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interview ISSN 2175-6708

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Entrevista com Tod Williams e Billie Tsien sobre a filosofia e obra do escritório, que apresenta uma arquitetura lastreada em princípios sensitivos destacando os detalhes, a exploração das texturas dos materiais e os efeitos da luz.

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SANTOS, Julianna; MOREIRA, Fernando Diniz. Entrevista com Tod Williams e Billie Tsien. Sobre o pensamento e obra do escritório TWTB. Entrevista, São Paulo, ano 18, n. 070.01, Vitruvius, abr. 2017 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/entrevista/18.070/6498>.


Skirkanich Hall Universidade da Pennsylvania, Filadélfia 2004-2006. Escritório TWBT
Foto divulgação [Website TWBT]


Julianna Santos / Fernando Diniz Moreira: Ao mesmo tempo em que suas obras são calcadas na filosofia, há no desenvolvimento dos projetos uma intensa produção de esquemas, diagramas e aquarelas. Como e em que momento tudo isso se junta?

Billie Tsien: Eu acho interessante o uso da palavra filosofia, mas acho que poderia ser trocada por valores. Acredito que nós sempre operamos com o senso específico de valores, valores simples, como tentar fazer um mundo melhor.

Tod Williams: Eu acho que isso é a verdade para todo o nosso escritório. Acho que nós compartilhamos os mesmos valores. O que acontece é que, os valores estão conectados, como disse Tod, estamos realmente tentando ser uma família, nos conectar uns com os outros no escritório e também fazer um trabalho que pareça responsável e ético. Eu acho que esses valores estão relacionados ao fato de serem muito práticos.  Começamos um projeto com o que nós acreditamos e com decisões muito práticas. Os esquemas e diagramas demonstram isto. Após chegarmos a um estágio no qual a solução dos problemas principais esteja resolvida, é que passamos a tentar pensar em algo que seja maravilhoso, algo que transcenda o prático.

TW: Gostaríamos de pensar que somos éticos em vez de autores ou artistas. Queremos nos pensar como servos, os servos mais nobres. Queremos servir pessoas na terra com o trabalho que fazemos. Acreditamos em construir bem os edifícios, por que é uma medida de nossa integridade. Então, quando começamos nossos projetos, começamos devagar, por que queremos achar a melhor forma de conduzi-lo. Billie diz que há as questões práticas e talvez elas sejam melhores resolvidas pensando, saindo juntos, tendo momentos de silêncio e talvez desenhando, olhando para algo e lembrando de alguma coisa parecida que tenha riqueza de valores.

BT: Há uma intensa produção de esquemas, diagramas e aquarelas, mas não são muitos esquemas que estamos olhando. De fato, estamos sempre pegando um esquema e tentando desenvolvê-lo. Algumas vezes quando você olha para seu esquema, você tenta esclarecer a ideia fazendo um diagrama. Então começa-se por resolver problemas, mas depois tenta-se abstrair do que você fez para tentar resolvê-los. Tod, provavelmente, faz mais desenhos à mão, mas eles estão sempre de certa forma ao lado ou nas extremidades da página. Então, nunca é, na verdade, o tema do desenho. Há a parte prática e há a parte imaginativa, que é sempre bem menor na lateral e não tanto uma aquarela composta como uma exploração ou nota sobre uma ideia.

TW: Isso. E como essa ideia é muito incipiente, como uma criança, como se não fosse bem desenvolvida ainda, que precisa de discussão e cuidados para chegar ao centro de algo que mereça persistência. Por isso prefiro deixa-los à margem... Me contento em não centralizá-los até que ache os meios para que eles comecem a se mostrar viáveis.

BT: Então eu diria que as pessoas estão em primeiro lugar, depois as soluções práticas, depois nos juntamos às pessoas da equipe e conversamos com eles para que comecem a desenvolver algumas das ideias e depois voltamos a conversar.

TW: Mas eu diria: é preciso falar primeiro com o cliente e depois com as pessoas da equipe.

BT: Isso.

TW: Porque precisamos nos certificar de que o cliente está interessado nessa abordagem. Muitos clientes, e em particular os clientes comerciais, querem uma resposta rápida e nós queremos que as respostas apareçam aos poucos, e que elas sejam cuidadas como uma criança e que cresçam como um adulto completo. Acreditamos que um edifício deve ser feito com integridade, e isto exige um passo mais lento.

Skirkanich Hall Universidade da Pennsylvania, Filadélfia 2004-2006. Escritório TWBT
Foto divulgação [Website TWBT]


JS/FDM: Vocês reconhecem a existência de argumentos estruturantes e de formas de organização material que se repetem ao longo de suas obras? E, caso afirmativo, como poderia identifica-los?

BT: Acho que uma das características que sempre aparecem é que queremos que nossas construções pareçam conectadas ao solo, pareçam ter emergido dele, do manejo do terreno, como no Neurosciences Institute em La Jolla. Então, usamos bastante concreto. O concreto está em grande parte de tudo que fazemos.

TW: Acho que a estrutura serve ao edifício, mas não é o edifício em si. Gosto bastante do trabalho de Angelo Bucci. A estrutura é um elemento primário no trabalho dele. Acho maravilhoso, portanto, a estrutura é crucial, da mesma forma que os ossos do nosso corpo. A estrutura é importante e os materiais também o são. Com certeza concreto é um material primordial, mas o vidro, para nós, é um material primordial. A madeira e a pedra também. Gostamos de usá-las e de explorar usas texturas.

BT: Então, eles são basicamente os materiais primordiais. Gostamos de explorar as texturas das madeiras e das pedras, pois, elas convidam ao toque, talvez o nosso sentido primordial, tão desvalorizado perante a visão. As superfícies destes materiais têm uma linguagem própria, mostram suas origens, técnicas construtivas antigas, a passagem do tempo, enfim, elas nos conectam com nossos antepassados.

TW: Exatamente, por isso a madeira e pedra sempre aparecem em nossos projetos. É algo que vem da arquitetura moderna. Por sinal, vemos isto muito na arquitetura moderna brasileira. Vocês têm madeiras e pedras maravilhosas no Brasil.

JS/FDM: Em seus trabalhos, as ideias precedem a manipulação da matéria ou do espaço? É possível falar dos conceitos antes assumam uma forma material ou se a verbalização é uma reflexão tardia, não necessariamente formulada a priori... Como vocês descreveriam suas ideias?

TW: Certamente o conceito não é um conceito completo, como muitas pessoas defendem. Um perfeito, digo, terrível exemplo, é Peter Eisenman, pois ele primeiro idealiza um projeto por meio de um conceito, que é levado até o fim, é expresso na forma do edifício quando se torna um elemento formal vazio de significado. Para nós o conceito é o início de um pensamento e este pensamento começa a crescer e é apoiado pelo desenvolvimento do projeto. Mas, outra vez, lembramos que este pensamento tem de ser embasado por valores, se não ele se esvazia, não tem méritos, em minha opinião.

BT: Então, geralmente nós tentamos fazer uma representação abstrata da ideia.

TW: São metáforas que mantemos na cabeça. Não são realmente ideias, são pensamentos.

BT: Acho que são mais metáforas. De certa forma, criamos uma imagem e voltamos a essa imagem porque é mais pura que a arquitetura...

TW: Não há como falar disso e dizer  “isto é meu, isto é seu”. É uma ideia, um pensamento que compartilhamos.

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