As duas primeiras entrevistas desta série envolveram personagens da cena norte-americana, ambos agentes representativos do contexto cultural da arquitetura contemporânea, Peter Eisenman, norte-americano, professor de Yale na costa leste dos Estados Unidos, arquiteto de relevância internacional, e Hernán Diaz Alonso, argentino, arquiteto em Los Angeles, na costa oeste dos Estados Unidos e Diretor da SCI Arc, escola de arquitetura de relevância internacional. O próximo par de entrevistas repete a receita, com nomes do contexto cultural da arquitetura contemporânea europeia. Rodo Tisnado, peruano, professor visitante de diversas escolas de arquitetura francesas e peruanas e sócio-fundador do Architecturestudio em Paris, coletivo de relevância internacional, e Pierre Fernandez, francês, arquiteto de Beau Marché e diretor da Ecole Nationale Supérieure d´Architecture – ENSA à Toulouse, no sudoeste da França, referência internacional na pesquisa da Arquitetura e meio ambiente e da transição ecológica.
Assim, binômios representativos do ofício e da academia, da América do Norte, Europa e América do Sul, irão se sucedendo nesta sequência de entrevistas que concorrem para desvendar o futuro da profissão e da educação do arquiteto no século 21.
Motivado pela revisão do Movimento Moderno em solo brasileiro nos anos 1980 e em marcha para entender e pesquisar as novas tendências da arquitetura no final do milênio, fui à França em 1991 estudar as novas abordagens da arquitetura e o meio ambiente, tema emergente diante da crise da Arquitetura Moderna daqueles tempos. A partir de Toulouse, do então Laboratoire d´Architecture Bioclimatique da Ecole d´Architecture à Toulouse, sob orientação do Prof. Dr. Pierre Fernandez, coordenador do acordo Capes/Cofecub, aproveitei a estadia e audaciosamente me candidatei a entrevistas com importantes arquitetos franceses para discutir as crises de fim de século. O Architecturestudio, escritório de avant-garde na cena francesa, repercutia internacionalmente com o projeto para o Institut du Monde Arabe, feito em parceria com Ateliers Jean Nouvel. A tentativa de visitar o escritório e entrevistar algum dos fundadores, no entanto, esbarrou em problemas de agenda, mas a viagem a Paris foi compensada com um encontro com Christian Portzamparc, da Cité de la Musique, e Paul Chemetov, do Ministère des Finances, em seu extraordinário escritório que envolvia a Maison Plainex de Le Corbusier (1).
Em 2018, nova crise, nova pesquisa e nova ida à França. Novo encontro com Paul Chemetov no mesmo escritório, mas sem a Maison Plainex, e finalmente visita e entrevista no Architecturestudio, no escritório da Rue Lacuée, no 12° Arrondissement, a noroeste de Paris, próximo a Opera Bastille, em um quarteirão triangular. Um bairro "post-haussmaniano", segundo Tisnado, com pequenas indústrias. Em miolo de quarteirão, transformado em estufa para cultivo de plantas medicinais, após a I Guerra e reciclado para quatro escritórios de jovens arquitetos, nos anos 1980, Architecturestudio, a partir dos anos 2000 se expandiu por edificações lindeiras e subsolos que chegam até o Jardin du Port et du arsenal frente ao Canal St Martin. Esperamos Rodo Tisnado em um átrio adornado por frondoso Caucho Amazonico que se enrosca ao redor de um ficus europeo e por um módulo da fachada do Institut du Monde Arabe. Rodo chegou elétrico, em roupas esportivas, e com toda a pinta de um workaholic nos explicou que a entrevista foi possível pois eram seus dias de férias. Fiquei preocupado em estar perturbando, mas dado o bom humor e a irreverência de Rodo, restou a sensação de que a entrevista foi uma distração. Circulamos por aquele escritório gigantesco e labiríntico, coalhado de colaboradores de todas nacionalidades como uma torre de babel. Todos ocupadíssimos, mas com um semblante sorridente a cada apresentação. Depois salas e mais salas com maquetes, protótipos e arquivos e, finalmente, vencido o labirinto com uma sucessão de compartimentos impressionante, estacionamos em uma sala em nível inferior, por onde, através de uma janela elevada, se vislumbravam as canelas de transeuntes no Boulevard de La Bastille. A conversa fluiu fácil.
nota
1
O material destas pesquisas foi incorporado na pesquisa de mestrado intitulada "Arquitetura contemporânea no Rio Grande do Sul: mudanças de paradigmas nos anos 1980" realizada no Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – Propar da Faculdade de Arquitetura da Universidade Federal do Rio Grande do Sul – FA/UFRGS apresentada em 1999, com orientação do Professor Arq. Dr. Elvan Silva e publicada pela editora Ritter dos Reis. Ver MARQUES, Sérgio Moacir. A revisão do movimento moderno? Arquitetura no Rio Grande do Sul dos anos 80. Porto Alegre, Editora Ritter dos Reis, 2002.