Thiago Stivaletti: Como foi lidar com a logística de produção de Prova de coragem? Eram muitas locações diferentes?
Roberto Gervitz: Além das três locações principais que concentram a maior parte das cenas, havia várias outras, algumas das quais de difícil acesso para os equipamentos e a equipe. Mas o fato é que tudo foi enfrentado com muito planejamento. Por haver inúmeras externas, filmamos em abril e maio, período menos chuvoso e o de melhor luz. E a Monica [produtora] decidiu que o Adrian Cooper começasse a fazer viagens periódicas comigo para Porto Alegre para irmos à busca de locações, seis meses antes da pré-produção. Guiados pelos produtores de locação, pudemos conhecer a fundo as regiões da cidade que nos interessavam. As locações são sem dúvida um ponto alto deste filme. A equipe coordenada pela Produtora Executiva, Liliana Sulzbach, trabalhou de forma rigorosa e intensa; só isso, aliado ao esforço dos outros departamentos, nos permitiu enfrentar a complexidade das filmagens que tivemos, sem utilizar sequer uma hora extra.
TS: Fale um pouco sobre a relação com a produtora Monica Schmiedt. Qual a contribuição dela para o desenvolvimento artístico do projeto?
RG: Monica e eu nos conhecemos há muitos anos. Eu sempre admirei a sua ousadia para encarar projetos que envolviam trabalhos desafiadores de produção como Anahy de las Misiones e Extremo sul.
Creio que ela adquiriu os direitos do livro pelo fato de o personagem do livro se defrontar com questões relacionadas a uma difícil escalada (esporte que ela pratica) que surge como um refúgio possível diante dos dilemas que a vida coloca diante de si. Monica era uma mulher determinada e guerreira. A tenacidade foi sua marca. Somente um produtor artisticamente comprometido com um filme pode lutar como ela lutou para criar as condições necessárias para atingir tal nível de produção. Ela sempre teve total consciência das minhas decisões e do que eu pretendia com esse filme. Além do mais, a Monica foi a grande estrategista das filmagens das escaladas, não só indicou a nossa principal locação, o Salto Ventoso, como formou uma equipe de feras na arte de escalar, o que garantiu segurança e condições para que as filmagens transcorressem de forma satisfatória. Dedico esse trabalho à sua memória.
TS: Você estreou em longas-metragens com o documentário Braços cruzados, máquinas paradas em 1979, e na ficção com Feliz ano velho, em 1987. O que mudou no seu modo de fazer cinema hoje, quase 40 anos depois de começar?
RG: O fazer cinema é algo que muda constantemente, fruto das nossas próprias transformações, de novas preocupações, do aprendizado, do desejo de crescer artisticamente e percorrer novos caminhos. Em 40 anos certamente muita coisa mudou. Eu era um garoto de 20 anos quando fiz Braços cruzados, como não poderia mudar? A cada novo projeto sempre me sinto como se fosse pular no vazio, e de certa forma é isso mesmo. Mas o que talvez tenha mudado é que hoje eu tenho mais certeza que ao final vou chegar em algum lugar, já percorri um caminho, estou na estrada.