Julianna Santos / Fernando Diniz Moreira: Vocês lecionam em algumas universidades nos EUA. Como avaliam o ensino de arquitetura atualmente?
Billie Tsien: Nós temos ensinado principalmente em Yale, apesar de nos últimos semestres estarmos ensinando na Universidade de Arkansas. Apesar de não estarmos nas universidades em tempo integral, achamos maravilhosa a oportunidade de estar em contato com os estudantes e com os professores, pois nos ajudam a ter novas ideias.
Tod Williams: Depois na primavera, estaremos em Harvard. Acho que representamos um pequeno percentual de como as pessoas ensinam nos EUA. Acho que somos menos interessados em fazer a teoria primeiro. Queremos que a teoria trabalhe em conjunto com a prática. Não trazemos logo uma ideia e construímos arquitetura a partir disso. Claramente estamos nesse estágio de praticantes mais velhos. Nós não somos mainstream, nem queremos e nem podemos ser mainstream. Eu realmente acho que há professores maravilhosos vindo de fora. Angelo Bucci é um exemplo perfeito. Acho que é um excelente professor. Vem com uma ideia mais ampla do que é arquitetura. Outro da América do Sul é o Sandro Cruz do Peru. É legal ver esses visitantes de longe e também nossos colegas doa EUA. Mas lembre-se não somos professores em tempo integral. Apesar de adorarmos estar ensinando, não é nossa missão principal. Não é o principal em nossas vidas.
BT: Acho que uma das coisas que falta na educação das escolas de arquitetura é uma atenção maior à menor escala. Acho que há o desejo de se resolver problemas muito grandes, como a questão da sustentabilidade e do crescimento da cidade. Acho que também temos de prestar atenção a escalas menores, porque acho que os estudantes estão aprendendo a pensar de forma muito grande, mas não entendem quão grande deveria ser uma mesa como resolver um detalhe. Não estão entendendo as escalas humanas ainda. Talvez possam aprender isso na prática, mas acho que é algo bom se ter uma conexão com isso ainda na faculdade.
TW: Concordo totalmente com a Billie. Um exemplo perfeito que vocês têm é Brasília, que foi projetada de uma forma tão rápida e tão ampla que apresenta enormes problemas na escala mais íntima. Eu acho que há uma ênfase muito grande nos projetos de grande escala.
BT: A mesma coisa é verdade em Chandigarh por conta das ruas muito amplas.
JS/FDM: Vocês veem algum ponto específico no ensino atual de arquitetura que é bastante influente ou realmente importante para a arquitetura contemporânea?
TW: Acho que há alguma coisa acontecendo, não quero falar sobre a educação brasileira porque não conheço. Eu diria que nos EUA, na época em que estudava, o foco na arquitetura era o desejo arquitetônico. Não incluía interiores, paisagismo, nem a dimensão tectônica. O que acho bem positivo hoje é a abertura do ensino de arquitetura. Está mais inclusivo e pode ser concretizado de várias formas. Também posso pensar que parte desta abertura tem está claramente relacionada à inclusão das mulheres e dos diferentes grupos raciais. É m panorama bastante animador e estimulante. Entretanto, é importante lembrar que para realmente se fazer um bom trabalho demora-se mais para entender o que ele significa e não se pode fazer isso em apenas alguns anos, leva-se uma vida.
BT: Eu também diria, como Tod mencionou, que a educação esta se ampliando, seria muito importante incluir uma maior abertura a diferentes formas culturais. E um dos problemas com as faculdades de arquitetura é que fazem as pessoas estreitarem sua visão, quando deveria ser o oposto. Acho que um arquiteto deveria saber sobre arte, história das nações, dança, literatura. Não é que devem deixar de ser experts, mas estamos lidando com tantos aspectos da vida das pessoas que não podemos adotar uma visão estreita, mas, pelo contrário, uma visão mais ampla.
TW: É interessante. Quanto mais ferramentas modernas nós temos, como os computadores que nos ajudam a modelar as coisas, na verdade, sabemos menos sobre a construção e a relação entre a gente e formas tradicionais de se construir que estão desaparecendo. Pensamos que estamos mais poderosos, mas, na verdade, estamos menos confiantes. Sabemos menos porque imaginamos que sabemos fazer mais coisas do que realmente podemos. Como David Chipperfield disse em outras palavras... como foi mesmo, Billie?
BT: “Quando perdemos a confiança em construir nós passamos a depender da forma”.
TW: Forma como imagem. Não somos confiantes. Por isso somos atraídos pelas estrelas de cinema. A imagem é bonita, mas não nos preocupamos com seu interior. Como estamos mais interessados pela imagem, estamos menos interessados pelo interior, na minha opinião.