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PORTAL VITRUVIUS. Congresso Nacional de Iniciação Científica em Arquitetura e Urbanismo – CICAU 2002. Projetos, São Paulo, ano 02, n. 024.01, Vitruvius, jan. 2003 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/projetos/02.024/2197>.


A cor e a imagem urbana no centro histórico de Piratini – RS

1. Introdução

Esta pesquisa tem como objetivo, desvendar a imagem cromática de Piratini, obtendo os dados que sirvam para propostas de aprimoramento da imagem urbana de um centro histórico cromaticamente descaracterizado. Este estudo será realizado de forma a encontrar um equilíbrio entre o antigo e o novo. O antigo tem como característica cultural a história, o traçado do meio urbano e a tipologia das edificações existentes no local. Enquanto o novo é caracterizado pelas preferências cromáticas atuais das pessoas, sua busca pela modernização e a imagem que cada um tem do local onde mora.

O estudo da cor na paisagem urbana é de grande importância. Utilizando-se dos diferentes matizes, claridades e saturações é possível agrupar, segregar, destacar ou até mesmo disfarçar qualquer elemento inserido na paisagem. A cor é, portanto, um atributo físico, que embora não interfira na forma urbana, interfere na percepção que temos dela.

As tonalidades cromáticas estão relacionadas, também, com a noção de tamanho e distância que temos de determinados objetos, além de serem responsáveis por transmitir mensagens emocionais como o exótico, o dramático, o calmo, o elegante e o excitante.

Dentro de um centro histórico é ainda mais importante que a pintura das edificações seja feita de forma correta, qualificando, dando unidade e mantendo a identidade cultural do ambiente. O uso indiscriminado e aleatório desta ferramenta, reforçado pelo apelo comercial pode alterar a leitura de elementos importantes e que têm como objetivo ensinar a história por si próprios, além de comprometer o conforto visual do ambiente.

2. Piratini-RS, História e Acervo

O objeto deste estudo é o centro histórico do município de Piratini-RS. Cidade que surgiu do assentamento de 48 famílias açorianas em 1789 num lugar chamado Capão Grande de Piratini. Importante para a história gaúcha, esta cidade foi proclamada a primeira capital da República Rio-Grandense em 1836, durante a Revolução Farroupilha. Seu sítio histórico, considerado dos mais complexos e homogêneos do Rio Grande do Sul, possui três tombamentos de importância Federal e quinze de importância Estadual.

A parte antiga desta cidade, de aproximadamente 19.000 habitantes, desenvolveu-se em torno da igreja (área delimitada para este estudo) e a parte nova desenvolve-se linearmente no sentido nordeste. A arquitetura é representada, na sua maioria por construções de estilo colonial, de formas simplificadas, geralmente de um pavimento. A grande parte das casas possui beirais com cimalhas ou com beiras. As aberturas são de madeira, geralmente com vergas retas, havendo bandeiras com vitrais coloridos nas janelas e portas das casas de melhor acabamento. Também são encontradas edificações inspiradas em períodos posteriores, como o eclético e o protorracionalista, porém em menor quantidade.

Atualmente, Piratini encontra-se em processo de descaracterização, devido às várias intervenções, entre elas o uso indevido da cor. Entre outros, foram observados três problemas principais, que provocam a alteração da forma urbana através da cor. O primeiro são as casas pintadas com cores fortes e saturadas, que provocam o destaque excessivo destas edificações no contexto da rua (figura 1). O segundo é a alteração dos prédios históricos com pinturas que não correspondem ao modelo cromático antigo. O último trata-se do desmembramento da fachada com a utilização de pinturas diferenciadas que provocam a perda da unidade na leitura dos prédios. (figuras 2 e 3).

3. Metodologia da pesquisa

A idéia geral para a metodologia deste trabalho foi buscar dados que identificam a imagem cromática contemporânea de Piratini para compará-los com a imagem cromática desta cidade na época de sua formação. Com isto, foi possível observar o quanto a imagem da paisagem urbana mudou através dos tempos, para então, elaborar algumas recomendações de pintura para as casas visando manter a identidade cultural da cidade.

