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my city ISSN 1982-9922

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Neste artigo, Marcelo Ferraz emite seu ponto de vista a respeito do que fazer com São Luiz do Paraitinga após a catástrofe, ocorrida no começo do ano, que levou à destruição de grande parte da cidade

how to quote

FERRAZ, Marcelo. Reconstrução ou reconstrução? Minha Cidade, São Paulo, ano 10, n. 118.01, Vitruvius, maio 2010 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/minhacidade/10.118/3367>.


São Luiz do Paraitinga após a inundação
Foto Victor Hugo Mori


São Luiz do Paraitinga antes da inundação
Foto Abilio Guerra

São Luiz do Paraitinga antes da inundação
Foto Abilio Guerra

São Luiz do Paraitinga antes da inundação
Foto Abilio Guerra

São Luiz do Paraitinga antes da inundação
Foto Abilio Guerra

São Luiz do Paraitinga após a inundação
Foto Victor Hugo Mori

São Luiz do Paraitinga após a inundação
Foto Victor Hugo Mori

São Luiz do Paraitinga após a inundação
Foto Victor Hugo Mori

São Luiz do Paraitinga após a inundação
Foto Victor Hugo Mori

São Luiz do Paraitinga após a inundação
Foto Victor Hugo Mori

 

A catástrofe que se abateu sobre São Luiz do Paraitinga abre uma importante discussão na seara da teoria e da prática da preservação do patrimônio histórico. Mais do que isso, o desastre da destruição de grande parte do conjunto histórico da cidade, aliado à vontade de reconstrução explicitada por vários setores da sociedade, nos apresenta uma oportunidade singular de atuação nesse campo.

Reconstrução, recuperação, restauração, reciclagem, reabilitação; todos os “res” voltam nesse momento, e sobre eles devemos refletir, procurar seus significados mais profundos, exatos e ricos. Mas devemos, sobretudo, procurar o significado que responda à demanda imediata de toda a comunidade afetada pela destruição da enchente e também à demanda crítica que se faz necessária num momento como esse, em relação à história das cidades. E não é simples, muito menos assunto consensual.

Tentarei dar meu ponto de vista a partir da declaração de um governante em visita ao local: “Vamos reconstruir tudo. Utilizaremos tecnologia moderna de construção, mas faremos tudo igual ao que era”. Só faltou dizer “faremos tudo falso, imitando o antigo”. Esta declaração, além de resposta imediata que todo político tem na ponta da língua diante de qualquer situação, do tipo “temos soluções”, mostra também a ignorância geral sobre a história, vista sob a ótica do patrimônio construído e da evolução (ou involução em muitos casos) das cidades.

Se não iremos mais construir com taipa de pilão ou taipa de mão – e não faz nenhum sentido hoje em dia – porque reconstruir tal qual uma imitação? Os imóveis destruídos de São Luis, como documentos de uma época, não eram os únicos e nem os melhores exemplares arquitetônicos de um determinado período. Vamos então criar um cenário, um falso histórico? Podemos encarar as cidades ou o espaço urbano como cenário? Penso que não.

As cidades, ao longo da história da humanidade sempre foram feitas e refeitas umas sobre as outras. A vida avança. Não vivemos no passado, vivemos no presente com perspectiva – projeto – de futuro. E neste caso de São Luiz do Paraitinga, um projeto de futuro se faz urgente. Uma ação reconstrutiva deve ser adotada imediatamente. Qual é o rumo? Há que se pensar, refletir e tomar decisões, escolher o caminho da recuperação.

Seria importante fazer uma boa seleção e recolha entre os escombros de tudo aquilo que pode ser reutilizado, não apenas como material de obra, “mas como parte da memória da cidade e mesmo da tragédia”, como disse o presidente do Iphan em visita à cidade destruída. Mas seria muito importante também, que se encarasse o desafio de abrir mão da reconstrução em moldes do passado daquilo que ruiu integralmente ou em sua quase totalidade. Poderíamos partir para construções contemporâneas que respeitassem gabaritos, volumetrias e a ambiência urbana que configura a escala e as características do espaço público formado pelo conjunto e não pelos imóveis, individualmente.

Este espaço, ou essa lógica urbanística é que faz de nossas cidades antigas, como São Luiz do Paraitinga, riquezas a serem preservadas. São os espaços indutores da convivência e dos encontros entre pedestres, encontros com urbanidade e conforto público. Espaços apropriados à festa, que toda cidade deveria ser. E que as novas edificações fossem feitas com qualidade, não somente técnica, mas projetual; e com ousadia.  Poderíamos ter ali um bom laboratório arquitetônico da convivência do novo com o antigo; um experimento contemporâneo vigiado de perto pelo que tivemos de melhor no passado, na construção de nossas cidades.

sobre o autor

Marcelo Ferraz é arquiteto formado pela FAU-USP em 1978, é sócio do escritório Brasil Arquitetura, onde tem realizado vários projetos com premiações no Brasil e exterior. É também sócio fundador da Marcenaria Baraúna, onde desenvolve projetos de mobiliário, desde 1986.

Marcelo Ferraz, São Paulo SP Brasil

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