GC: Eu gostaria de perguntar algo relacionado com educação. Você não recebeu seu diploma na Alemanha, mas completou o doutorado na Universidade de Stuttgart, e você tem ensinado também em Stuttgart e em Graz. Qual a sua opinião sobre o ensino de arquitetura na Alemanha? É ainda tradicional, ou os alunos já estão sendo preparados para as situações que você descreveu, com a automação de todo o processo?
MD: Eu não acredito que seja tradicional. Muitos estudantes veem o que está acontecendo e eles tentam fazer por si próprios, com Grasshopper e programas como esse, até mesmo no primeiro e segundo anos de estudos. Até agora o que eu vi é que a faculdade responde a isto. Eles oferecem os cursos que os alunos querem, e há institutos trabalhando nisto.
GC: E a fabricação digital? As máquinas estão disponíveis?
MD: Não no começo, mas um pouco mais tarde estão disponíveis para eles. As escolas têm máquinas CNC e de corte a laser. E agora impressoras 3D... nós temos um braço robótico (na universidade de Stuttgart), e a TU Graz comprou três braços robóticos, não tão grandes como em Stuttgart, no entanto.
GC: Você acha que isto aconteceu nas melhores universidades técnicas ou está se espalhando na maioria das escolas de arquitetura?
MD: Eu não sei se está se espalhando, mas eu acho que está bastante comum. Eu tenho estado mais em Stuttgart e Graz, que são consideradas escolas de excelência (para isto). Mas eu também ensino na Saarbrücken com o escritório Pohl Architects com o qual eu tenho cooperado, e você está certa, eles não estão familiarizados. Mas sempre de uns 20 estudantes há alguns interessados em Grasshopper e programação.
GC: Mas isto não está inserido no currículo, certo?
MD: Não, geralmente não. Mas eu sou muito cético sobre como deveria ser implementado. Eu entendo programação não como uma ferramenta para experimentação, mas como uma ferramenta para automatizar e fazer trabalhos sérios. Mas o que eu tenho visto, é apenas experimentação. Eles usam Processing, Grasshopper, para explorar de um modo não muito útil. O produto dessa exploração é geralmente apenas algumas fotos bonitas.
GC: Você acha que é por que os professores ainda estão aprendendo sobre isto? Eles ainda não têm certeza do que pode ser feito com isto...
MD: Essa é uma das razões principais. Esses institutos (ou laboratórios) estão abrindo em todo o mundo, como o Instituto para Projeto Computacional da Universidade de Stuttgart. Eu sinto que os líderes desses institutos são pessoas que vêm mais da teoria do que da prática. Eu não posso dizer se isso é melhor ou não. Do meu ponto de vista isso não é bom. Eles mesmos não sabem como programar em alto nível. Eles pegam alunos de doutorado que sabem algo e eles tentam produzir algo de alguma maneira. Mas sem a compreensão do que é possível, geralmente os produtos não são satisfatórios. Aqui em Stuttgart talvez seja um pouco melhor, pois eles estão construindo esses pavilhões... você pode realmente ver alguma aplicações. Mas minha inclinação é que tudo aconteceu por conta (do professor Jan Knipper’s do Instituto BuildingStructuresandStructural Design – ITKE, no qual eu estudei, eles trouxeram a aplicabilidade, eles fazem a análise estática e pensam na produção. Na maioria dos casos você não tem esse tipo de parceria. Se você buscar no Google a expressão projeto paramétrico e olha as imagens, não há objetos construídos. Há apenas infinitas imagens de objetos paramétricos e algumas formas orgânicas da ZahaHadid, o que não é realmente projeto paramétrico. Eu estou familiarizado com muitos desses edifícios e apesar de haver muitas explorações feitas no Grasshopeer, no final eles descobrem os limites desses programas e fazem manualmente, pois eles não têm tempo (para implementar). Projeto paramétrico verdadeiro é muito raro. Do que as pessoas consideram ser projeto paramétrico no mundo, 95% não é realmente.
GC: E o que você acha do papel da análise estrutural na formação de arquitetos?
MD: Os estudantes aqui não sabem o suficiente. Mas eu não sei o quanto é suficiente. Tudo tem se tornado tão complexo que você não consegue cobrir tudo. Tem uma piada famosa sobre arquitetos e engenheiros. Os arquitetos tendem a saber menos e menos sobre mais e mais, até que eles não sabem nada sobre tudo, enquanto os engenheiros tendem a saber mais e mais sobre menos e menos, até que eles sabem tudo sobre nada. Na educação de arquitetos algo tem que ser decidido, se você quer continuar nesse caminho ou não. O campo está se tornando muito vasto. O projeto estrutural está se tornando tão complexo, o projeto paramétrico está se tornando tão complexo, a programação é tão complexa... você quer realmente cobrir tudo isso? Então você irá se tornar alguém que sabe muito pouco sobre muitas coisas. E se você sair da Universidade assim não pense que você está preparado para fazer tudo. Eu penso que você deve escolher uma direção bem cedo, algo como após um ano de estudo. Você tem que escolher. Eu quero continuar com programação, eu quero aprofundar em design estrutural, etc. E então você passa outros quatro anos em um treinamento específico. Em projeto paramétrico, se você teve apenas um semestre experimentando com Processing ou Grasshopper, esqueça, isso não é nada. Para mim isso é jardim de infância, apenas experimentar com modelos, é só isso. Se você quer programar com seriedade, então faça isso por quatro anos. Aprenda uma linguagem, aprenda C++, aprenda C# e então faça algo aplicável, faça alguma automatização, faça a automatização do desenho arquitetônico. Mas se eu faço isso por apenas um semestre, criando esferas infinitas, experimentando com swarming em Processing, é uma experimentação, como num jardim de infância, mas aí você vai trabalhar e precisa projetar um edifício e é muito complicado. Em alguns estúdios e escritórios eles podem bancar isso. Eu tenho um amigo que trabalha para a ZahaHadid e eles podem gastar em experimentar bastante. Eles têm seis meses de pesquisa quando eles fazem programação e scripting abstratos, e teoricamente no final eles obtêm um projeto. Mas não tenho certeza... é apenas um processo de experimentação e eu não vejo a aplicabilidade, é muito nebuloso. Eu sou mais como um engenheiro.