3.1. Coleta e organização dos dados das cores contemporâneas

Para o levantamento da imagem cromática atual da cidade, foram estudadas as cores dos diversos elementos das fachadas. Para a averiguação destes matizes foi utilizado um catálogo de tintas da marca Coral, bem como amostras de outros catálogos quando necessário. Com as amostras de todos os matizes encontrados foram elaboradas duas paletas, a Paleta Geral das cores que mostra todas as tonalidades analisadas e a Paleta de Estruturação cromática. A primeira classifica as cores por dezesseis matizes (marrom, vermelho, rosa, laranja, salmão, amarelo, ocre, bege, verde, verde-musgo, azul, cinza, violeta, verde-água, branco e preto) e por oito níveis de claridade/saturação (claríssimo, claro, claro-acinzentado, escuro, acinzentado, intenso, escuro acinzentado e médio). A segunda paleta mostra a distribuição das cores nos diversos elementos da fachada (soco, alvenaria, detalhes e esquadrias).

Cada uma das cores recebe um código formado pelo número dos matizes que varia de 01 à 16 e pelo número das claridades/saturações que varia de 01 à 08. Estes códigos e a distribuição das cores nas fachadas foram utilizados na obtenção de um banco de dados. Através de um software específico, foram descobertas as ocorrências dominantes de cada um dos matizes nos diversos elementos e sua porcentagem, bem como o nível de claridade/saturação mais característico de cada cor.

Dentro do esquema previsto, foi elaborado um mapa da cidade (figura 4), onde cada prédio foi colorido com retângulos que correspondem às cores do soco, parede, detalhes e esquadrias. Este mapa permite uma visualização mais detalhada do comportamento da cor na escala urbana, como exemplo, a detecção das atividades cromáticas em zonas específicas. O mapa facilita, também, a observação de pontos estratégicos para pintura, onde um maior cuidado deverá ser tomado na escolha das cores, como é o caso das esquinas e das bifurcações das ruas.

Outro importante objeto de análise é a montagem da imagem das quadras com a união de fotografias (figura 5), que permitiu a observação do comportamento cromático das fachadas ao longo das ruas. Com estas montagens foi possível analisar a homogeneidade ou desmembramento das faces de quarteirão, bem como as cores que mais destacam-se ou escondem-se na percepção da quadra. Outras características importantes como a dimensão das fachadas em relação umas às outras e a interferência por mobiliário urbano, redes de infra-estrutura ou placas de letreiros, também podem ser facilmente observados nestas montagens.

3.2. Coleta e organização dos dados das cores antigas

A análise das cores antigas foi obtida a partir do banco de dados de uma pesquisa promovida pela parceria entre o IPHAE e a FAUrb-UFPel em 1999 e 2000. Na qual foram prospectadas 44 casas do centro histórico de Piratini, o que possibilitou a identificação de sua imagem cromática na segunda metade do século XIX.

Nesta pesquisa, também foram observadas fotografias antigas da cidade. Embora o material iconográfico não fosse suficientemente rico e confiável algumas observações puderam ser feitas. Mesmo sendo em preto e branco, estas fotografias permitiram analisar o comportamento cromático das fachadas através da a diferença de claridade entre os diversos elementos. Foi observado que haveria um certo contraste entre os matizes claros, geralmente utilizados nas paredes e as cores mais escuras utilizadas nas aberturas. O soco também seria pintado em cor mais escura que a da alvenaria.

Para a pesquisa que desenvolvemos agora, interessa saber, também, como era o ambiente cromático do meio urbano histórico, e como se dava a relação das cores entre as diversas casas. Nas fotos antigas, foi observada pouca diferença entre as paredes dos edifícios. Esta homogeneidade reforça a hipótese de que não haveriam contrastes fortes entre cores na leitura das quadras.

4. Resultados

Ao todo, foram analisadas 94 edificações, localizadas no entorno da igreja e as principais ruas adjacentes.

Os principais usos dados às construções nesta área da cidade são o residencial e o comercial, caracterizado por pequenas lojas. Com relação aos materiais empregados, observou-se a grande utilização de reboco liso pintado, o que reforça ainda mais a importância da boa utilização da cor dentro deste contexto urbano. Já que, também há pouca incidência de revestimentos de pedras, azulejos ou tijolos à vista. A pintura das edificações, de maneira geral, parece ser nova, havendo poucas construções descascadas e alguns prédios recentemente pintados.

