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PORTAL VITRUVIUS. Congresso Nacional de Iniciação Científica em Arquitetura e Urbanismo – CICAU 2002. Projetos, São Paulo, ano 02, n. 024.01, Vitruvius, jan. 2003 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/projetos/02.024/2197>.


A Qualidade de Vida em Natal na percepção de seus próprios moradores

Introdução

A Qualidade de Vida nas cidades tem sido algo muito discutido e muitos parâmetros vêm sendo utilizados na sua avaliação. Partindo da premissa que um dos instrumentos para avaliá-la é a percepção e os conceitos do próprio usuário da cidade, seu morador, o objetivo principal deste trabalho é verificar se a cidade de Natal, conhecida por sua alta qualidade de vida, sobretudo para o marketing turístico, realmente se apresenta assim para seus moradores – em específico, os do bairro de Lagoa Nova, utilizado como local para pesquisa amostral.

A investigação foi encontrar existência de percepção divergente de acordo com a inserção dos indivíduos nos vários grupos sócio-econômicos distribuídos espacialmente na fração urbana, pois, sendo a cidade caracterizada por forte segregação econômica, torna-se importante questionar até que ponto estas diferenças influenciam na vida das pessoas e no modo que elas se relacionam com o seu ambiente. A percepção é influenciada, também, pelas características da cidade, em seus aspectos físico-naturais, urbano-arquitetônicos e sócio-econômico-culturais, sendo, Natal uma cidade com boa qualidade de vida, sobretudo quando analisados os seus aspectos ambientais e de paisagem, mas deixando a desejar nos aspectos, apontados pelos habitantes, como os mais importantes, como segurança e custo de vida.

Qualidade de Vida e Qualidade Ambiental Urbana – Conceitos

Fruto de sensações ou opiniões individuais, a Qualidade de Vida (QV) ou a Qualidade Ambiental Urbana (QAU) podem ser interpretadas diferentemente por pessoas que tenham vivências e aspirações diversas, necessitando-se o entendimento de alguns conceitos básicos.

Os conceitos de QV variam bastante porque dependem de um conjunto de necessidades e aspirações a serem supridas para proporcionar satisfação e felicidade ao indivíduo, sendo, de todo modo, sensações de caráter bastante particular e expressões de juízos de valor. Pode-se dizer que QV é o suprimento das necessidades básicas individuais, sob a ótica das dimensões social (renda, educação, saúde, segurança, etc), ambiental (clima, aspectos físicos, etc.) e perceptiva (bem estar e condições de vida), podendo ser quantificada através de questões objetivas, por meio de indicadores, o que, através de valores médios, possibilita realizar análises qualitativas. Os indicadores são o ponto inicial do problema, pois uma vez delimitados, nortearão que aspecto da QV se quer avaliar. (Maslow, Dalkey e Cutter)

Já a definição de QAU pode ser dada como as condições ótimas que determinam o comportamento do espaço habitável em termos de conforto associado a aspectos ecológicos, biológicos, econômico, sócio-culturais, tecnológicos e estéticos em suas dimensões espaciais, que satisfaçam as condições individuais e permitam uma interação social dentro do meio urbano e a participação do indivíduo no processo e nas decisões e conciliação dos interesses individuais e coletivos. (Luengo, 2000; Rivas, 2000; Vargas, 1999). Há ainda a atribuição de valores a paisagem, pois a imagem também desempenha um papel social. À paisagem são atribuídas três qualidades: ambiental, funcional e estética. (COSTA, 1999) Neste sentido, cada elemento da arquitetura, da infra-estrutura, dos equipamentos e das informações urbanas, bem como do seu funcionamento, afetam as partes e, freqüentemente, o todo da imagem coletiva, fazendo com que o conceito de QAU vá além dos conceitos de salubridade, saúde e segurança, incorporando as características do sítio como também os conceitos de funcionamento da cidade fazendo referência ao desempenho das diversas atividades urbanas e às possibilidades de atendimento aos anseios dos indivíduos que a procuram. (VARGAS, 1999)

Procedimentos Metodológicos

Etapas do trabalho

Para a realização deste trabalho, composto por um estudo teórico e outro empírico, como primeira etapa, tem-se a delimitação do problema e o entendimento do mesmo através de revisão bibliográfica. Após delimitada a área de estudo, escolhida por meio de caracterização do bairro de Lagoa Nova, partiu-se para um breve estudo do mesmo, bem como de toda a cidade. Para a avaliação da QV a partir da opinião do morador foi realizado um trabalho de campo com a população do bairro, de caráter amostral, através da aplicação de questionários. A avaliação foi dada com questões fechadas, onde foi pedido ao entrevistado que atribuísse uma nota de 0 a 5 a todos os indicadores (onde 0 é a nota ao que ele considerar péssimo para a cidade e 5 ao que estiver excelente), permitindo uma avaliação qualitativa dos atributos da cidade. Para os resultados, as notas de 0 a 5 foram transformadas para base 10, através de média aritmética. A coleta de dados englobou as mais diversas faixas de renda, escolhidos em toda a extensão do bairro segundo as características tipológicas da habitação.

