Oscar Eduardo Preciado Velásquez: Bem, aqui no Equador eu encontrei essas diferenças bem marcadas ... existe o reciclador e o bilionário, e você consegue isso ainda mais fazendo arquitetura, e às vezes temos desencontros porque alguns temos essa veia social, mas há muitas pessoas que não. No Brasil, nas reuniões em que estive, há dois trabalhos seus que sempre são discutidos. Tem, Casa para alguém como eu e o Projeto Chacras em Arenillas. Algum comentário em geral?
José Gómez: O projeto Chacras realmente é um projeto que muitas pessoas, mesmo na Europa, na Alemanha, escrevem e desejam. O fato de ter alguns paletes e saber apenas como arranjá-los e trabalhar com a comunidade. Esse projeto foi, há 2 anos, Oscar. Nós dissemos okey, vamos fazer uma casa para o terremoto. Mas o que acontece, se fizermos uma casa e deixamos assim? Temos que fazer uma casa que seja realmente produtiva. Nesse caso, as pessoas fizeram dele uma plataforma e os meninos se apropriaram dessa plataforma para vender almoços. Agora eles nao só moram aí, mas usam a casa com uma plataforma produtiva.
A partir daí sempre os projetos, não apenas são feitos para o que eles querem ser, mas para o que eles podem um dia ser. Nesse caso, por exemplo, eu quero fazer um projeto de uma casa, mas o que acontece se essa casa se tornar um Centro Cultural? Por exemplo, a Casa entre Blocos (se você vir o dia sábado eu posso te mostrar) é a casa de um jovem que tinha US $ 12.000 e pensou que ele faria apenas um quarto com esse dinheiro e no final acabou sendo uma casa inteira e essa casa agora (tem) um nível de produção cultural em que ele faz festividades, exposições de arte. Então o privado se torna público, e a casa deixa de ser apenas para você, mas você a compartilha para os outros.
Esse espaço fechado é permeado um pouco... eu mais ou menos li algumas coisas que falam quando esses projetos são concluídos, são feitos através de estratégias para promover a economia familiar, uma coisa que eu considero (como se diz no Brasil) ótima, onde através de hortas familiares, o dono da casa fica incluso e ele recebe um emprego que é finalmente a única saída desse estado que eu não gosto de chamar de pobreza, mas de precariedade.
JG: A dignificação.
OEPV: Esse processo de arquitetura participativa, no qual o Equador é referência na América Latina, sem dúvida, tem suas bases, de acordo com algumas coisas que eu pesquisei nas chamadas mingas, que é uma palavra kichwa para definir o trabalho coletivo em ajuda comunitária. O que seria, de acordo com o seu ponto de vista, essa maior contribuição, essa maior herança desses conhecimentos ancestrais para o seu processo?
JG: Então, deixa eu te falar, quase não há mingas na região da Costa. Isso é muito da região da Serra, dos meninos de lá. A coletividade lá está bem marcada. É tipo assim, todos os grupos de arquitetura de lá são muito amigos. Na região da Costa, temos cerca de 5 anos, 10 anos-luz disso. Aqui há muita individualidade e não é por nossa culpa, é por causa do sistema, da academia. Eles ensinam os meninos desde crianças a serem muito individualistas. O meu é meu e o seu é seu. Ali não, há uma referência de que na própria escola eles começam no sábado a fazer uma minga, já quando crescem, isso se torna parte da sua cultura. Então, aqui ficou muito mais difícil para mim, como arquiteto, gerar trabalho coletivo, trabalho participativo. Quem quer te ajudar para beneficiar os outros? Se eu o ajudo, é porque também quero me beneficiar, é muito complicado, para que eu possa fazer a comunidade participar de projetos que não são seus, tenho que dar algo em troca.
OEPV: Você teve que fazer isso?
JG: Muito, agora muito. Por exemplo... legal você pode ajudar, oh legal, sim massa, é uma oportunidade que você pode dar, vamos dar... mas ninguém aqui vai trabalhar para outro. Aqui essa individualidade é muito complicada.
OEPV: E digamos, isso é uma característica da Costa?
JG: Eu sempre digo a educação... Estamos em crise na parte educacional. Existe um modelo de educação que se repete há muitos anos, anos de anos. Que não podemos... não podemos sair desse vírus. Não sei por que, mas se você ler um pouco sobre a cultura japonesa, sobre a educação deles, como as crianças são desde pequenos, há uma independência, isso ainda não está aqui. Então, aqueles projetos (que te falei), podem ser o primeiro ponto de referência a partir da coletividade.
OEPV: talvez, tenha muito a ver com a formação do arquiteto, como tal, dessas novas gerações. Embora agora muitas universidades têm essa conexão com a comunidade, mas quando você sai fora da escola, percebe que se esquece um pouco.
JG: Sim, totalmente porque eles já fazem isso por compromisso e não por convicção.