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DOMINGOS, Sadalla; et. al. Carta aberta à cidade de São Paulo. Sobre a renaturalização do Córrego do Bexiga. Minha Cidade, São Paulo, ano 18, n. 210.08, Vitruvius, jan. 2018 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/minhacidade/18.210/6860>.
Justificativas
Considerando que:
- os rios de São Paulo desapareceram da paisagem, cedendo lugar a canais, avenidas e edifícios;
- constituem exceções apenas os parques do Ibirapuera (bacia PI-12, Córrego do Sapateiro), Cidade de Toronto (bacia TC-06, Córrego do Parque), da Cantareira (Bacia TC-14, Córrego Cabuçu de Baixo), do Carmo (Bacia TL-03, Córrego Jacu-Pêssego), das Fontes do Ipiranga (BaciaTA-05, Córrego do Ipiranga) e da Aclimação (Bacia TA-03, Córrego da Aclimação), com lagos urbanos permanentes;
- com o restante das bacias quase impermeáveis, impedindo a infiltração das chuvas, os rios quase secam, no período sem chuvas, reaparecendo, à primeira chuva forte, inundando vias de fundos de vale e paralisando a cidade;
- poder público e cidadãos precisam redescobrir o regime hídrico natural de chuvas e secas da cidade e reconstruir com este regime uma relação mais amigável;
- nesse contexto, ações de renaturalização das bacias hidrográficas urbanas permitirão este redescobrimento dos rios da cidade de São Paulo em bairros e locais onde existam condições para a inserção das suas águas na paisagem urbana;
- a área contígua ao Teatro Oficina constitui um destes locais, com todas as condições de constituir caso exemplar de renaturalização aplicável extensivamente para todas as bacias e que, em função disso, motivou esta Carta aberta à cidade de São Paulo:
Principais corpos d'água da Região Metropolitana de São Paulo
Imagem divulgação [Urbeflux]
Carta aberta à cidade de São Paulo
São Paulo, 25 de janeiro de 2018
Brasil Arquitetura e Urbeflux Engenharia Consultiva participaram, em vários momentos, de tentativas de promover a convergência de propostas e interesses entre o Teatro Oficina e o Grupo Silvio Santos acerca da utilização de terreno contíguo ao Teatro, na esquina das ruas Jaceguai e Abolição, no Bexiga. Recentemente, essa discussão, mais uma vez, voltou à mídia e às agendas dos órgãos governamentais afetos, estando hoje submetido ao Iphan por decisão do Conpresp.
Esta Carta aberta à cidade de São Paulo pretende contribuir para superar este impasse, em benefício do interesse maior dos seus cidadãos e da cultura brasileira, e se baseia nos seguintes pontos:
- o terreno em questão situa-se, em grande parte, na planície de inundação do Córrego do Bexiga;
- em incontáveis pontos na cidade de São Paulo, o poder público historicamente tem se esquivado desta questão, alegando que cursos d'água perenes seriam meramente canais de escoamento de águas pluviais e suas áreas de inundação seriam propriedades privadas edificáveis. Assim os rios foram sendo retirados de seus domínios e transferidos para galerias subterrâneas, desaparecendo da paisagem da cidade;
- essa postura do poder público deve mudar e acreditamos que o momento seja este, na direção de políticas públicas comprometidas com a qualidade ambiental da vida urbana.
Visando contribuir para essa necessária mudança de rumos no tratamento das águas urbanas e seus domínios, esta Carta aberta propõe as seguintes diretrizes para o referido terreno:
- renaturalizar e revitalizar a bacia do Córrego do Bexiga em toda sua extensão, desde suas cabeceiras na esquina da Japan House na Avenida Paulista, até o subsolo da Câmara Municipal na Praça da Bandeira;
- implantar e manter, na parte mais baixa do terreno, no miolo da quadra, um pequeno lago com as águas do córrego renaturalizado e prever uma área adjacente inundável, resgatando simbolicamente o curso do córrego em seu regime natural;
- edificar apenas nas partes mais altas do terreno, junto às testadas das ruas do entorno;
- implantar pequeno parque urbano acessível no interior da quadra, desvelando as águas do Córrego do Bexiga.
sobre os autores
Sadalla Domingos, Francisco Manini Filho e Clarissa Morgenroth são responsáveis pela Urbeflux Engenharia Consultiva.
Francisco Fanucci, Marcelo Carvalho Ferraz e Cicero Ferraz Cruz são responsáveis pelo escritório Brasil Arquitetura.