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my city ISSN 1982-9922

abstracts

português
O urbanismo moderno, pode ocasionar problema nas cidades. Em contraponto, vem o um debate do urbanismo contemporâneo priorizando as pessoas e o convívio social.

english
Modern urbanism has caused several structural problems in urban centers. Conversely, there is a debate on contemporary urbanism prioritizing people and social interaction.

español
El urbanismo moderno puede causar problemas en las ciudades. En contraste, hay un debate sobre el urbanismo contemporáneo que prioriza a las personas y la interacción social.

how to quote

OLIVEIRA, Mariana de; GODOI, Milena Soares; MESSIAS JUNIOR, Sidney Bavaresco. Cidade e seus impactos. Urbanismo contemporâneo como instrumento de convívio das pessoas. Minha Cidade, São Paulo, ano 21, n. 242.01, Vitruvius, set. 2020 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/minhacidade/21.242/7884>.



O presente artigo pretende observar e pensar cidades. Inicialmente pode causar estranhamento e ao mesmo tempo indignação com tudo aquilo que envolve o cotidiano das pessoas, ações que antes passavam despercebidas começam a trazer interrogações, afinal, muito do que se vê nos centros urbanos é fruto de um mal planejamento, ou ainda pior, a inexistência do mesmo.

Por isso, busca-se analisar, observar e comparar essas situações em cidades. Nota-se principalmente nas grandes cidades forte influência do urbanismo moderno, uma vez que essas são pensadas muito mais para automóveis do que propriamente as pessoas que ali moram e frequentam, no entanto há algumas poucas exceções que seguem os ideais do urbanismo contemporâneo, que visam muito mais as pessoas e sua relação com o meio no qual estão inseridas, como exemplo, Copenhague, na Dinamarca.

Desta maneira, o artigo tem como objetivo compreender a relação entre urbanismo moderno e contemporâneo e como isso impacta diretamente a vida das pessoas. Posto isso, será feita uma pesquisa de cunho bibliográfico, buscando reunir informações e dados a fim de compreender a problemática apresentada. A seleção de leitura proposta será a reflexiva permitindo, assim, avaliar as causas e as consequências da mobilidade urbana nos grandes centros e a visão contemporânea que prioriza as pessoas em relação aos automóveis.

O urbanismo muito mais do que se preocupar em apenas construir cidades, é uma ciência que estuda o espaço e a relação das pessoas com ele, a cidade é o seu principal centro de pesquisa, junto com as conexões criadas nesse ambiente (1).

O urbanismo tem grande importância no planejamento das cidades e como isso interfere diretamente no desenvolvimento humano, no bem-estar das pessoas, na qualidade e na organização dos espaços projetados.

Existem dois urbanismos em divergência, o urbanismo moderno que colocava os automóveis como protagonistas das cidades, a cidade precisaria refletir o seu tempo, o progresso tecnológico e industrial da época.

Em 1933 é criada a Carta de Atenas, documento que define o conceito de urbanismo moderno, apresentando diretrizes para o planejamento urbano. Alguns pontos levantados na Carta se adequam a visão de uma cidade supostamente ideal, são eles: habitação, lazer, trabalho e circulação. As cidades são setorizadas, apresentam baixa densidade, vias largas e uma paisagem marcada por prédios. Um exemplo real do que foi proposto na Carta redigida por Le Corbusier é Brasília, cidade brasileira projetada por Lúcio Costa.

Com isso, a cidade projetada para pessoas, acaba sendo uma divergência do urbanismo moderno, uma vez que o protagonismo das cidades se volta para os automóveis, dando ênfase rodoviarista no desenho urbano gerando desequilíbrios entre pedestres e carros, retirando assim, o espaço urbano de convivência.

Sendo assim, é relevante analisar estudos de casos com cidades que seguiram os moldes do planejamento modernista e cidades que adotaram uma postura diferente. Posto isso, tal problemática pode ocasionar confusão na distribuição e uso do solo, levando a espaços subutilizados e vazios urbanos que causam impactos evidentes na dinâmica urbana (2).

Contudo, a rua que deveria cumprir o papel de encontro e socialização de pessoas, torna-se palco para estacionamentos públicos e privados, aumentando assim a insegurança e os índices de violência, impactando diretamente a vida das pessoas.

Ademais, vale ressaltar alguns exemplos que serão aprofundados posteriormente, Brasília (Brasil), Copenhague (Dinamarca) e a rua 14 de Julho em Campo Grande (Mato Grosso do Sul), será avaliado como esses planejamentos se organizam e como isso interfere na vivência/conexão das pessoas com espaço.

A cidade de Brasília, construída na década de 1950 é o marco do urbanismo moderno no Brasil, símbolo de uma esperada mudança do país no âmbito econômico e social, o plano piloto foi elaborado pelo arquiteto urbanista Lúcio Costa.

A cidade é muito conhecida por seu formato que muitos dizem “lembrar um avião”, e também por edifícios institucionais importantes, projetados por Oscar Niemeyer.

No entanto, nesta cidade há muito mais do que isso, afinal, ela foi construída e planejada do zero, não existiria ali os mesmos problemas das demais cidades brasileiras, ela seria então uma cidade perfeita, certo? Errado, a verdade é que a escala da cidade é muito grande, e tudo nela acaba afetando diretamente principalmente os moradores.