Delimitação da área de estudo

O universo de estudo deste trabalho é a cidade de Natal, mas para sua realização foi eleito apenas um de seus 35 bairros, Lagoa Nova, como local que bem representava e expressava vário setores da cidade. O bairro de Lagoa Nova localizado na Zona Sul de Natal, foi escolhido por uma série de fatores: sua localização central em relação a distribuição espacial da cidade; a sua extensão, o que possibilita uma característica heterogênea, retratando vários aspectos da urbs; a diversidade de uso do solo; e a grande concentração populacional residente, distribuída de maneira a apresentar pessoas das mais diversas faixas de renda.

Caracterização da população da amostra

A população da pesquisa ficou dividida segundo faixas econômicas, por média mensal familiar em salários mínimos (adotado o valor de R$180,00), concentrando, assim, 27% das famílias com menos de 5 salários mínimos (s.m.), 17% entre 5 e 10 s.m., 36% (a maioria) entre 10 a 20 s.m. e 20% com renda superior a 20 s.m. De acordo com o sexo, 60% dos entrevistados foram mulheres e apenas 40% homens, não havendo, praticamente, diferenças na avaliação entre os mesmos. Já entre as faixas etárias, 40% dos entrevistados tinham entre 20 e 29 anos, o que implicou em uma grande parcela de estudantes universitários. Em relação a escolaridade, 23,3% tinham o primeiro grau completo e incompleto, 26,7% estudaram até o segundo grau e 50% estavam cursando ou já haviam concluído o curso superior. A média de familiares por domicílio foi de 4,24 pessoas, sendo, de modo geral, famílias formadas pelo casal e filhos, com 36,7% sustentadas por dois desses componentes.

Delimitação dos Indicadores

Como já foi dito, a avaliação da QV é realizada geralmente com a quantificação de aspectos subjetivos. De acordo com Luengo (2000), podem ser delimitados três grandes aspectos que atuam como referência para a avaliação da QAU: os aspectos físico-naturais, os urbano-arquitetônicos e os socio-culturais. Estes aspectos foram utilizados como os principais grupos de variáveis, dentro dos quais estão inseridos uma lista de trinta indicadores.

Os atributos do Meio Físico Natural, de um modo geral ligam-se ao conforto ambiental da cidade, sendo, de maneira simplificada, elementos naturais, ou seja, características peculiares ao sítio, estando livre ou sob a influência do homem, ou ainda, elementos de preservação destes recursos, agindo diretamente na imagem/paisagem da cidade.

Os atributos do meio Urbano-Arquitetônicos são aqueles que caracterizam as intervenções do homem na formação da cidade, podendo ser inseridos no meio físico por também serem formadores da paisagem, mas interferem diretamente no funcionamento da mesma, são também elementos de gestão e planejamento urbano, acrescidos ainda de alguns fatores culturais, pois trabalham com a estética, cujo valor é de caráter bastante subjetivo.

Os atributos do Meio Sócio-Econômico-Cultural devem ser relacionados aos grupos sócio-econômicos que se distribuem na cidade e a oferta de estabelecimentos de educação, saúde, serviços e comércio como um todo. Para avaliá-los é mister que se a acompanhe com dados sobre renda, pois é quem define o acesso do cidadão aos bens públicos e privados, bem como a manutenção dos mesmos e o padrão da paisagem construída.

