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interview ISSN 2175-6708

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MARQUES, Sérgio M.. Entrevista com Josep Lluís Mateo. A diferença como referência. Entrevista, São Paulo, ano 24, n. 093.01, Vitruvius, mar. 2023 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/entrevista/24.093/8751>.


Complexo habitacional, fachada adjacente ao canal, Koraal Heerhugowaard, Holanda, 2020
Foto Aldo Amoretti

Sergio Marques: Esta sua ideia de que de alguma maneira nos amalgamamos, contextualizamos e nos adaptamos às condições externas é um ponto importante. Em relação à geração passada, há certo consenso de que foi uma geração muito bem preparada em sua formação para o fazer, para o ofício, para projetar em todas as escalas, com uma versatilidade para concepção de objetos e interiores até planejamento territorial. Mas não foi uma geração, como os críticos mais tarde apontaram, de maiores reflexões teóricas. A geração do pós-modernismo, que foi a época em que vivi na escola, foi, em parte, o contrário neste aspecto. Havia uma preocupação grande com a formação intelectual, surgiram cursos de pós-graduação, pesquisas, livros e artigos. No entanto a valorização do domínio do processo de projeto vem decrescendo.

Deste ponto de vista, o que você pensa para o futuro em termos de treinamento (habilidades e competências). O que as escolas deveriam se preocupar em oferecer como ferramentas para o arquiteto do futuro?

Josep Lluís Mateo: A experiência de meus mais velhos foi a da reconstrução do pós-guerra. O desempenho baseado em uma prática muito intensa e nos bons casos com condições atraentes, com conhecimentos e referências claras, o que ajudou a prática intensa. Tivemos grandes arquitetos no período espanhol do pós-guerra, nos anos 1940 e 1950. A partir dos anos 1960 e as coisas começaram a declinar. Mas, sim, a geração que me precede era de pessoas mais relacionadas com a prática e que tinham uma estrutura bastante homogênea e atualizada de referências e treinamento. Depois vieram momentos mais historicistas, mais intelectualistas. Para mim, de fato, este processo de intelectualização da profissão foi minha verdadeira origem como estudante e como pessoa interessada na Arquitetura. Tenho uma educação autodidata, por outro lado, já que aqueles eram tempos difíceis politicamente. Portanto, minha educação foi significativamente autônoma, mas também intelectual. Meu pai me deu uma enorme biblioteca. O conhecimento literário era, portanto, uma base muito clara para começar.

Complexo habitacional, detalhe da alvenaria, Koraal Heerhugowaard, Holanda, 2020
Foto Aldo Amoretti

Mas, que condições devemos ter no futuro?

Eu recomendaria que nosso trabalho tenha sempre um componente técnico e científico. O que parece nem sempre ser o caso, e nem sempre está de acordo em todos os lugares. Nosso trabalho, como tem a ver com matéria e com realidade física, também opera com uma coerência que significa a necessidade de conhecer esta lógica. Esta está se tornando cada vez mais complexa, já que o arquiteto tem que saber se mover no mundo da realidade “científico-tecnológica”, ou como quer que a chamem. Mas, obviamente, como um generalista. Não somos especialistas, somos generalistas, que conhecem o alfabeto de muitos campos do conhecimento e devemos saber interpretar os dados. Talvez eu esteja falando também de minha tradição pessoal, que é uma tradição politécnica histórica espanhola (e suíça também).

Eu trabalhei e sigo atuando na França, onde a tradição histórica é das Belas Artes, ou seja, a tradição da forma. Hoje se vê a grande dificuldade da tradição Beaux Arts em intervir no mundo, já que atualmente existem mil razões de todos os gêneros (que nem sempre conhecemos), nas quais você tem que saber como entrar para ter dados. Então um primeiro aspecto para a formação, em meu entender, será este treinamento tecnológico. Mas a tecnologia evoluiu, gerando especialistas. Pessoas cada vez mais especializadas em algo. Portanto é importante lembrar: precisamos ser capazes de sintetizar um problema global.

Outra questão para o futuro seria o conhecimento analítico-criativo. Em outras palavras, deveríamos ser treinados para enfrentar diferentes problemas, situações e lugares, com uma mistura de ignorância e conhecimento. Não um conhecimento estilístico, não conhecimento de saber o que fazer previamente, portanto um pouco de “ignorância”.  Mas um conhecimento metodológico para descobrir em cada caso o que tem que ser entendido: entender o problema, entender o lugar, entender as possibilidades, entender o cliente e com isto fazer um trabalho criativo, apropriado e avançado. A arquitetura tem sempre um ponto atraente, que é o de estar à frente de seu tempo. No projeto, se já se sabe o que precisa ser feito, não há necessidade de um arquiteto. E sim de um construtor.

Centro Internacional de Fotografia Toni Catany, detalhe exterior e interior da malha. Llucmajor, Mallorca, 2021
Fotos Aldo Amoretti / Gabriel Ramon

Por isto nosso treinamento deve envolver treinamento artístico e criativo somado a informações analíticas, para tentar produzir este tipo de síntese. Um projeto é sempre uma demanda ou algo que se diz para o futuro. Você está falando de algo que é produzido no presente, que tem uma história por trás, mas que vai ser transferido, vai ser construído no futuro. Vai ser usado adiante e às vezes muito adiante. Em alguns casos, lamentavelmente, vemos obras que acabam de ser feitas e já estão mortas. Elas são terminadas antes mesmo de iniciadas. Por outro lado, quando boas obras de arquitetura aparecem, são brilhantes, novas e jovens, com sua vida pela frente. Esta síntese é uma mistura de análise e formação artística, conhecimento de leis e critérios formais.

Em meu ponto de vista, um dos erros que torna a arquitetura aborrecida são práticas que, às vezes com qualidade em algum momento, simplesmente se repetem formalmente em outras situações. Quando, diante de um problema, a solução já é conhecida antes de iniciar o projeto. Esta questão é importante para mim: quando você inicia um projeto, não deve saber o que vai fazer. Você deve estar interessado em projetar de muitas maneiras. Caso contrário, não vale a pena. É uma aventura que não faz sentido. Além disso, as aventuras são longas. Esta é outra das características do nosso trabalho, que é lento. Um pintor faz uma pintura em dois dias, em uma semana. Um designer gráfico, eu nem sequer mencionaria. Nós arquitetos levamos dez anos para fazer algo, às vezes mais. Isto torna este tipo de abertura de espírito ainda mais necessário.

O mais interessante de um projeto é algo que é novo, mas que, por outro lado, é evidente. Em concursos de arquitetura, este é meu objetivo, que quase nunca alcanço... Gerar algo que é uma resposta artística mas lógica e econômica. Este é o meu mito.

Portanto, a segunda questão para a formação dos arquitetos do futuro deverá ser a capacidade de sintetizar esta mescla de coisas, em que existem temas artísticos e uma complexidade específica.

Centro Internacional de Fotografia Toni Catany, reunião das fachadas, Llucmajor, Mallorca, 2021
Foto Aldo Amoretti

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