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interview ISSN 2175-6708

abstracts

português
Entrevista com o arquiteto português João Mendes Ribeiro (1960, Coimbra) a respeito de seu conjunto de obras, dos processos de trabalho e das correspondências e intersecções entre as disciplinas de arquitetura e cenografia.

english
Interview with the Portuguese architect João Mendes Ribeiro (1960, Coimbra) about his set of works, the work processes and the correspondences and intersections between the disciplines of architecture and scenography.

español
Entrevista con el arquitecto portugués João Mendes Ribeiro (1960, Coimbra) sobre su conjunto de obras, procesos de trabajo y las correspondencias e intersecciones entre las disciplinas de la arquitectura y la escenografía.

how to quote

DURAN, Nathalia Valença. João Mendes Ribeiro: intersecções. Entrevista, São Paulo, ano 23, n. 091.01, Vitruvius, set. 2022 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/entrevista/23.091/8605>.


Elemento autônomo, em segundo plano, a partir da releitura dos lanternins, em primeiro plano
Foto Luís Ferreira Alves

Nathalia Duran: Visitar suas obras em Coimbra e estudar algumas delas no contexto do mestrado, revela uma criteriosa atenção às preexistências. Como é feita esse reconhecimento durante o processo desses projetos?

João Mendes Ribeiro: Trabalhamos muito a partir das preexistências, começamos a fazer algumas casas e agora, de alguma forma, 90% de nosso trabalho é reabilitação e, portanto, a preexistência é determinante, é matéria do próprio projeto. E é algo fantástico, porque eu tenho o espaço construído, o edifício construído, o material, uma materialidade. Para mim é muito interessante conhecer muito bem o edifício, do ponto de vista da história, dos processos construtivos e suas capacidades de transformação, mas a partir de uma experiência direta porque o edifício existe. É uma coisa estimulante. Uma relação direta, do corpo com o espaço. Perceber também as possibilidades e entender a preexistência como matéria fundamental do projeto. Mas se não for o edifício é a topografia, porque há sempre um solo. Há sempre algo importante no lugar, que determinamos como importante para a definição do projeto, são sempre temas que não são abstratos, que são muito concretos, temas de aproximação do projeto. No caso da reabilitação, como existe uma preexistência e sobretudo, nessa capacidade de conhecer bem a preexistência, muitas vezes isso é feito na própria obra, é preciso desmontar algumas partes, é preciso retirar reboco, perceber o que está a mais o que não está a mais, apenas durante a fase inicial da obra temos o levantamento rigoroso da preexistência. E muitas vezes, em muitos projetos, por exemplo do CAV [Centro de Artes Visuais de Coimbra], no Laboratório Chimico, eu diria que em praticamente todos os projetos isso obrigou-me a repensar coisas do projeto, e em algumas situações de forma muito radical. De certa forma isso remete à aproximação entre atelier e obra, de repente ali há matéria nova. E que de alguma forma me obriga a repensar o projeto em fase de obra, e me retira um pouco a opção de controlar e de desenhar tudo. São situações que, de repente, não estavam previstas, que são acasos e particularmente interessantes e nos retiram o tapete. E eu gosto disso, de ser desarmado. Isso desloca um pouco o padrão dos arquitetos e particularmente o meu, de ter uma regra que vai desde a implantação até o desenho do puxador, uma espécie de confronto daquilo que existe e a ideia de projeto que muitas vezes é desmontada. E curiosamente muitas situações que são descobertas em obra são relevantes e tornam-se importantes na explicação do próprio projeto e, muitas vezes, até se tornam clarificadoras do projeto, quando isso acontece é fantástico! [...]

Elemento autônomo, em segundo plano, a partir da releitura dos lanternins, em primeiro plano, 07 set. 2018
Foto Nathalia Valença Duran

ND: Fui visitar o CAV ontem, qual a relação entre os lanternins preexistentes e o formato do novo elemento?

JMR: Foi uma alteração, nós descobrimos esses lanternins. Na altura, havia aqui um corredor sem luz natural, percebia-se que havia aqui o vidro, mas não se entendia o que era, devido a uma camada de sujeira que não deixava luz nenhuma passar. Eram dois lanternins que nós descobrimos quando tiramos o teto, percebemos, então, o que era aquilo e pareceu-me interessante. Uma das alterações propostas foi retirar o teto e deixar tudo a vista e a outra foi fazer uma réplica do lanternim aqui, existia já um lanternim, mas não tinha esse desenho, existia um outro desenho porque existia aqui um teto falso. [...] Esta peça foi redesenhada em função desses lanternins, ao retirar o teto fiz essa caixa autônoma. As descobertas em obra fazem retomar as coisas, dar outro sentido às coisas.

Iluminação zenital na parte interna do elemento autônomo, onde se encontra a escada de acesso ao segundo pavimento do edifício
Foto FG+SG Studio

ND: E como é feita a primeira aproximação em seus projetos de intervenção em preexistência? Como estabelece as diretrizes para esses projetos?

JMR: O tema do lugar é fundamental, portanto a visita ao local é imprescindível, os demais aspectos dependem um pouco de cada projeto. A primeira coisa é visitar o lugar. Essa visita ao lugar é o início de qualquer trabalho e depois, no caso de reabilitação, a recolha de informações, de fotografias é fundamental, documentos históricos, ou quando não existe documentação, tentar perceber o que era construído na época. Todo esse trabalho de investigação é um trabalho importante. E, portanto, vai se montar muito a partir daí. [...] Depois o confronto com a própria construção sugere, muitas vezes, situações diferentes. Cada projeto é um projeto. Isso acontece com certa frequência, que é na própria obra sugerir processos e abordagens que o próprio projeto não contém, que tem a ver com a experiência da obra, gosto dessa liberdade de ir a obra e perceber que há outras possibilidades.