Natal: A Cidade e suas Imagens de Qualidade de Vida

Natal é, ainda hoje, considerada, como uma cidade de porte médio, sendo vista (e “vendida”) como uma cidade com alta QV. A sua imagem, baseada em recursos naturais, é, talvez, a sua fonte principal de recursos, uma vez que a indústria do turismo tem se desenvolvido aceleradamente nos últimos quinze anos trazendo benefícios e gerando uma renda alta no município. O clima é caracterizado como tropical úmido, apresentando mais de 300 dias de sol por ano e o ar foi qualificado pela ONU como o “mais puro das Américas”. Tais aspectos, juntamente à beleza paisagística, a tem tornado um motivo para atração populacional (ARAÚJO, 2000). Com este adensamento aumenta-se o consumo dos recursos e a produção de resíduos, sendo esta, hoje, uma grande preocupação ambiental da cidade. O espaço urbano de Natal modifica-se por um processo crescente de verticalização, que com a valorização do solo em determinadas áreas tem expulsado as camadas populares e provocado problemas na esfera ambiental. Tais problemas, em muitos casos, são bastante sérios como: ausência quase total de saneamento básico, ocupação desordenada e abandono de algumas áreas pelo poder público, contaminação do lençol freático, ocupação e devastação de área de proteção ambiental, saúde pública deficitária, lixo, moradia inadequada, desemprego, falta de educação sanitária e muitas favelas, com famílias vivendo em condições subumanas.

Para não deixar de citar Lagoa Nova, um dos bairros mais nobres da cidade, localiza-se na Região Administrativa Sul de Natal e abriga o Centro Administrativo do Estado do Rio Grande do Norte, bem como população de todos os níveis sociais e econômicos. A sua ocupação foi determinada pela implantação de grandes empreendimentos como indústrias, supermercados e universidades, que ocupam grandes glebas do solo urbano e pela implantação de conjuntos habitacionais para a população de classe média. Em algumas áreas restaram vazios urbanos, sendo outra parte ocupada por casas individuais em grandes lotes, bem como, por população de baixo poder aquisitivo, que estabeleceu-se em faixas, subdividindo ainda mais o solo e instalando-se em habitações precárias. (FERREIRA, 1996).

O bairro caracteriza-se principalmente pelo aspecto residencial, mas comporta vários empreendimentos e estabelecimentos com as mais diversas funções, estando passando por mudanças constantes de uso do solo nas vias principais do bairro, pelo enriquecimento da população e pelo crescente processo de verticalização.

A Percepção dos Moradores de Lagoa Nova sobre a Cidade de Natal

O Conceito de Qualidade de Vida para o Morador do Bairro de Lagoa Nova

Investigando o que cada morador tinha a contribuir para o conceito de QV de acordo com a sua vivência e anseios, foi sentida uma certa dificuldade nas respostas. De um modo geral, as definições giraram em torno do atendimento das necessidades individuais e da satisfação pessoal, dependendo do padrão de vida de cada um. As outras respostas resumiram-se a palavras soltas, como: saúde, segurança e educação. Questões como emprego e condições financeiras, ou ainda lazer, paz, tranqüilidade, moradia, privacidade e sossego, também foram citados. Uma minoria citou a ausência de poluição, saneamento e condições agradáveis do lugar habitável, sendo a preocupação com o ambiente, natural e/ou construído secundária. Para poucos a resposta vincula que melhorar o ambiente urbano é melhorar a QV dos que vivem nele, entretanto, percebe-se a preocupação de alguns com tais questões ambientais e urbanas.

O nível de satisfação com os atributos da cidade

Avaliando toda a cidade, através da qualificação para os 30 indicadores, as maiores médias foram para atributos do meio Físico-Natural, o que atesta a QAU de Natal, por suas características inerentes ao sítio e fatores climáticos. A grande maioria das notas deste grupo são de ordem regular ou satisfatória, excetuando temperatura natural, pois muitos qualificaram-na negativamente.

Pensando em uma média base, estabelecendo a nota 7,0 como um mínimo considerado satisfatório, poucos indicadores receberam notas superiores, qualificados como de bom ou excelente padrão. Muitos receberam notas máximas de alguns entrevistados, mas na média as maiores notas foram 8,4 para p. natural e tamanho da cidade e 8,27 para luminosidade natural. Os outros indicadores, no geral, que receberam notas superiores a 7,0 foram: equip. de abastecimento, estabelecimentos de comércio, qualidade do ar e da água, aparência geral da cidade e o tempo gasto em deslocamentos. Este último foi o único atributo do meio Urbano-Arquitetônico a receber nota acima de 7,0, os demais foram considerados regulares ou ruins, sendo apontados como os itens secundários, não significando como contribuição para a QVU.

