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interview ISSN 2175-6708

abstracts

português
Nessa conversa sobre fabricação digital e formas complexas, Pieter Schreurs fala sobre o seu processo de projeto e o processo de manufatura da arquitetura contemporânea.

english
In this conversation about digital fabrication and complex shapes, Pieter Schreurs talks about their design process and manufacturing process of contemporary architecture.

how to quote

SEDREZ, Maycon. Um edifício, um detalhe. Entrevista com o arquiteto Pieter Schreurs, ONL. Entrevista, São Paulo, ano 16, n. 064.04, Vitruvius, nov. 2015 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/entrevista/16.064/5821>.


Detalhe do modelo 3D [ONL]

MS: Isso é interessante, pois eu gostaria de perguntar o que você pode falar sobre a fabricação de formas complexas. Alguns arquitetos pensam na fabricação e em como resolver as partes após terminarem o projeto. Vocês pensam logo no início? Como vocês integram a fabricação?

PS: Todos os nossos projetos são sobre produção file-to-factory, então nós integramos o pensamento sobre o processo de produção logo nas primeiras etapas do projeto. Eu diria que é essencial, se você quer criar formas mais complexas e geometrias diferentes. Para criar certa quantidade de liberdade com a margem da sua comissão, você deve entender e controlar o processo produtivo. Nós vamos bastante longe, de tal forma que nós basicamente atravessamos a cadeia de produção regular de um edifício, no qual nós realmente controlamos as máquinas e o processo logístico diretamente dos nossos modelos com o qual o edifício é projetado. Então, eu posso mostrar algumas imagens que ajudam a entender. Por exemplo, para o A2 cockpit o que nós fizemos foi um modelo 3D e nós geramos todos os diferentes componentes que são únicos em tamanho e formato e variáveis por todo o edifício. É uma faixa de barreira de som de 2,5km e integrado a isso existe uma loja de carros de luxo, onde o volume infla no meio da trajetória.

Existe uma transição suave da barreira de som para a loja de carros. Cada parte ao longo do projeto é diferente, então continuamente muda e cada elemento é diferente. Não há outro modo senão controlar o processo produtivo para fazer isso possível. Não há outro modo que você pode criar esse tipo de variação e fluidez com processos tradicionais, onde alguém tem que desenhar, vamos dizer, dez mil elementos mais ou menos. Nós tivemos que definir uma cadeia completa do desenho para o local de produção ser capaz de fabricar isto. Então nós diretamente geramos a informação para as máquinas de corte CNC para produzir todas barras de metal e nós.

Basicamente você tem uma longa barreira de som que infla e se torna essa loja de carros. Toda a complexidade da geometria é na realidade concentrada nos nós, todos os demais elementos são todos de comprimento diferentes, mas padronizados, de certa maneira eles são... retos.

MS: Similares?

PS: Eles são todos únicos. A lógica é sempre similar inclusive para os nós. Há um detalhe paramétrico basicamente que permitem todos os tipos de ângulos diferentes, então acomoda todas as diferentes posições e variáveis. Uma das frases que usamos é: “Um edifício, um detalhe”, então basicamente você projeta um detalhe paramétrico que permite adaptar as circunstâncias necessárias e ao ponto exato no edifício. Nós temos um único envelope que muda se for uma cobertura, uma lateral, uma parece ou um piso, mas basicamente é o mesmo detalhe. Então nós podemos rotacionar e acomodar todas essas mudanças, e isto é o que fizemos aqui. Os nós seguem todos os mesmos princípios, mas todos os ângulos são sempre diferentes.

MS: E sobre o vidro, as peças são do mesmo tamanho?

PS: Elas são todas diferentes.

MS: Elas são planas?

PS: Sim. Se a trama for boa você ainda consegue uma forma e sensação de curva suave. E também tem a ver com o orçamento da obra, tornando possível realizar. Pois vidro curvo é caro e complexo para ser feito. Há também o pensamento sobre qual tipo de projeto você quer alcançar, qual resultado você está buscando e controlar e saber o que é possível com os métodos de produção. Você não cria um projeto totalmente maluco em 3D e então você tem que usar vidro curvo tornando muito caro. Você acha um método que se encaixa em um orçamento de obra regular. Esse tipo de edifício que nós fazemos sempre se mantém em um orçamento rigoroso e fica dentro das restrições da comissão. Basicamente o objetivo é sempre ter certeza que você, em todas as fases, controla os seus parâmetros, o que é também o orçamento do edifício. Você não sai projetando no Rhino e então no final do processo de projeto você diz: ok agora outra pessoa resolve todos os problemas e meio que jogar o problema por cima da cerca... Pois assim você terá orçamentos excessivos e os custos fogem do controle. Isso é o que vem na mente das pessoas quando eles pensam em arquitetura e formas complexas; você não estaria criando um projeto complexo, mas um projeto complicado.

Montagem do A2 cockpit [ONL]

MS: Eu li um artigo do professor Oosterhuis, ele fala sobre a abordagem “prática experimental”. Vocês têm uma equipe de pesquisa ou vocês estão trabalhando com a universidade?