ND: Uma das dificuldades dos projetos de restauro, de intervenção é eleger aquilo que permanece e o que se deve demolir. Quais são seus critérios para essas escolhas?

JMR: Não tem muito critérios, cada caso é um caso. E depende das obras, dos edifícios e dos contextos. [...] Tento lidar com esses edifícios com maior naturalidade, não separo tanto esses dois tempos, o passado e o presente, e fazer uma espécie de híbrido nesse sentido. Trabalhar com preexistência traz sempre dois temas importantes, o da questão tipológica e da estrutura do edifício, por um lado, e trabalhar com a própria presença, a questão espacial. Ou seja, perceber claramente a tipologia do edifício e sua relação com a história, mas depois trabalhar a partir da preexistência, como se acrescentasse mais uma marca, mais um tempo no edifício. A partir daqui eu vejo esses edifícios como uma tentativa de dar resposta ao novo programa para se tornarem habitáveis, normalmente são ruínas ou espaços inabitados. Eu tento sempre introduzir, porque parece um paradoxo, e reabilitar significa transformar, não há reabilitação sem transformação e nesse diálogo perceber o que fica e o que se retira, essa síntese é extremamente importante e obviamente deve ser feita com critérios. Porém, é absolutamente necessário transformar, a não ser monumentos, que em geral não podemos mexer, não é? Mas isso são dois ou três edifícios, eles não podem ficar com essa carga de monumentos eles precisam ser edifícios para dar resposta às novas necessidades. Não podemos colocar em risco a integridade do preexistente, mas sim trabalhar à vontade. Se percebermos a história de todos esses edifícios, sempre foi assim.

ND: Dentro dessa linha, é possível identificar nas suas obras, a distinguibilidade, a reversibilidade, baseada na teoria de Restauro Crítico de Brandi (3)? Existe essa influência aqui em Portugal?

JMR: De alguma forma, mas fui fazendo isso de forma um pouco empírica, muito a partir dessa experiência com o lugar e da minha empatia também com os edifícios, mas sim, depois de uma determinada altura comecei a cruzar com essas teorias, a questão do restauro crítico é claramente um tema, no sentido de reconhecer o edifício, não só do ponto de vista histórico, mas das capacidades, do potencial daquele edifício. Entra aqui um aspecto que não falamos, que é, e isso não depende do arquiteto, se os programas não são ajustados ao edifício, se torna um problema e, portanto, a primeira coisa é ter um programa compatível com o próprio edifício e quem o faz geralmente não são arquitetos. Muitas vezes sou crítico, por exemplo, no CAV eu fui muito crítico em relação ao programa montei tudo ao contrário porque não queria destruir o edifício, também compete aos arquitetos fazer essa crítica. A primeira coisa é validar o programa, porque isso pode arrebentar completamente com o sentido do edifício, com a escala, com a questão espacial e tipológica. Pronto, isso é logo um primeiro aspecto. Esses são confrontos permanentes, não faz sentido ter um espaço belíssimo com um grande pé-direito e de repente colocar umas lajes e dividir aquilo, para mim não tem nada a ver com a ideia de reabilitação. [...] Eu estou muito preocupado com as questões das transformações, nesta visão que os arquitetos precisam dar respostas aos problemas, tem que ser crítico ao programa, perceber se ele é ajustado ou não, perceber como responder às novas necessidades, mas sem destruir a preexistência.

Pouco a pouco fui ganhando essa consciência, no CAV por exemplo, de entender o edifício como uma espécie de contentor que tem uma grande qualidade espacial e construtiva, porque o miolo, neste caso, estava muito transformado e alterado. Aquilo que estava estruturando eram as paredes envolventes e uma outra que separava as duas alas, norte e sul. Depois entendi as respostas às novas necessidades, como uma espécie de microarquitectura, é na escala do mobiliário que dou resposta a essas necessidades, sem perder a leitura global do espaço mas era preciso criar um contentor para fazer de arquivo e para a prática da fotografia, e esse contentor tinha que ter características muito particulares, do ponto de vista da umidade e da temperatura, uma caixa própria para controlar esses fatores. Mas lê-se como uma espécie de construção dentro da construção, uma espécie de microarquitetura, na escala do mobiliário, que dá resposta a nova necessidade, com esse caráter reversível, uma espécie de conceito de instalação.

Perspectiva isométrica do CAV
Desenho João Mendes Ribeiro

notas

3
O Restauro Crítico foi fundamentado por Cesare Brandi, nos anos 1940, juntamente com Roberto Pane e Renato Bonelli, considerado como um ato crítico perante a preexistência e que “parte da afirmação de que toda intervenção constitui um caso em si, não possível de classificar em categorias, nem responde a regras prefixadas ou a dogmas de qualquer tipo, mas deve ser reinventado com originalidade, de vez em vez, caso a caso, em seus critérios e métodos”. CARBONARA, Giovanni. Brandi e a restauração arquitetônica hoje. Desígnio, n. 6, São Paulo, 2006, p. 285. Ver também: BRANDI, Cesari. Teoria do restauro. Tradução de Beatriz Mugayar Ku?hl. Coleção Artes & Ofícios. Cotia, Ateliê Editorial, 2004; Carta de Veneza, 1964 <https://bit.ly/2uzqb69>.

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