João Paulo Peixoto: A primeira questão que gostaria de fazer é a mais geral, mas importante para dar início à conversa. Como surgiu, inicialmente, o interesse em discutir o fenômeno da arquitetura neocolonial, em um contexto em que muito pouco se discutia a respeito dessa manifestação arquitetônica?
Aracy Amaral: Escute, então… Minha resposta para essa primeira questão é a seguinte: você estuda em que área da USP?
JPP: Meu mestrado é em História da Arquitetura, na FAU USP.
AA: Mas você é formado na FAU?
JPP: Não, sou formado arquiteto na Universidade Federal de Uberlândia — UFU … agora o mestrado estou cursando na FAU.
AA: Em resumo: como professora na FAU [USP] dava uma disciplina chamada História da Arte na América Latina, uma disciplina que existia naquela época… Não existia nenhuma disciplina além desta sobre a América Latina, e eu tinha inclusive que usar livros meus como bibliografia. Quis dar esse curso porque nesse período, sobretudo década de 1960, 1970 e até começo de 1980, eu viajava muito pela América Latina por causa da pesquisa sobre a hispanidade em São Paulo, talvez você conheça…
JPP: Sim, claro!
AA: E também… tendo em vista minha presença muito assídua nos Congressos de Arte Latino-americana, eu conhecia todo o pessoal que participava desses congressos. Arquitetos e críticos de arte. Eu tinha uma boa articulação com arquitetos e historiadores da época. Como eu dava aula de História da Arte na América Latina, achei interessante colocar no programa do meu curso a arte neocolonial, que era pouquíssimo discutida, quase nada mesmo. É por isso, também, que Horácio do Nascimento Costa fez um trabalho sobre o neocolonial. Era um aluno do meu curso, e era um arquiteto, saindo da FAU, muito interessado nesses assuntos… Agora não sei se você conhece o percurso dele.
JPP: É interessante comentar sobre isso porque, ao contexto da pesquisa documental para o mestrado, encontrei o trabalho de conclusão de curso de José Horácio de Almeida Nascimento Costa, datado de 1978, Sobre o neocolonial, com a orientação da professora. Mas, na verdade, não conheço o percurso dele, encontrei o registro do trabalho na própria biblioteca da FAU… Justamente porque é um dos primeiros trabalhos no meu recorte temporal a tratar do tema.
AA: Então, e foi uma pena porque depois que ele terminou a FAU, foi fazer um estágio no México. Acho que na época ele estava visando aprofundar alguma coisa sobre o neocolonial a partir da realidade mexicana, mas aconteceu que no México ele partiu para área de literatura. Ele já tinha uma tendência para a poesia, e se tornou um poeta… publicando livros, seja no México, seja no Brasil e hoje creio que ele é professor de literatura na USP. Ele mudou completamente de área e foi realmente uma vocação que foi perdida, e eu lamentei muito… mas ele está feliz assim e esse é o caminho que está seguindo. Eu pensei que ele fosse continuar com isso [estudos envolvendo o neocolonial]. Mas no México ele se interessou pela poesia, ficou lá morando e já voltou totalmente poeta. Esse é o descaminho das pessoas que saem da FAU, como você sabe… Um vira compositor musical, outro vira poeta, outro vira cineasta, enfim… São vários caminhos a partir de uma formação de arquiteto.
JPP: Sim, é verdade [risos].