PS: Kas é o proprietário do escritório e ele é também um professor na TU Delft, na qual ele possui um grupo de pesquisa, Hyperbody. Há é claro alguma troca, onde eles fazem muito sobre ambientes interativos, projeto generativo também, olhando para novos métodos ou possibilidades de espaços de arquitetura interativos, e também sistemas adaptativos. Isso é basicamente a pesquisa que é feita lá.

MS: Ele traz essa experiência para o escritório.

PS: Sim. Na realidade nós fazemos pesquisa em cada projeto, pois nós continuamente desenvolvemos novas estratégias para permitir que possamos construir o que quisermos. Isso é a maneira que usamos essas ferramentas digitais; basicamente nós começamos a programar para permitir certa liberdade no projeto e para criar as possibilidades de fazer formas complexas e diferentes. Trata-se de repensar sobre o processo e então desenvolver novos métodos de produção. Como no projeto A2 cockpit nós desenhamos essa nuvem de pontos, nós criamos um script no qual criaria a geometria e você obtém toda a informação gerada pelo código. Você pega todas as medidas de comprimentos, todos os elementos e então você adota um processo de produção digital existente. Todas as ferramentas que nós usamos já estão disponíveis nas indústrias. A única coisa é que eles usam de maneira diferente, nós controlamos de uma maneira diferente. Muitas dessas máquinas CNC são manualmente controladas, tem uma pessoa digitando o número do raio para dobrar, comprimentos dos elementos ou o que quer que seja. Nesse ponto nós dissemos: nós geramos todos os dados e nós colocamos diretamente na máquina e você pode criar uma maneira de manufatura completamente diferente. Então você pode fazer cada elemento diferente, pois não tem uma pessoa que precisará digitar números. Você pode fazer isso em cada iteração e então você pode fazer um projeto totalmente de formas livres.

MS: O tempo e o dinheiro que você gasta é praticamente o mesmo para produzir as peças...

PS: Essa é a ideia que eu estava falando anteriormente, você pode ultrapassar a cadeia desse processo tradicional de construção, você pode começar a controlar a produção do seu ambiente digital. Isso permite você construir projetos complexos, dentro de um orçamento padronizado, nesse sentido é um modelo padronizado da indústria da construção existente.

MS: Nas figuras que você mostrou, existem números ou marcações controladas pelo programa?

PS: Basicamente, nós pensamos que não deve haver nenhuma intervenção manual. Do seu arquivo de projeto, do ambiente digital que você trabalha até o local da obra, não deve haver intervenção manual. Nesse ponto você pode ter uma montagem como se fosse uma estrutura Lego, algo assim, você apenas conecta os números certos. Isso tende a funcionar muito bem.

MS: Eles têm algum problema ou dificuldade para montar?

PS: Dificilmente. Você também reduz o tempo de obra com este tipo de coisa, pois você tem um sistema retilíneo de montar toda a sua estrutura. Você tem certeza que terá as peças certas e conectadas. Isso irá formar a sua forma complexa, sua geometria completa.

MS: Vocês têm, na Holanda, parceiros para usar as máquinas CNC? É difícil fazer essa parceria com a indústria que nunca produziu trabalhos de arquitetura?

Elementos e nós [ONL]

 

PS: Eu acho que existe um certo limiar. Você tem que ganhar a confiança do produtor, que você é um arquiteto que é capaz de controlar esse tipo de dados e dar a eles a informação correta para que eles possam diretamente produzir as formas. No momento que você estabelece isso então é muito fácil fazer esse tipo de cooperação. Na Holanda existem algumas empresas que possuem esse tipo de maquinário disponível e talvez eles não saibam como explorar todo o potencial, mas eles têm em suas fábricas.  Quando você tem acesso a isso e consegue envolvê-los logo nas fases iniciais do processo, você ganha confiança e segurança de ambos os lados. Então você pode começar a estabelecer esse tipo de processo produtivo, mas é extremamente crucial envolvê-los o quanto antes para ter essa troca e também uma compreensão do processo produtivo. O que é possível na linha de produção define muito os parâmetros no seu sistema. É importante envolvê-los da maneira certa e essa é a única forma de ser capaz de manipular o processo. Então você sabe que pode fazer algo que é edificável com o quadro que você tem. Nós criamos muitos aplicativos customizados também dentro do Grasshopper, nós criamos muitos scripts e programação em módulos que permitem a troca de dados e tem uma conexão direta. Mas nós sempre tentamos olhar para a forma mais simples de comunicação de dados, então o processo se torna bastante leve e você comunica somente o que é necessário. No final para a parede de escalada o que nós comunicamos é apenas um arquivo de texto descrevendo as coordenadas e ângulos, e isso alimenta o G-code da máquina, há uma pequena conversão, mas você não alimenta a geometria completa definida em um programa como AutoCAD ou Rhino.

Elementos e nós [ONL]

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