Seguindo os ideais do urbanismo moderno a cidade tem ênfase nos automóveis, isso é explícito no Eixo Monumental da cidade, quem mais sofre é o pedestre que precisa se locomover de uma região a outra, sendo obrigado a caminhar longas distâncias quase que inevitavelmente.

A cidade foi pensada para ter uma vida vibrante no centro, porém é uma das capitais mais “desérticas” do país, pensada para não haver congestionamentos, tem-se cotidianamente, e ainda muitos locais como bares e restaurantes tem acesso apenas por meio de automóveis, evidenciando que o urbanismo moderno não se atentou a todas as condicionantes que uma cidade necessita.

Desenho esquemático do traçado urbano de Brasília
Imagem divulgação [Wikimedia Commons]

Em contraponto com o urbanismo moderno, o urbanismo contemporâneo, então, surge como crítica às ideias levantadas no urbanismo moderno, é preciso pensar em cidade para as pessoas, elas devem estar em primeiro lugar, porque isso promove a qualidade de vida urbana e faz as pessoas se sentirem pertencentes ao lugar, se empoderando dos seus direitos. Grandes nomes representam esse urbanismo, Jane Jacobs, urbanista, ativista e autora do livro “Morte e vida das grandes cidades”, Robert Venturi, Aldo Rossi, Robert Goodman e Jan Gehl. Estes autores propõem cidades mais amigáveis, algumas características referentes ao urbanismo contemporâneo, são: a importância com as diferentes complexidades do meio urbano, assim como o estudo das calçadas e dos bairros, para que eles tenham diversos usos, a ocupação das ruas pelas pessoas, a preservação de edificações antigas e a preocupação em manter quadras menores, tudo isso contribui para uma cidade mais consciente dos seus impactos e que busque promover a qualidade dos espaços urbanos (3).

A exemplo de Copenhagen, a cidade “laboratório” de planejamentos urbanos, contêm grande parte das melhorias do urbanismo contemporâneo, uma cidade projetada na escala humana, pensada para pedestres e ciclistas, uma vez que a cultura da bicicleta é bastante forte no centro urbano, como pode ser vista nas imagens abaixo.

A cidade conta com grandes parques e calçadões, proibindo a entrada de veículos, deixando assim, o espaço para a socialização das pessoas e a ativação do centro urbano a qualquer horário do dia, passando a sensação de segurança a quem caminha pelo local (4).

Além do mais, um exemplo dessa dualidade de espaços e “junção” dos métodos adotados pelos dois urbanismos debatidos, tem rua 14 de Julho em Campo Grande, no qual foi proposto um projeto de revitalização da rua, com o objetivo de torná-la uma via compartilhada, evidenciando um equilíbrio entre a relação de carros e pedestres.

Entretanto, ainda tem uma maior preferência aos veículos, uma vez que é uma via compartilhada, na qual poderia ter sido pensada com um olhar para a escala humana, e a ativação da mesma fora do horário comercial promovendo a interação e o convívio da sociedade, gerando aquele sentimento de segurança ao transitar pela via em qualquer horário do dia.

Projeto rua 14 de Julho
Imagem divulgação [Prefeitura de Campo Grande]

Portanto, compreender que repensar a escala de planejamento urbano, impacta diretamente nos problemas sociais de uma cidade e no modo em que isso interfere na vida das pessoas que residem nos centros urbanos, na mobilidade, segurança, na conexão das pessoas com a cidade, no sentido de pertencimento ao lugar e em tudo que organiza o espaço e suas relações, torna-se essencial para um bom planejamento urbano.

A produção deste artigo tem como objetivo contribuir para o entendimento de que o planejamento urbano é relevante e determinante na maneira como as pessoas se comportam e interagem com a cidade. Pensando assim, os urbanistas têm uma grande responsabilidade em projetar para as pessoas, elas precisam fazer parte desse processo e compreender o poder transformador que isso pode ter.

Dessa maneira, a pesquisa elaborada busca discutir algumas das problemáticas urbanas e como elas poderiam ser evitadas, além da visão contemporânea a respeito do planejamento das cidades. Como contribuição, espera-se que as abordagens levantadas no presente artigo ampliem os conhecimentos sobre o tema, atente aos profissionais da área e façam as pessoas se questionarem sobre como e para quem o espaço urbano está sendo projetado, com a finalidade de se empoderar sobre seus direitos, o direito à cidade.

notas

1
Saiba tudo sobre Urbanismo e inspire-se com os maiores urbanistas do mundo!. Viva Decora Pro, 21 jun. 2019 <www.vivadecora.com.br/pro/arquitetura/urbanismo/>.

2
BARATA, Aline Fernandes; SANSÃO, Adriana. Urbanismo tático: experiências temporárias na ativação urbana. Rio de Janeiro. Habitar – 3º Seminário Nacional Habitação e desenvolvimento sustentável, Rio de Janeiro, UFRJ, 2016.

3
COSTA, Andréa. O surgimento do urbanismo e as propostas de solução para as cidades <https://docente.ifrn.edu.br/andreacosta/lazer-e-urbanismo/aula-05-a-08-propostas-urbanisticas-do-sec.-xix>.

4
JACOBS, Jane. Morte e vida de grandes cidades. São Paulo, WMF Martins Fontes, 2011.

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