Your browser is out-of-date.

In order to have a more interesting navigation, we suggest upgrading your browser, clicking in one of the following links.
All browsers are free and easy to install.

 
  • in vitruvius
    • in magazines
    • in journal
  • \/
  •  

research

magazines

interview ISSN 2175-6708

abstracts

how to quote

MARQUES, Sérgio M.. Entrevista com Josep Lluís Mateo. A diferença como referência. Entrevista, São Paulo, ano 24, n. 093.01, Vitruvius, mar. 2023 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/entrevista/24.093/8751>.


Entrevista com Josep Lluís Mateo, 10 de outubro de 2021, Porto Alegre, 9h34; Barcelona, 13h34
Foto divulgação

Dando sequência à pesquisa “A educação do arquiteto para o século 21”, com visitas, contatos e entrevistas a personagens referenciais da arquitetura contemporânea, seja por suas práticas profissionais, seja por suas atividades acadêmicas, ou ambas concomitantemente, esta quinta entrevista traz um diálogo recente com Josep Lluís Mateo. Arquiteto catalão, autor de contínuas e profundas reflexões sobre a cena contemporânea, publicadas em diversas línguas, professor investigativo com atuação em instituições importantes como a Eidgenössische Technische HochschuleETH, em Zurique, e projetos de obras representativas tais como a Filmoteca de Catalunya e outras menos conhecidas, Josep Lluís reúne experiências e material de primeira grandeza para esta investigação.

As entrevistas publicadas sequencialmente na revista Entrevistas do Portal Vitruvius, a partir de missões de pesquisa realizadas desde 2017, não tiveram a periodicidade programada inicialmente, dadas as restrições impostas pela pandemia e outras dificuldades. Igualmente, a sequência de entrevistados anunciada anteriormente se alterou, considerando as variáveis de ocasião e conveniências que a evolução da pesquisa impõe.

Vale lembrar também alguma particularidade no “espírito” das entrevistas: ainda que o objetivo principal desta auscultação de protagonistas da cena contemporânea, formadores de opinião em seus contextos e áreas de atuação, seja embasar a reflexão teórica de uma pesquisa científica sobre o futuro da profissão, a oportunidade de contato pessoal – por vezes promissor, no sentido do reconhecimento humano, além do profissional – traz aos textos e transcrições das entrevistas este “tom” chamado por alguns de “jornalismo arquitetônico”, seguidamente permeado por questões pessoais do entrevistador que intencionalmente evidenciam, em meu entender, aspectos não menos importantes na explicação e compreensão das narrativas contemporâneas.

Eidgenössische Technische Hochschule – ETH, Pavilhão HIP C 11, ateliê do professor Josep Lluís Mateo e equipe. Zurique, 2013
Foto Sergio M. Marques

Com Josep Lluís, uma pequena porção desta pessoalidade, além de afinidades arquitetônicas e acadêmicas, concorre na construção de episódios que culminaram na entrevista, alguns dos quais vale a pena colocar em tela, pelas mesmas razões: nos anos 2000/2010 o Núcleo de Projetos da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo do Centro Universitário Ritter dos Reis – UniRitter (2), coordenava o convênio com a Universidad de Palermo – UP, de Buenos Aires, cujas relações foram estabelecidas através do professor Fernando Diez (3) e suas prolíferas pontes com Porto Alegre, em especial com o Programa de Pós-Graduação em Arquitetura da Universidade Federal do Rio Grande do Sul – Propar UFRGS. Em 2005, a UP organizou um evento em Buenos Aires constituído de palestras, prêmios e júris, coordenado pelo professor e arquiteto Carlos Sallaberry, decano da escola. Josep Lluís Mateo foi convidado por Carlos como conferencista principal do evento, além de júri do Premio Década, tradicional premiação organizada pela UP, com o apoio da Fundación Oscar Tusquets Blanca e a Oficina Cultural de la Embajada de España, que outorgava homenagens a edifícios construídos dez anos antes (4). No âmbito do convênio com a UniRitter, fui convidado para integrar o júri de estudantes de segundo e terceiro anos da FA/UP, conjuntamente com professores da escola.

