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my city ISSN 1982-9922

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DAVID, Daniele Caroline. Autofagia e identidade. Minha Cidade, São Paulo, ano 21, n. 242.02, Vitruvius, set. 2020 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/minhacidade/21.242/7885>.


Orla de Rifaina com edifício residencial multifamiliar
Foto divulgação


O meio urbano está em constante transformação e os resultados desta influenciam na morfologia da cidade e na vida dos que nela convivem, portanto, buscar a compreensão destes fenômenos torna-se imprescindível para entender a urbe e seus citadinos.

O processo de urbanização está vinculado a diversos fatores, um dos principais é a necessidade do homem de se territorializar apropriando-se do espaço na sua condição genuína e o transformando em seu lugar de vivencia, no qual constitui sãs relações sociais, econômicas e políticas.

Durante todo o processo dessa transformação antrópica do espaço, o homem utiliza técnicas e instrumentos para alterar a paisagem, com intuito de estabelecer novos espaços, sendo assim, o processo de urbanização é uma complexa relação entre os elementos essenciais da natureza e o meio antrópico.

A cidade, como sendo espaço transformado pelo homem para umas necessidades, fica evidenciado que o mesmo estabelece relações de proximidade e intimidade com a urbe, a mesma oferece ao homem, um reflexo das suas próprias ações, sejam elas rude ou afáveis, provindas da maioria ou de uma pequena parte da população.

Neste sentido, a urbanidade como produção antrópica que tem ovo finalidade abrigar as relações e os grupos sociais das mais diversas categorias, em que os mesmos sejam reconhecidos e se reconheçam nos chamados lugares, a cidade então é um composto de lugares, abrangendo toda a diversidade da condição humana, estabelecer essa relação de proximidades com o lugar e sua manutenção, tornou-se um desafio para as cidades modernas e pós-modernas, a partir da revolução industrial, as relações sociais em detrimento ao lucro e ao mercado foram desprezadas e estes sobressaíram e as cidades romperam sua ligação com o tempo, se destituíram dos seus lugares, abrigando espaços desprovidos de passado e memória.

Na passagem da cidade moderna para pós-moderna, identifica o desejo das cidades se tornarem grandes polos de concentração habitacional e de capital, o resultado dessa urbanização unificada, se na Era da Globalização em que a cidade global e resultado, surge então uma urbanidade homogênea e unificada, a fim de atender as necessidades dos mercados internacionais.

Entre as várias transformações ao longo do tempo e no espaço ocorreram várias cisões, a cidade, de obra passou a ser mercadoria, a espacialidade impôs sua força sobre a história, a urbanidade se transformou em urbanística que por sua vez passou a ser ideologia, convergindo para isto o ícone urbanístico que promoveu a cidade mercadoria, a criação transformou-se em produção, o uso em troca. Vê-se então a cidade como uma abstração vazia, isto é esvaziada de sentido, pois sua forma perde conteúdo ao tornar-se um signo social. Esta abstração concreta ao apoderar o corpo, a mente, o coração do indivíduo, ao se completar na sua totalidade colocou o homem em estado de alienação, a qual no seu grau mais elevado transformou-se em aspectos da sociedade em espetáculo (1).

Na cidade de Rifaina localizada no estado de São Paulo com população de um pouco mais de 3.600 habitantes, cuja principal característica é o turismo, os processos de urbanização seguiram a lógica mercadológica e hoje a cidade contempla dois prédios multifamiliares de gabarito alto que impactaram a paisagem predominantemente horizontal.

Orla de Rifaina com edifício residencial multifamiliar
Imagem divulgação

Ao observar esta imagem pôde-se dizer que este edifício segue a lógica urbana imposta pelo mercado, no qual já mencionada, na concepção de cidade miragem , segundo Ana Rosa Sulzbach Ce e Cibele Vieira Figueira (2). “As cidades brasileiras, de forma geral, valorizam sobremaneira os tipos arquitetônicos que quase sempre estão vinculados a fatores econômicos da construção, sem se preocuparem com o resultado na paisagem urbana”.

Este exemplo apresentado está situado em uma cidade que tem no turismo sua principal atividade econômica evidenciando um cenário urbano esquizofrênico , já que ao explorar o turismo a cidade deveria evidenciar seu patrimônio enquanto paisagem urbana e procurar enfatizar esta imagem de cidade horizontal e criar cenários urbanos que tonificam e afirmam esta características para que a mesma firmasse sua identidade e com isso constituísse relações de pertencimento de identidade para com os seus visitantes e citadinos, no entanto, como na maioria das cidades brasileiras o que se fez foi mais uma narrativa com preceitos do mercado imobiliário.

A cidade de Rifaina é só mais um exemplo do processo de urbanização autofágico, o qual se encontra em constantes mutações de construção e desconstrução, este planejamento tende a destruição de referenciais que preservam os elementos que representam a memória coletiva, como o patrimônio arquitetônico, culturalmente urbanístico e ambiental das cidades.

Como explicita Ana Fani Carlos (3), “o mundo produzido como imagem não é mais uma construção no espaço e a cidade agora e apenas uma imagem desenhada em um papel publicitário”. E para os defensores do planejamento estratégico é necessário gerar um consenso entre os cidadãos e que os grandes empreendimentos de caráter monumental, tem a capacidade de gerar sentimento de pertencimento e patriotismo pela cidade, no entanto, seria uma proximidade forçada, na medida que, as relações de proximidade são estabelecidas ao decorrer do tempo, se dando por meio de apropriação e uso do espaço, em que na maioria e como o exemplo apresentado, são restringidos pelo caráter especulatório destes grandes empreendimentos.

Logo, o empreendedorismo urbano é criticado em diversos níveis, por ser um modelo global de atuação sem considerar o local de implementação, não se preocupam de verdade com a participação popular, mas sim constroem na população anseios do que se almeja realizar, valendo-se do marketing urbano, além de que as operações se realizam em áreas estratégicas, excluindo as áreas que não possuem valor econômico e por fim, os planos estratégicos não mudam de maneira relevante as condições sociais dos menos favorecidos economicamente e socialmente, sendo, contudo, mais importantes para a dinamização da economia favorecendo a soberania da elite local.

Este edifício recém-inaugurado na cidade de Rifaina é somente um dos tantos exemplos do planejamento urbano autofágico que acontece em todo território brasileiro convergindo as cidades em urbanidade esvaziadas de sentido e identidade priorizando as relações econômicas em detrimento as relações sociais.

notas

1
BRAZ, Fábio Cézar. Eventos/feiras de negócios na (re)produção do espaço urbano da metrópole: estudo de caso do Parque Anhembi e Centro de Exposições Imigrantes. 2008, 145 f. (Tese em Pós-graduação stricto sensu em Geografia Humana). Universidade de São Paulo, São Paulo, 2008

2
SULZBACH CÉ, Ana Rosa; VIEIRA FIGUEIRA, Cibele. Devemos construir cidade destruindo-a? Preservação da paisagem e vida urbana. Minha Cidade, São Paulo, ano 14, n. 168.04, Vitruvius, jul. 2014 <www.vitruvius.com.br/revistas/read/minhacidade/14.168/5234>.

3
CARLOS, Ana Fani A. Espaço-tempo na metrópole: a fragmentação da vida cotidiana. São Paulo, Contexto, 2001.

sobre a autora

Daniele C. David é arquiteta e urbanista pela Universidade de Franca (2015), mestranda pelo Programa de Pós Graduação em Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Uberlândia.

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