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A arquiteta Laura Belik enlaça no mesmo argumento os antigos Drive-in, ainda ativos nos Estados Unidos, e dois fenômenos atuais devido o coronavírus: a Páscoa no Drive-in e as projeções de filmes em empenas de edifícios.
BELIK, Laura. Pela volta do Cinema Drive-in [em breve]? Minha Cidade, São Paulo, ano 20, n. 237.03, Vitruvius, abr. 2020 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/minhacidade/20.237/7706>.
“Páscoa no Drive-in”, anunciava a Igreja Victory Hill, no Kentucky. Como esta, muitas outras casas de adoração adotaram alternativas para sua congregação de alguma forma se juntar durante as festividades religiosas. Além do streaming em tempo real – podemos até acompanhar o Papa em Roma! –, unir a comunidade ainda é um desafio em tempos de reclusão social. Há muito tempo a Igreja (e diversas outras instituições religiosas) já havia notado que para manter seus fieis, não bastava apenas a adoração e fé comum, mas promover um sentimento de pertencimento. Pode-se dizer que o ramo do entretenimento não é muito diferente.
Entretenimento de massas, experiência individual, íntima. Foi assim que começaram os drive-ins. A prática se popularizou nos anos 1950 e 1960, principalmente em áreas rurais dos Estados Unidos, país que na época contava com mais de 4 mil estabelecimentos do gênero. Hoje apenas 300 deles ainda estão em funcionamento. No Brasil, o único Cine Drive-in em funcionamento, na Asa Norte em Brasília (fechado durante a crise do Covid-19), resiste às pressões do mercado. Pode-se dizer que o espaço do Drive-in caracteriza o auge do American Way of Life, promovendo produções de Hollywood, e ode ao mercado automobilístico.
Apesar do espaço comum, a ideia inicial desta experiência é marcada por sua individualidade. Propagandas indicavam que “a família toda é bem-vinda, independente de quão barulhentas as crianças podem ser”. Cada carro decide como quer se engajar nessa prática, conectando-se à rede de rádio para acompanhar o áudio do filme. Apesar da distância, o Drive-in torna-se um local de encontro. Uma aglomeração com espaços privados. Quem sabe uma boa alternativa para, um dia, a lenta abertura e retorno à vida social (moderada).
Hoje de certa forma vemos uma versão do Drive-in acontecendo em algumas das grandes capitais. Com o movimento #ficaEmCasa, projeções de filmes em empenas cegas de prédios, paredões livres e sem janelas, por exemplo, chamam a atenção. Cada um da sua janela acompanhando o mesmo enredo. Pode-se ouvir (e às vezes ver) a reação dos vizinhos, que depois compartilham comentários nas redes sociais. Um passo além das tão populares live streaming, que já estão começando a perder o encanto com tanta oferta, as projeções ajudam a atingir algo que o mundo digital ainda não consegue substituir: o “eu estava lá”. Relativamente.
sobre a autora
Laura Belik é doutoranda em Arquitetura na University of California, Berkeley, Mestre em Design Studies pela Parsons – The New School (Nova York, 2016), e formada como arquiteta e urbanista na Escola da Cidade (São Paulo, 2013).