Thiago Stivaletti: Fale um pouco sobre o trabalho de fotografia do Lauro Escorel e de direção de arte com o Adrian Cooper. Quais foram as ideias discutidas para a luz e a câmera do filme?
Roberto Gervitz: Nós três já tínhamos trabalhado juntos em Jogo subterrâneo, somos amigos há cerca de 30 anos, temos muitas afinidades e um alto grau de confiança mútua. Começamos a discutir o tratamento visual do filme cerca de um ano e meio antes das filmagens. Desde o começo eu pensava em um filme estritamente realista e essencial. Ao final, estabelecemos uma paleta de cores mais fria, em consonância com a luz de outono/inverno porto-alegrense, adequada à história que tínhamos. Dentro dessa paleta de cores menos saturadas, trabalhamos o clima de cada cena e cada ambiente sem nos amarrarmos a um conceito a ser aplicado a todo o filme. Isso é algo que o Lauro costuma adotar, o que pode evitar a previsibilidade e um aprisionamento estético.
Em todo o filme há sempre uma realidade econômica que se impõe e deve ser incorporada à proposta. Tanto o Adrian como o Lauro se superaram, atingindo um resultado surpreendente. De minha parte, abri mão de alguns recursos em favor de mais tempo de filmagem e preparação. Utilizei, na maior parte do tempo, a câmera na mão, operada pelo próprio Lauro, o que nos deu maior agilidade e a pulsação que pretendíamos.