4.1. Das ocorrências cromáticas atuais

Para a ilustração de como a análise das cores foi realizada, encontram-se aqui os gráficos do elemento “paredes”. No primeiro gráfico são analisadas as ocorrências das matizes. No segundo é analisado o nível claridade/saturação dos elementos sem levar em conta a matiz e no terceiro é analisado o nível claridade/saturação para cada uma das matizes encontradas neste elemento.

Nas paredes foi observada a predominância de tons acromáticos (branco, cinza) de 37%, estando a cor branca com 32%, aproximadamente um terço do total (gráfico 1). As cores com maior ocorrência são o amarelo (12%), o salmão (11%), o rosa, o verde e o bege com 10% cada, todos com alta claridade (gráfico 3). O grupo dos matizes amarelados (bege e amarelo) soma 22% e os matizes rosados (rosa, laranja e salmão) somam 23%. Quanto ao nível de claridade/saturação, pode-se afirmar que os matizes de alta claridade (claríssimo, claro e claro-acinzentado) somam mais da metade do total (54%), e se somados com o branco, chegam a 87% (gráfico 2). Isto nos mostra, que nas paredes há a preferência de pintura  com tonalidades claras de amarelos e rosados, além do próprio branco.

Nos detalhes, caracterizados por pilastras, cimalhas ou molduras das aberturas, observou-se a maior preferência pela cor branca (47%), sendo o grupo dos matizes acromáticos 51%. Os outros matizes aparecem bem equilibrados entre si, sendo os mais relevantes, o azul com 9% (predominantemente escuro), o bege com 8% (equilibrado entre claro e escuro), o salmão com 7%, (mais claro que escuro) e o verde com 6% (equilibrado entre claro e escuro). O grupo dos matizes amarelados soma aproximadamente 21%. Nestes elementos observou-se a diminuição da preferência por cores claras, se comparadas com as cores das paredes, somando apenas 25%.  O que significa que, quando os detalhes não são pintados de branco, geralmente são pintados com cores mais saturadas e escuras.

Nas aberturas observou-se a concordância entre os gráficos das janelas e portas, isto significa que, na mesma fachada, estes dois elementos são pintados da mesma cor. Com relação aos matizes acromáticos, houve uma redistribuição das cores, aumentando significativamente a preferência pela cor cinza (20%) sendo o branco 39%. Há ainda uma certa preferência pelos matizes marrom (normal a escuro) e vermelho que juntos representam 18% além dos azuis e verdes com aproximadamente 10% cada. Com relação ao nível de claridade/saturação, parece haver maior equilíbrio entre os matizes claros, médios e escuros, que representam respectivamente, 20%, 25% e 14%.

O soco parece ser o elemento mais colorido, a cor branca ocorre em aproximadamente um quinto (21%) das unidades analisadas e junto com o cinza corresponde 30%, a menor porcentagem de tons acromáticos observada. Entre outros matizes, destacam-se o azul, 15% (claro e escuro), rosa, 13% (claro e escuro), verde, 9% (claro e médio-acinzentado) e salmão, 9% (mais claro que escuro-acinzentado) como as cores de maior ocorrência. Embora tenha menor quantidade de cor branca, os matizes claros são bastante utilizados, representando 57%, tonalidades escuras somam 14% e matizes de claridade/saturação mediana somam apenas 8%.

4.2. Das ocorrências das cores antigas

Como já dito, as conclusões gerais sobre as cores históricas foram analisadas em um estudo anterior, de Natalia Naoumova e Paola Jaekel. Este trabalho foi publicado com o título “Sustainable preservation of historical urban areas through the improvement of colour image”. Segundo esta pesquisa, os matizes brancos teriam predominado nas paredes das casas, e esta tradição teria sido mantida até a segunda metade do século XX. As tonalidades ocres, bastante fortes, salmão e rosas também teriam sido aplicadas nos diversos elementos das fachadas, tais como, paredes, cunhais, beirais e embasamentos. Segundo a pesquisadora, haveriam fachadas pintadas com uma única cor e fachadas pintadas de forma a destacar os elementos horizontais e verticais (cunhais e cimalhas) e a base seria sempre destacada com cor diferente.

