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O projeto ZL Vórtice, liderado por Nelson Brissac, promoveu, em conjunto com a Associação dos Moradores do Jardim Pantanal – Amojap, um encontro de avaliação das propostas de pavimentação de calçadas em desenvolvimento para a área.
BRISSAC, Nelson. Jardim Pantanal. Desenho, fabricação, pavimentação. Minha Cidade, São Paulo, ano 23, n. 273.04, Vitruvius, abr. 2023 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/minhacidade/23.273/8771>.
O projeto ZL Vórtice promoveu, em conjunto com a Associação dos Moradores do Jardim Pantanal – Amojap, em 14 de abril de 2023, um encontro de avaliação das propostas em desenvolvimento para a área.
Foram apresentados os procedimentos de desenho e modelagem de calçadas, elaborados por Regina Silveira. A artista realizou diversas oficinas com os moradores, desenvolvendo com eles figuras e padrões cromáticos específicos para a comunidade. O projeto é baseado no princípio de composição: cada lajota é dividida em quatro seções ortogonais, que podem ser pigmentadas separadamente. A montagem do mosaico deve seguir um guia, em que cada elemento é numerado, para o encaixe das peças. Com isso pode-se criar imagens e inscrições, conforme são posicionados os pisos, de acordo com o desenho proposto.
A serem instaladas em pontos estratégicos do Jardim Pantanal, como as margens dos córregos, as calçadas coloridas buscam configurar espaços públicos, que fortaleçam o pertencimento ao lugar. O encontro serviu para escolher o design dos protótipos que serão proximamente produzidos e para discutir o processo de montagem dos mosaicos, a partir do guia que indica a posição das peças. A adoção, pelos moradores, da técnica de modelagem com numeração das peças instrumenta a comunidade para a implantação de calçadas com desenhos coloridos complexos, em diferentes trechos do bairro.
O engenheiro Rafael Pileggi, do Laboratório de Microestruturas e Ecoeficiência da Poli-USP, apresentou a tecnologia de moldagem e pigmentação dos pisos, trabalhada em oficinas de capacitação com os moradores. O LME desenvolve materiais que reduzam os impactos ambientais. A dosagem do concreto é um aspecto importante da tecnologia: ela garante o desempenho previsto do material e evita o uso excessivo de cimento. O acompanhamento dos insumos, a calibragem da mistura feita pelos moradores, visa manter o desempenho do composto utilizado, assegurando os teores adequados. A técnica da pigmentação do concreto, por outro lado, deve garantir a constância cromática do piso.
A proposta consiste em fabricar no local os blocos de concreto que vão compor o pavimento. As fôrmas são moldadas e fabricadas com polímeros plásticos flexíveis, de modo a permitir a desmoldagem manual pelos moradores. Cada peça é preenchida por camadas de concreto e pigmento, de acordo com o desenho da calçada. O procedimento, desenvolvido nas oficinas, requer a habilitação dos moradores no preparo do concreto, no preenchimento das formas e na sobreposição de camada de pigmentos, conforme o desenho de cada peça. Além da desmoldagem posterior dos blocos coloridos.
O encontro serviu para sumarizar o sistema produtivo testado com os moradores e definir o encaminhamento da construção dos protótipos. A fabricação dos pisos em escala demanda a instalação de uma unidade de produção, dotada dos equipamentos básicos necessários, e a organização do processo de trabalho. A viabilização da produção do pavimento do Jardim Pantanal pelos próprios moradores requer a participação ativa da comunidade em todas as etapas de fabricação da infraestrutura.
O pavimento é concebido para contribuir para mitigar os efeitos de enchentes e deve ser integrado a dispositivo de drenagem. Ele é feito com peças de concreto intertravadas, divididas por canaletas que servem para escoar a água de chuva, que deve se infiltrar no espaço entre elas até a base em que estão assentadas. Essa base então retém a água, reduzindo o volume e o pico da vazão do escoamento superficial, e escoando lentamente para um corpo d’água próximo.
Alex Gonçalves, de ZL Vórtice, apresentou o resultado de oficinas de levantamento urbano realizadas em ruas do bairro. A proposta consiste no registro em mapas, pelos moradores, dos elementos que incidam sobre um projeto de pavimentação e drenagem da área. Os mapas (desenho da pavimentação proposta, problemas de drenagem, declividades e empoçamento) foram elaborados combinando bases cartográficas públicas, levantamento topográfico realizado pela Sabesp, modelo digital de terreno do Lidar e imagens de satélite. O conjunto constituiu um caderno de campo, utilizado nos percursos pelos moradores.
Foram anotadas as possíveis interferências no desenho do pavimento, como árvores, postes e rampas de garagem, que devem ser incorporadas no projeto. Também os problemas de drenagem nas ruas, como desníveis entre a rua e as moradias, e outros fatores que contribuem para o escoamento ou empoçamento. As declividades irregulares: as variações de direção da drenagem, indicando áreas de empoçamento. Em pauta o desafio de implantar pavimentação em área sujeita a enchentes, em que o acúmulo de água pode provocar colmatação, afetando a estabilidade da infraestrutura urbana.
Por fim, foram também registradas as possibilidades de desenho do pavimento, as áreas disponíveis para calçadas e vias de trânsito, considerando as variações na largura das ruas. O resultado posto para avaliação são mapas com indicações geolocalizadas, acompanhadas por fotografias, dos diferentes elementos e interferências detectados. O desenvolvimento de um instrumental cognitivo e operacional, a partir de temas de interesse dos moradores e de uso acessível a todos é condição para assegurar a participação da comunidade na urbanização do Jardim Pantanal.
Estiveram presentes representantes da Secretaria Municipal de Infraestrutura e Obras – Siurb e da Comissão de Acessibilidade da Prefeitura – CPA.
sobre o autor
Nelson Brissac é filósofo, trabalhando com questões relativas à arte e ao urbanismo. Organizou Arte/Cidade, um projeto de intervenções urbanas em São Paulo. É autor dos livros Paisagens críticas – Robert Smithson: arte, ciência e indústria (Editora Senac, 2010) e Arte/Cidade Zona Leste (Editora Dardo, Espanha, 2011). Atualmente desenvolve o projeto ZL Vórtice, no Jardim Pantanal, zona leste de São Paulo.