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português
Descrição da feia paisagem urbana avistada no caminho entre a rodoviária de Belo Horizonte e o aeroporto de Confins.
GURGEL, Ana Paula C.. Trem fantasma BH – Confins. 50 minutos de tortura arquitetônica. Minha Cidade, São Paulo, ano 14, n. 159.05, Vitruvius, out. 2013 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/minhacidade/14.159/4924>.
A aventura começa comprando passagem na rodoviária de Belo Horizonte com destino ao Aeroporto de Confins! Entro no ônibus, reclino a poltrona e mal sei o que me aguarda.
1 min Muitas pichações, hieróglifos urbanos que interrompem muros, fachadas, térreos, segundo andar, quinto andar....onde eles guardam as escadas?
3 min Aqui e ali se ressalta um grafite, para alguns uma arte democrática, para mim uma manifestação de autoritarismo afinal não escolhi vê-los! Apesar disso alguns são deleites em meio ao caos.
5 min Mobilidade sem amabilidade. Obra do BRT “miolo de pão”, não chega sequer a ser o recheio das vias laterais onde os carros voam e me pergunto se as pessoas vão voar também para chegar ao outro lado da rua.
7 min Passarelas, eis a solução. Passarelas não somente, são labirintos em tantos níveis e tão complexas. Não são e nem serão usadas, morre-se tanto no asfalto.
12 min Morar que sobe e desce o morro. Eis a democracia desta cidade: ricos e pobres moram nos altos, embora uns tenham asfalto e outros cachoeiras de esgoto. Estética desconstrutivista vernacular em todas suas qualidades.
15 min Lixo, desrespeito....a sobra da tua festa e a comida de hoje a noite. Sacolas plásticas invadem as calçadas, cadeiras e sofás submergem nos terrenos.
19 min Penso cálculos para definir a área gasta com circulações aqui, temo descobri uma porcentagem que expresse a vitória do urbanismo rodoviarista.
21 min Talude verde onde descanso minha vista parece que a área urbana se esmaece.
25 min Sequência de Outdoors, vende-se a ideia que da porta pra fora não temos leis. Anuncia-se de tudo. A cidade quer as pessoas amando-a de volta. A 80km por hora um girassol pede para ser anunciado.
31 min Depois daquela curva mais um susto: o centro administrativo do Oscar. Um pavão branco, reeditando Gordon Cullen. Paredes espelhadas que espelham o nada.
35 min Um posto de gasolina em feição colonial é a preservação patrimonial levada ao seu ápice – protejamos nosso futuro!
39 min Isso seria mais uma obra ou outra exploração? Um vale que se descortina do outro lado revela o abismo social.
40 min Villas e villes ao lado do casebre que resiste. Se fechem sobre seus muros e esqueça a verdade ao seu redor.
42 min Tantas queimadas, parece-me que até a própria natureza se resigna a permanecer aqui.
45 min Uma viagem aterrorizante que parece não ter fim.
46 min Procissão de urubus que se perdeu em meio a fumaça e o podre da humanidade.
47 mim Um hotel em obras para aqueles que querem evitar tal tormento a que me propus.
48 min Homens que lutam contra o barro com o asfalto. Vermelho e negro deveriam ser as cores desse país.
49 min Para não dizer que não falei das flores - Um ipê amarelo anuncia que chegamos.
50 min Preciso de um café de 10 reais para regurgitar essa viagem em palavras. Na próxima, posso fechar as cortinas, mas é difícil cerrar os olhar as disparidades urbanas brasileiras.
sobre a autora
Ana Paula Campos Gurgel é arquiteta e urbanista, doutoranda do Programa de Pós-graduação da Universidade de Brasília – PPG.FAU-UnB.