Entre as notas consideradas médias (entre 6,0 e 7,0) surgem ainda alguns atributos da paisagem e outros fatores urbanos, como estabelec. de serviços, nível sonoro (ruídos), p. construída, ventilação natural, arborização, limpeza urbana, padrão habitacional e oferta de transp. coletivo. Nesta escala intermediária, as notas mais inferiores (abaixo de 6,0) foram dadas a fatores diversos como temperatura natural, sinalização das vias, opções de lazer diurno, pavimentação das ruas (estado geral de conservação) e iluminação noturna das vias.

Por fim, as médias mais baixas foram atribuídas a fatores com caráter primordialmente social, excetuando os de caráter mais urbano, ligados a vivência de espaços públicos, como oferta de equip. esportivos (3,5) e praças e parques (4,14), o que mostra a insatisfação do usuário com a pouca oferta e com a péssima qualidade do poucos que se encontram na cidade. De toda maneira, mesmo com notas baixas esses itens pouco foram apontados como de importância para a QVU, sendo a sua percepção secundária frente aos valores econômicos, que determinam sua QV pessoal. Os indicadores sociais de médias mais baixas foram a oferta de estabelec. de saúde, opções de lazer noturno, custo da moradia, custo de vida e segurança, no entanto, a importância para a QV dada a estes é muito grande.

Praticamente todos reclamaram da falta de segurança na cidade e a colocaram como item fundamental para uma boa QV. Juntamente com o custo de vida, foi o atributo que mais notas zero recebeu, o que demonstra a insatisfação do morador. Porém muitos fizeram a ressalva de que ao compararem a cidade com outras de maior porte, reconhecem-na como uma ainda tranqüila. Mas, pensando nela separadamente, atribuem-lhe características de violência.

Com relação aos fatores físicos, como qualidade do ar e da água, muitos lembraram as propagandas feitas para Natal, mas, não os julgaram correspondentemente a esta qualificação, dando-lhes notas mais baixas por achar que Natal já está sofrendo os efeitos da poluição causada pelo atual crescimento, que, de forma descontrolada, também vem sendo responsável pela modificação de seus aspectos climáticos, principalmente ventilação e temperatura.

As questões relacionadas a infra-estrutura, de um modo geral, foram melhores vistas pelas pessoas de maior poder aquisitivo que têm acesso aos melhores estabelecimentos de comércio e serviço, bem como às escolas, hospitais e clínicas particulares.

Analisando os itens apontados como os mais importantes para uma boa QVU, vê-se que praticamente todos tiveram notas baixas quando avaliados em Natal. Estes foram segurança, estabelec. de saúde e de educação e qualidade da água e do ar, fatores ambientais mais apontados acompanhando o contexto atual de campanhas para controle da poluição nos centros urbanos. Em uma escala menor, o custo de vida também foi apontado. Porém, alguns fatores sequer foram mencionados, como tamanho da cidade, p. natural, luminosidade, p. construída, equip. esportivos, transp. coletivo, paviment. das ruas, equip. de abastecimento e de comércio. Ou seja, retirando os dois últimos, fatores sócio-econômico-ambientais, mas apontados como de qualidade satisfatória, todos os outros são basicamente fatores físicos e urbanos formadores do espaço e da paisagem, o que implica que morar em um ambiente bonito e agradável pode ser favorecedor para a QV, mas não é quem a determina.

As diferenças de percepção segundo os diferentes grupos sócio-econômicos

Avaliando a QV em Natal a partir das diferentes faixas de renda, pode se perceber como pessoas que dividem o mesmo espaço, percebem-no, segundo suas diferenças sócio-econômicas. As faixas, reagrupadas sobre o Censo Demográfico 2000, são em um total de 4: famílias com renda de 1 a 5 s.m., de 5 a 10 s.m., de 10 a 20 s.m. e mais de 20 s.m..

Os indicadores de maiores notas no geral, tamanho da cidade e p. natural, receberam notas altas em todas as faixas de renda, também aparecendo a qualidade da água, cuja nota só não está entre as cinco maiores para a faixa de menos de 5 s.m., indicando a deficiência do serviço de abastecimento nas áreas menos favorecidas. Por grupos, as médias alcançam alguns padrões mais altos, como 9,25 para o tamanho da cidade entre os entrevistados de até 5 s.m..

Entre os itens de menores notas a predominância foi para custo de vida, segurança pública e equip. esportivos, mostrando que a situação econômica encontra-se incomodando a todos, bem como a segurança, problema sério das cidades de maior porte, atingindo a toda a sua população. Na faixa de até 5 s.m. existiram notas diferentes da média geral, mais inferiores ainda, como 2,0 para custo de vida e segurança. Entre os cinco piores de cada grupo, as maiores notas são do grupo com renda familiar de mais de 20 s.m.

