferramentas digitais disponíveis e implementar e pensar sobre o processo completamente integrado. Também sermos capazes de quantificar e controlar os parâmetros disponíveis o quanto antes. Um dos elementos chave na nossa estratégia de projeto é integrar o máximo de informação, mas também o máximo de diferentes atores ou fatores que influenciam o processo de construção o mais cedo possível no processo. O que nós, em nossos projetos, estamos tentando fazer é criar uma plataforma no qual nós somos capazes de logo no começo, trabalhar em conjunto com, por exemplo, os especialistas de construção, os engenheiros, os especialistas em conforto ambiental/térmico. Trabalhando em um ambiente digital e incorporando todos esses diferentes fatores logo na primeira fase do projeto. Tentando entender quais são as relações paramétricas entre esses elementos e então criar um modelo que você pode começar a moldar.