Josep Lluís, esposa e eu coincidimos na chegada para o evento no aeroporto de Buenos Aires e no traslado ao hotel. No caminho, feitas as apresentações, me identifiquei como de Porto Alegre, capital do Estado mais ao sul do Brasil, a qual Josep Lluís retrucou: “Lo sé. Es la ciudad de Ronaldinho” (5). Além deste primeiro encontro e das intensas atividades acadêmicas em Buenos Aires, coincidimos ainda em um memorável assado argentino na casa de campo de Carlos, ponto de partida para outros contatos que seguiram a partir daí, tanto com Carlos quanto com Josep Lluís.

Voltei a encontrar Josep Lluís pessoalmente em 2008 em um evento da Escola Tècnica Superior d’Arquitectura de Barcelona da Universitat Politècnica de Catalunya – ETSAB UPC, na temporada entre 2008 e 2010, quando realizei estágio doutoral no exterior, fomentado pela CAPES. Conversamos rapidamente logo após ter me reapresentado como o brasileiro dos eventos em Buenos Aires, quando ouvi uma vez mais: “Ya lo tengo. El de la ciudad de Ronaldinho”.

Neste período, além da oportunidade de visitar in loco obras de Josep Lluís em Barcelona que despontavam na cena contemporânea, como o Centro Internacional de Convenções, construído para o Fórum de 2004, através de contatos pessoais na ESTAB – em especial a professora de III ano, arquiteta Cecilia Obiol, colaboradora acadêmica de Mateo em um programa de mestrado oferecido pelo BIArch/Barcelona Institute of Architecture (6) –, segui acompanhando a produção arquitetônica e acadêmica de Josep Lluís com interesse. Neste sentido, sob o ponto de vista acadêmico, no inverno europeu de 2013, a convite de Cecilia, então professora assistente de Josep Lluís no ateliê dirigido por ele no Departamento de Arquitetura da ETH Zurique, acompanhei um mês das atividades acadêmicas do ateliê suíço. Nesta oportunidade especial aprofundei leituras sobre textos de Josep Lluís, assim como conheci com pormenor as experiências de ensino praticadas no ateliê, em boa parte documentadas e listadas na bibliografia desta entrevista. O processamento deste material certamente retornará ainda no desenvolvimento futuro da pesquisa.

Centro Internacional de Convenções de Barcelona, 2004
Foto Luz Infinita

Em uma missão de pesquisa mais recente, realizada em 2021, ainda em período de novas ondas de restrições provocadas pelo coronavírus, um pouco às pressas por exigências institucionais relacionadas ao cronograma junto à Capes, outra visita a ETH Zurique foi realizada. Desta vez sem a sorte de encontrar com Josep Lluís. Este desencontro motivou esta retomada de contatos, que culminaram na entrevista realizada através das plataformas de videoconferência online, realizada em 10 de outubro de 2021. Ainda questões de toda ordem motivaram o atraso na publicação desta e de outras entrevistas que estão por vir. No entanto, uma justa e recente mensagem de Josep Lluís, cobrando a publicação, colocou a entrevista no lugar onde deveria estar há mais tempo. No ar.

Como introdução ao conteúdo da entrevista, gostaria de dizer que em tempos cíclicos de radicalismos e extremismos de toda ordem, que parecem se exacerbar na cena contemporânea, atitudes equilibradas e reflexões ponderadas parecem um alívio em meio a tanto histrionismo. Desde os manifestos vigorosos do Movimento Moderno, necessários para sua afirmação diante da tradição acadêmica, e desde os “suaves” manifestos do Pós-Modernismo, necessários para sua afirmação diante da tradição moderna, algum equilíbrio tenta se esgueirar. Entre o sentido da evolução tecnológica, abstração, expansão urbana e progressismo da Arquitetura Moderna e a valorização da História, sensibilidade ao contexto físico e cultural e especificidades da arquitetura enquanto conhecimento, emergentes no Pós-Modernismo, alguns arquitetos como Rafael Moneo, Álvaro Siza Vieira e, a meu ver, Josep Lluís Mateo, referências importantes para a cultura ibero-americana, trazem em seu pensamento e obra esta resistência à “indiferença” como conceito estilístico precedente às especificidades do problema.