Nas aberturas, haveria a preferência da pintura colorida, sendo o marrom avermelhado, o azul e o verde os matizes de maior predominância. Os caixilhos, teriam sido, em alguns casos, pintados de branco.

5. Conclusões sobre preferências cromáticas antigas e atuais

Comparando os gráficos que representam a imagem antiga e a imagem contemporânea, pode-se afirmar que, nas paredes, a preferência pela utilização da cor branca permanece praticamente a mesma. Também não há grandes variações na utilização dos outros matizes, embora tenha-se notado uma modificação significativa com relação ao grupo das tonalidades amareladas. Há, nos dias de hoje, a utilização da cor bege clara em contraste com a preferência pelos matizes ocres mais fortes do passado. Aumentou, também, a utilização dos matizes rosas e verdes, revelando que hoje este elemento é mais colorido que no passado.  

Observou-se que nos detalhes cresceu, ao longo dos anos, a preferência pela utilização do branco. Outra grande diferença também envolve o grupo dos matizes amarelados, que antigamente representavam quase a metade das preferências de pinturas para os detalhes e agora representam aproximadamente um quinto. Com relação ao nível de claridade/saturação, pode-se dizer que a preferência por cores claras diminuiu. Isso mostra que hoje há mais contraste entre as fachadas e entre os elementos dentro da fachada.

No passado o soco era pintado de branco com mais freqüência que na atualidade. Pode-se dizer que hoje em dia este elemento é muito mais colorido, embora seja bem mais claro e pálido. Antigamente, também havia neste elemento uma certa preferência pelo grupo dos matizes amarelados, embora os tons avermelhados, bem como o azuis e cinzas fossem bastante utilizados.

Nas esquadrias notou-se a diferença mais significativa, estes elementos perderam sua cromaticidade. Enquanto no passado as portas e janelas não eram pintadas na cor branca, na atualidade esta cor representa mais de um terço das ocorrências cromáticas para estes elementos. Os matizes preferidos na antigüidade ainda são bastante empregados, como o marrom, o vermelho, o azul e o verde, todos escuros ou muito saturados. Outra observação com relação a estes elementos é que na atualidade as janelas e portas costumam ser pintados na mesma cor. Pelos gráficos das cores antigas, podemos notar que não há uma correspondência exata entre as cores das janelas e as cores das portas.

Como conclusão geral do trabalho, podemos dizer que Piratini conservou a preferência da pintura das paredes das casas com cores claras, mantendo quase as mesmas cores da paleta antiga. Houve um acréscimo de cores frias que, mesmo aparecendo em pequenas porcentagens nos gráficos são utilizados com tonalidades fortes e saturadas. Isto faz com que estas cores tenham um grande destaque na paisagem urbana. As principais diferenças aparecem nas combinações e tipologias cromáticas.

Espera-se que as informações obtidas desta pesquisa e a metodologia desenvolvida sirvam de apoio para futuras propostas de aprimoramento da imagem urbana de um centro histórico.

Este trabalho reforça o papel do arquiteto como produtor do ambiente qualificado, responsável pela identificação das pessoas com o local onde elas vivem. É por isto que, para este profissional a cor não pode ser mais um mero material de acabamento, mas sim, parte inerente do ambiente, compondo, juntamente com a forma, a obra de arte.

bibliografia

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DOYLE. Michael E. Color Drawing. Nova Yorque: Van Nostrand Reinhold, 1993.

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VERNETTI. Jerônimo. Et al. Estudo da Policromia da Área Central de Pelotas, RS. Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, UFPel. 2000.

créditosCo-autoras: Débora Cristiane Carrilho Barcellos e Talita Marti Meireles
Colaboradores: Wagner Costa Oliveira
Orientadora: Natalia Naoumova
Núcleo de estudos de arquitetura brasileira (NEAB-UFPel)Universidade Federal de Pelotas
Faculdade de Arquitetura e Urbanismo
Fundação de amparo à pesquisa do Rio Grande do Sul (FAPERGS)

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Curitiba PR Brasil

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