Há uma pequena diferença, também, com relação aos atributos considerados os mais importantes para uma cidade oferecer boa QV aos seus habitantes. Para a população de renda mais baixa (até 5 s.m.), os itens ficaram concentrados em estabelecimentos de saúde e de educação e segurança. Em menor escala, apareceram custo de vida, custo da moradia e padrão habitacional. Vê-se, portanto, que todos os itens são ligados a fatores sócio-econômicos. Dentre estes, nenhum está entre as maiores notas atribuídas pelo grupo, mostrando que a QV, para eles, está associada geralmente às necessidades e anseios não supridos.

Para a população da faixa de 5 a 10 s.m., já entram alguns fatores ligados às questões ambientais, como qualidade da água e do ar, nível sonoro e limpeza urbana. De todo modo, os mais citados foram ainda segurança, saúde e educação.

Para a população com faixa de renda entre 10 e 20 s.m., não houve uma certa homogeneização como nas outras. Não obstante, entre os mais votados vê-se praticamente os mesmos indicadores já apontados, aparecendo alguns aspectos do meio Urbano-Arquitetônico como tempo gasto em deslocamentos, iluminação noturna e oferta de praças e parques.

Já entre os de maior renda, dois itens tiveram destaque, segurança pública e qualidade da água, destacando que estes itens não aparecem mal qualificados em relação às notas deste grupo, estando, inclusive, a qualidade da água entre as suas maiores médias.

Modificando um pouco, agora, o caráter da análise, foi possível, também, fazer um cruzamento entre a média do entrevistado e sua faixa de renda. Para os de renda mais baixa, as médias foram bem distribuídas (de 4,0 a 7,9), ou seja, as pessoas de baixa renda têm visões diferentes da cidade, principalmente influenciados pelos seus anseios pessoais. Entre a população de 5 a 10 s.m. não houve médias muito baixas, menores que 5,0, mostrando a satisfação um pouco melhor com o ambiente da cidade. Já para a população entre 10 e 20 s.m., as médias concentraram-se mais entre 6,0 e 6,9, sendo um índice regular. Para a última categoria da amostra, metade atribui uma média superior a 7,0 para a cidade e outra grande parcela, média entre 6,0 e 6,9. Isso dá-nos uma indicação da tendência que as pessoas com melhores rendas, mesmo com olhares mais críticos para determinados aspectos, têm um grau de satisfação maior do que as pessoas de classe econômica inferior.

Considerações Finais

Neste momento, se faz importante resgatar alguns pontos dos resultados do trabalho: (1) Natal é uma cidade que tem sua QV pautada basicamente em cima de suas boas condições climáticas, ou seja, em cima da sua QAU, mas deve-se destinar atenção a mesma, para que a degradação contínua e a poluição não atinjam índices alarmantes; (2) As questões sociais foram carregadas de opiniões pessimistas, mostrando as feições problemáticas que vêm surgindo com o crescimento da cidade; (3) Os elementos urbanos não têm correspondido aos anseios da população; (4) As diversas faixas de renda percebem o espaço de forma um pouco diferente, para a população mais carente apenas os itens sócio-econômicos são importantes e à medida em que a renda eleva-se outras questões entram em jogo, como a QAU; (5) Os atributos das três categorias têm suas interfaces e mesclam-se um pouco em si, onde muitos atributos do meio sócio-econômico-cultural influenciam diretamente as condições do meio físico e urbano e vice-versa; (6) Muitos não sabem reconhecer o que seja QV para si ou como os atributos da cidade interferem na mesma, ou seja, há ainda dificuldade, principalmente entre os de menor formação escolar e menor renda, em perceber a cidade e como ela funciona; (7) Os fatores ligados a condição econômica, interferem mais diretamente na vida pessoal de todos, apresentando-se Natal com um alto índice de insatisfação neste campo, bem como uma forte segregação social diante da má distribuição econômica, quadro visto em todo o país.

A pesquisa sobre QV em Natal, dessa maneira, está possibilitando mostrar que a cidade se vale excessivamente das suas boas condições climáticas, o que gera uma boa QAU, para imprimir um aspecto de cidade “limpa e bonita”, “um ótimo lugar para se viver”, escondendo o seu lado parcialmente oculto e envolto por belezas naturais que os mascaram. É assim, uma cidade muito bonita, mas que apresenta sérios problemas sociais e econômicos, sentidos pelos próprios moradores e refletidos em sua percepção da cidade.

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