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my city ISSN 1982-9922

abstracts

português
Manifesto à importância da urbanização para o desenvolvimento da equidade social através de propostas de implementação de equipamentos comerciais, de serviços, desportivos e de lazer em bairros residenciais

how to quote

CRISTO, Carlos. A cidade como lugar de integração. Minha Cidade, São Paulo, ano 13, n. 149.04, Vitruvius, dez. 2012 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/minhacidade/13.149/4572>.


Brasília
foto Andréia Bohner [Wikimedia Commons]


Recente audiência

pública realizada no Museu Nacional sobre a Lei de Uso do Solo do Distrito Federal (Luos-DF) levou grande contingente de moradores do Park Way ao plenário e evidenciou uma polarização entre duas posições. De um lado, com grande número de adeptos, houve manifestação favorável à implementação de equipamentos comerciais, de serviços, desportivos e de lazer no bairro. De outro, postura radicalmente contrária a qualquer atividade não residencial na área.

Choca-me essa última proposta e, mais ainda, o principal argumento daqueles que apoiam: a atração que novos tipos de ocupação geraria sobre populações de outros extratos sociais. Os funcionários e os usuários desses equipamentos, forasteiros ao Park Way, seriam potenciais malfeitores, criminosos, que trariam a violência para o lugar.

A hipótese choca não apenas pelo cinismo social, mas pelo despudor com que foi apresentada. É uma proposta de apartheid, perfeitamente aderente aos princípios de exclusão social que ainda comprometem este país social e economicamente e que estão na raiz dos problemas de violência que enfrentamos.

A cidade onde, no passado, os súditos foram buscar a proteção do Estado revelou-se um importante locus de integração e de desenvolvimento socioeconômico. A Paris do Barão Haussmann, que atrai o mundo inteiro, foi planejada de forma integradora, permitindo o uso de cada edifício por comércio e serviços, assim como por diferentes extratos sociais, acomodados nos diversos pisos.

É sucesso recente o filme As mulheres do sexto andar, que mostra essa relação espacial. É clara a importância da urbanização europeia para o desenvolvimento da equidade social e dos regimes que protegem os seus cidadãos indistintamente.

Em Brasília, vemos uma centrifugação social, com a localização periférica e até extramuros de uma população marginalizada, gerando bolsões de violência que já superam as outras capitais brasileiras.

Mas não precisamos levar nossa preocupação para temas políticos tão amplos. Fiquemos no Park Way: é sensato ter que fazer 30km de carro para nos abastecermos convenientemente; nossos filhos terem que viajar 50km por dia para ir à escola, o mesmo para usar uma academia ou ir a um restaurante? Até a telepizza chega fria!

Qual o custo de tudo isso – o financeiro, o econômico e o ambiental –, agravado pelas emissões de poluentes por nossos carros e pela necessidade de mais estradas, já que as usamos intensamente? Tenho como exemplo o zelador do nosso condomínio, que viaja 80km por dia (Valparaíso-Park Way-Valparaíso) para vir trabalhar – um absurdo!

É desafiante conciliar o verde aprazível, com sossego e cantar de passarinhos, com os equipamentos que se fazem necessários para o nosso cotidiano, mas não precisamos de fértil imaginação para encontrar soluções que se mostram mundo afora, com o equilíbrio que desejamos.

Enquanto discussões desse tipo perduram, no passar de 50 anos de Brasília, a sociedade encontra soluções “provisórias”, talvez precárias, que a “compensação urbanística” pretende reconhecer. É evidente que o reconhecimento não deva ser um aceite incondicional de uma realidade filha da necessidade – nem sempre da razão. É preciso encarar esse instrumento com as suas limitações e as condicionalidades que se impõem.

A perfeita harmonia entre os usos residencial (que deve ser o principal) e comercial e de serviços (necessariamente assessórios) passa por uma legislação rigorosa quanto à localização, quanto ao uso do solo e até mesmo – é desejável – quanto às características arquitetônicas das edificações. É evidente e seria mesmo desnecessário dizer que o comércio e os serviços que devam instalar-se numa área residencial têm a finalidade de servi-la, nunca de importuná-la com ruídos, odores ou qualquer outra agressão ao meio ambiente.

Finalmente, deveríamos apreciar a arte do encontro, sentir prazer no exercício da cidadania, ter orgulho da brasilidade – que não é sinônimo de criminalidade – e promover o desenvolvimento sustentável do nosso bairro, da nossa cidade, do nosso país, do mundo.

nota

NE
Publicação original do artigo: CRISTO, Carlos. Correio Brasiliense, Brasília, 9 out. 2012.

sobre o autor

Carlos Cristo é arquiteto (FAU USP, 1971) e pós-graduado em planejamento urbano pela Universidade Católica de Louvain, Bélgica. É professor convidado na Escola Nacional de Administração Pública, professor honorário na Universidade Ricardo Palma de Lima, Peru. e diretor-associado da “Flecha de Lima, Relações Institucionais”. Foi membro do Conselho de Administração da Associação de Engenharia Automotiva – AEA (2009-2011), Chefe de Gabinete da Secretaria de Inovação do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (1999-2011) e diretor, na Secretaria da Reforma do Estado do Ministério da Administração Federal e Reforma do Estado (1995-1998). Liderou o maior programa de cooperação entre Brasil e União Européia, o Programa de Apoio à Internacionalização de Pequenas e Médias Empresas – PAIIPME (2003-2011).

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