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A cidade é palco de constante conflito. A partir de estudo de caso em Curitiba, Gnoato faz uma análise da qualidade dos espaços públicos e sua relação direta com as áreas dedicadas ao transporte rodoviário na disputa com os pedestres.
GNOATO, Salvador. Área calma e espaço para pedestres. Minha Cidade, São Paulo, ano 16, n. 191.02, Vitruvius, jun. 2016 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/minhacidade/16.191/6036>.
A ideia de que as cidades são organizadas e construídas primordialmente para as pessoas parece tão obvia que poderia ser dispensável a elaboração de um discurso sobre este conceito. Ocorre que por diversas razões os espaços públicos destinados às pessoas ficam em segundo plano nas prioridades dos gestores municipais.
A carência de ruas, praças e parques, muitas vezes mal equipados, acrescidas das áreas livres de espaços privados, que poderiam ter uma utilização mais ampla, e que costumam estar cercados por grades executadas sob o pretexto de dar mais segurança aos seus proprietários, reduzem bastante o número e a qualidade dos espaços públicos.
Um dos vilões deste processo é o automóvel cuja dificuldade de circulação em qualquer cidade fica cada vez mais evidente. Como as áreas centrais das cidades estão cada vez mais equipadas e podem oferecer mais qualidade de vida do que áreas mais afastadas, a procura por apartamentos sem vaga de garagem na área central de Curitiba, tem crescido ultimamente, como fica demonstrado pelo aumento de oferta destas unidades.
Na atual revisão do Plano Diretor, está prevista a redução de exigência de vagas de estacionamento para os edifícios nas áreas centrais, tendência que se observa em outras cidades de intensa verticalização.
Restringir a circulação de veículos e retirar áreas de estacionamento nas ruas é a contrapartida para aumentar os espaços de calçada. Uma das soluções seria incentivar a execução de estacionamentos subterrâneos explorados pela iniciativa privada, para devolver ao pedestre preciosos espaços utilizados por automóveis estacionados.
A introdução de uma Área Calma em Curitiba com limite de velocidade de 40 km/h, reduzida para 30 km/h nas vias junto a ciclovias, a constante melhoria do transporte público e o incentivo a outras modalidades de locomoção como a criação de ciclovias, são premissas que se alinham com as propostas de vanguarda de cidades que procuram alternativas de mobilidade urbana.
Diversas estatísticas tem demonstrado que a redução de velocidade diminui o risco de acidentes e já existe no mercado veículos com dispositivos que travam automaticamente diante da presença de um obstáculo enquanto trafegam com velocidade de até 40 km/h.
Sem precisar de legislação coercitiva os veículos que circulam na Avenida Luiz Xavier, no espaço conhecido como “Boca Maldita”, nunca conseguiram ultrapassar o limite de 30 km/h em função do desenho da rua. O mesmo ocorre na Travessa Senador Alencar Guimarães, onde a ausência de meio fio inibe ainda mais o limite de velocidade.
Estas vias de circulação limitada são absolutamente necessárias para acesso a hotéis e restaurantes, uso de veículos de segurança e de emergência como ambulância e bombeiro. A retirada ou impossibilidade total de circulação de veículos pode limitar a diversidade de uso destas ruas.
Os melhores espaços das cidades são usufruídos a pé, qualquer viajante que percorre o continente europeu sabe disto. Curitiba possui percursos consolidados no Setor Histórico e no Calçadão da Rua XV, que esta sendo ampliado com a proposta de um Corredor Cultural que reúne cerca de dez instituições que promovem cultura tendo como ponto focal a Praça Santos Andrade.
nota
NA – artigo originalmente publicado no periódico Gazeta do Povo, disponível em: GNOATO, Salvador. Área calma e espaço para pedestres. Gazeta do Povo, Curitiba, 18 maio 2016, p. 3 <www.gazetadopovo.com.br/opiniao/artigos/area-calma-e-espaco-para-pedestres-23m9ie2bkyc6w4keij6l9r39i>.
sobre o autor
Salvador Gnoato, arquiteto e professor titular na PUCPR.