Com uma arquitetura às vezes monumento, às vezes tecido, Josep Lluís permeia a estrutura urbana com uma obra plural e diversa em termos de escala, de forma e de relações com o lugar – o que em termos latino-americanos, conceitualmente, parece fazer mais sentido que os modelos estereotipados da tradição histórica europeia ou da internacionalização norte-americana. Igualmente, a busca da boa solução arquitetônica nas especificidades do problema, normalmente complexas, é uma espécie de garimpo ou caçada em busca da excelência espacial em meio a exigências de toda ordem. O que no caso de Mateo estabelece uma relação perspicaz com clientes e contratantes em termos de perseverança na procura de ingredientes para o projeto, contribuindo para certa diversidade de respostas arquitetônicas.

Recentemente soube que o pai de Josep Lluís também era arquiteto. Portanto a conversa começou por este âmbito.

Pavilhão HIP C 11, da Eidgenössische Technische Hochschule – ETH, utilizado pelo ateliê do prof. Josep Lluís Mateo e equipe. Pavimento superior reservado a biblioteca setorial, infraestrutura, professores e equipe. Zurique, 2013
Foto Sergio M. Marques

notas

1
Parafraseando, ao revés, o célebre livro de Rafael Moneo, “Contra a indiferença como norma”, referencial nos anos 1990 em alguns meios acadêmicos brasileiros, em termos de continuidade histórica da arquitetura moderna. MONEO, Rafael. Contra la indiferencia como norma. Santiago, Ediciones ARQ, 1995.

2
Laboratório do Departamento de Arquitetura da FAU Uniritter, com atividades de Ensino, Pesquisa e Extensão relacionadas ao Projeto. Criado em 1996, contou com a participação dos professores Charles Renné Hugaud, Claudio L. G Araújo, Sergio M. Marques, Julio R. Collares, Marta Silveira Peixoto, Maria Isabel Milanez e Eduardo Pizzato, em momentos diversos. O Núcleo era gestionado pelos professores de maneira compartilhada, com a coordenação executiva de Sergio M. Marques.

3
Editor da revista Summa+, professor e coordenador do Departamento de Teoria e História da Arquitetura da UP e doutor pelo Propar UFRGS, frequentava recorrentemente o meio acadêmico de Porto Alegre.

4
A mesma premiação ocorria anualmente em Barcelona. Na edição em que Josep Lluís foi jurado, em Buenos Aires, foi premiada a Escuela Ecos de Chiurazzi/Díaz e receberam menções honrosas a Vivienda Plurifamiliar, de Silberfaden/Rosenwasser e Edificio Cabello de Busnelli/ Davicino/Fridman/Szanc.

5
Referência a Ronaldo Gaúcho, o “Bruxo”, então jogador do Barcelona, que na época fazendo par com Messi infernizava a vida dos times adversários.

6
O Barcelona Institute of Architecture (BIArch), criado nos anos 2000, era “uma instituição de pós-graduação internacional criada para promover a interação entre a pesquisa acadêmica, a prática especializada e a divulgação da arquitetura contemporânea”. O objetivo do programa era promover cursos de mestrado profissional congregando arquitetos de diversas nacionalidades. Josep Lluís era diretor do Instituto. Pessoalmente participei como ouvinte de algumas aulas e ajudei a divulgar o curso em instituições brasileiras. Ver: ARCHINET ACADEMIA. Work by students, alumni and faculty. Barcelona, Barcelona Institute of Architecture – BIArch <https://bit.ly/3L3dnvI>.

comments

093.01 introdução
abstracts
how to quote

languages

original: português

share

093

newspaper


© 2000–2024 Vitruvius
All rights reserved

The sources are always responsible for the accuracy of the information provided