Durante meu período sabático no Massachusetts Institute of Technology – MIT, de março a junho de 2018, acompanhei uma nova disciplina do Mestrado Profissional em Arquitetura, oferecida no 4º semestre do programa, com 3 anos de duração. A disciplina chama-se Architectural Assemblies, e foi ministrada pelos arquitetos Marc Simmons e John Klein. O programa da disciplina (1) deixa clara sua intencionalidade, apresentando uma foto de um carro completamente desmontado, com todas as peças espalhadas pelo chão. O edifício é entendido aqui como um produto a ser montado a partir de componentes industrializados e, consequentemente, com a qualidade de design e produção que encontramos na indústria automobilística.
Marc Simmons é bacharel em arquitetura pela Universidade de Waterloo, no Canadá, uma escola em que os estudantes passam parte de cada ano em estágios. Trabalhou em vários escritórios ao redor do mundo (Roma, Pescara, Paris, Kioto, Cingapura, Hong Kong e Vancouver), sendo que o escritório de Norman Foster em Hong Kong foi o mais influente em seu trabalho. Como resultado, levou nove anos para concluir seu curso. Ele é sócio-fundador da Front (2), Nova York, uma consultoria de fachadas responsável pelo detalhamento e execução de obras para escritórios renomados como os de Zaha Hadid, Renzo Piano, Shigeru Ban, Sanaa, Snohetta, Herzog & De Meuron, OMA, SHoP, Richard Meier, Gehry & Partners, David Chipperfield, Jean Nouvel, Scoffidio + Renfro, Steven Holl, Asymptote, Tadao Ando, Andrade Morettin e Triptyque, estes dois últimos no Brasil. Simmons foi professor nas universidades de Columbia, Princeton e Georgia Tech antes de lecionar no MIT.
A entrevista com Simmons é dividida em quatro partes. Na primeira, ele fala sobre sua formação acadêmica na Universidade de Waterloo, no Canadá, entrelaçada com sua trajetória profissional. Ele é apontado como um dos dez ex-alunos mais notáveis de sua Universidade pela Wikipedia (3). Apesar de se definir como um engenheiro de fachadas (façade engineer), ele possui uma base sólida em arquitetura e urbanismo, incluindo aspectos técnicos e teóricos, o que lhe permite afirmar, por exemplo, que para se fazer um bom detalhamento é preciso entender do contexto urbano ao tecnológico em que um edifício está inserido. A conversa nos faz refletir sobre a importância da experiência prática na formação dos arquitetos.
Na segunda parte, Simmons fala sobre a empresa Front: como surgiu, que tipo de consultoria oferece, qual o nível de envolvimento com os escritórios de arquitetura e quais os projetos dos quais ele mais gostou de participar. Nesse trecho fica claro o nível de complexidade que a construção está atingindo com o uso das novas tecnologias, e ao mesmo tempo o crescente distanciamento entre as tecnologias de construção tradicionais e as contemporâneas.
O envolvimento com a academia e a disciplina oferecida no MIT por Simmons são o tema da terceira parte da entrevista. Sua atuação no ensino começou cedo, participando em bancas de projeto na Universidade de Hong Kong, oferecendo palestras na Universidade de Waterloo, e em seguida como professor adjunto nas Universidades de Columbia, onde deu aulas com Bernard Tschumi, e de Princeton, a convite de Stan Allen, participando de ateliers de projeto com Iñaki Ábalos, Juan Herreros, Hani Rashid e Alejandro Zaera Polo.
Depois disso, a convite de Chuck Eastman, Simmons foi selecionado para ocupar a distinta cadeira Thomas W. Ventulett III na Georgia Tech e, após o término de seu contrato, foi convidado a atuar como Professor of the Practice pelo Departamento de Arquitetura do MIT. É importante frisar que o número de Professors of the Practice e de professores em tempo parcial que a Escola de Arquitetura e Planejamento do MIT pode contratar é limitado a no máximo 10% do corpo docente em tempo integral, um número relativamente baixo, considerando a importância do conhecimento prático para a área. Nas demais escolas do MIT o limite estipulado é de apenas 5% (4).
Ao final da entrevista, quando lhe pedi sua opinião sobre a arquitetura brasileira, a resposta de Simmons foi muito semelhante a um comentário de Walter Gropius sobre os edifícios de Niemeyer: “Os prédios de Niemeyer são sempre interessantes e ousados na sua concepção, mas ele parece dar pouca atenção aos detalhes, o que acaba comprometendo a qualidade dos edifícios” (5), disse Gropius.
notas
1
Architectural Assemblies. MIT 4.123 Lecture - Architecture + Urbanism <https://bit.ly/2CAMYVs>.
2
Website Consultoria de fachadas Front <https://bit.ly/2OeFVYA>.
3
University of Waterloo School of Architecture. Wikipedia, the free encyclopedia, 4 jul. 2018 <https://bit.ly/2zZnVZT>.
4
2.3 Academic Instructional Staff Appointments. MIT Policies <https://bit.ly/2RxqR6J>.
5
GROPIUS, Walter. Um vigoroso movimento. In XAVIER, Alberto (Org.). Depoimento de uma geração: Arquitetura Moderna Brasileira. São Paulo, Cosac Naify, 2003. p. 153-154.