Sérgio Moacir Marques: Obrigado por nos receber, Rodo. Gostaria de fazer algumas perguntas, dentro do contexto do projeto de pesquisa que enviei anteriormente. Posso gravar?
Rodo Tisnado: Sim, claro, esta entrevista tu és livre para gravar, traduzir, interpretar etc.
SMM: Obrigado. Mas é uma pesquisa acadêmica, portanto antes de publicar a entrevista, sempre envio a transcrição para tua avaliação antes.
RT: Ótimo. O único que gosto de corrigir, nestes casos, são as imprecisões. Por exemplo, se dizes que nosso escritório tem mil pessoas e na verdade tem cento e cinquenta... Em troca o que tu escreves é tua responsabilidade!
SMM: (risos) Sim, claro. Mas esta revisão é importante.
RT: Bem, no e-mail tu falaste sobre tua atuação como professor e arquiteto no Brasil e que estás fazendo um estudo sobre as universidades latino-americanas...
SMM: Sim, comentei que sou filho de um arquiteto das primeiras gerações do Movimento Moderno no sul do Brasil...
RT: És filho do inventor da Arquitetura Moderna no Brasil?
SMM: (risos) Do Brasil não, mas um dos do sul do Brasil, sim...
RT: Dá no mesmo. Do Brasil veio toda a Arquitetura Moderna!
SMM: Bom... acho que soubemos interpretar bem...
RT- Claro, e além disto os outros países estavam em guerra. Estas colunas modernas colossais, só o Brasil produziu, estes balanços, rampas e escadas que param no ar...
SMM: É a irresponsabilidade brasileira? (risos)...
RT: Não, não, isto em outros países como Peru e Chile não se pode fazer. E também existem sismos! O terreno se move e tudo isto cai...
SMM: Sim, mas no Brasil se movem outras coisas... São mais subjetivas mas também se movem como terremotos...
RT: (Risos) É verdade.
SMM: Bem, mas minha tese de doutorado fala sobre esta arquitetura no sul do Brasil (mostrando o livro FAM).
RT: A geração do teu pai?
SMM: Sim, meu pai fez este edifício que está na capa e vive aí...
RT: Até agora?! Onde está isto?
SMM: Em Porto Alegre.
RT: São três andares? Um apartamento por andar?
SMM: Sim, com três famílias de arquitetos por andar.
RT: (Risos) É o mundo da arquitetura e dos arquitetos. Estes são automóveis de época (apontando para um Corcel I e um TC Karmann Ghia da foto do FAM)?
SMM: Sim. O projeto e a construção são da década de sessenta. Eu vivi alguns anos neste edifício.
RT: Claro, nos anos sessenta eu estava pensando em ser arquiteto também...
SMM: Eu nasci nos anos sessenta mas fiz o curso de arquitetura nos anos oitenta, os anos da crise do Movimento Moderno no Brasil e do Pós-Modernismo. Isto para mim foi muito forte.
RT: Ah, claro, nestas relações de modernidade... não sabias como manejar... Brigaste com teu pai?
SMM: (risos) Sim... Não... não foi um problema freudiano (risos). Eu resolvi estudar para entender o fenômeno. Realizei uma pesquisa de mestrado sobre este período. Inclusive aproveitei um curso sobre Arquitetura e Meio Ambiente, que fiz em Toulouse, aqui na França, no início dos anos noventa, e vim a Paris entrevistar arquitetos sobre o assunto. Com o Architecturestudio, daquela vez não consegui agenda... Consegui visitar Christian Portzamparc e Paul Chemetov.
RT: Nestes anos nós havíamos acabado de fazer o Instituto do Mundo Árabe. Estávamos a mil nesta época.
SMM: Por isto procurei vocês. Mas agora tenho um filho que também é estudante de arquitetura. E estamos diante de outra crise...
RT: Cada vez que estás em crise vens à França (risos)! Tu também és arquiteta (pergunta para Mônica)?
Mônica Bohrer: Sim!
RT: Cada geração é uma crise! Tu vais fazer estudos do que agora? Sobre crises (risos)?
SMM: (Risos) Não... sobre a educação do arquiteto para o futuro...
RT: Ah, OK!... Mas o que tu denominas como crise na atualidade? Porque hoje não há uma crise importante de arquitetura, e sim uma crise econômica. Estive em Brasília nos anos sessenta como estudante, e faz dois anos, fui ao Brasil novamente. E também estive em São Paulo e no Rio de Janeiro. Brasília está perfeita e ainda se pode caminhar, é uma cidade encantadora. Mas São Paulo e Rio estão tão perigosas... Fomos com a equipe do escritório. Éramos um grupo de vinte e quatro pessoas e fomos assaltados vinte vezes! Por pequenas e grandes coisas.
SMM: Em Brasília, no plano piloto, é seguro. Podes estar em qualquer lugar, com alguma atenção. Mas no Rio e em São Paulo creio que o problema talvez tenha sido o fato de estarem todos juntos. Aí viram um alvo.
RT: Sim, um rebanho... Mas também, sob o ponto de vista econômico, além da insegurança, me pareceu que havia pouca construção... O que tu chamas de crise da arquitetura atual no Brasil?