Recuperação do Centro Histórico de Santana de Parnaíba
Da disposição geográfica e origem da cidade à situação atual
O núcleo original de Santana de Parnaíba, tombado pelo Patrimônio Histórico, ocupa uma encosta à margem esquerda do rio Tietê. Fundado no século XVI, representa a memória construída do ciclo das Bandeiras, que utilizavam o rio como via de penetração no território, tendo Parnaíba como ponto de partida. Parnaíba apresenta uma importância histórica, um conjunto arquitetônico, uma tradição em festas religiosas e uma proximidade com o rio que conformam um potencial turístico a ser conhecido.
Parnaíba aparece como um evento no rio, o último do alto Tietê, o primeiro que se lança para o interior, cheia de significados históricos e intenções de projeto. Funil da bacia hidrográfica, reflete em suas águas a passagem do rio pela metrópole de 20 milhões de pessoas. O trabalho de recuperação ambiental do rio é complexo na escala da metrópole, e baseia-se no conceito do gerenciamento da bacia como um todo. Esta recuperação torna-se cada vez mais urgente e próxima, por simples questão de convivência com o rio. Para um controle necessário e permanente das águas, Parnaíba oferece uma posição estratégica.
Característica marcante da cidade histórica é o relevo na qual está implantada. O núcleo apresenta um isolamento natural propiciado pelo rio, pela estrada (recente) e a própria encosta, com um contorno razoavelmente definido e de difícil expansão. Os vetores de crescimento da cidade distanciaram-se deste núcleo devido às restrições de sua situação geográfica. Portanto, os espaços a ele circundantes (a margem do rio Tietê e o morro do Cruzeiro) ainda podem ser revertidos para incremento e benefício do centro histórico e do município como um todo.
Por ocupar a encosta, a cidade histórica dialoga diretamente com os morros circundantes. Uma ocupação inapropriada destes morros seria prejudicial à ambientação do núcleo, uma vez que este abre-se a todo instante em visuais para os morros. Por este motivo, a recuperação das matas e a definição de uma ocupação que não descaracterize a paisagem constituem prerrogativas fundamentais para a manutenção ambiental e da qualidade do centro histórico de Santana de Parnaíba.
De maneira equivalente, o desenho da franja da cidade, por ser a primeira impressão de quem chega ou está de passagem, não deve se configurar como uma ocupação de beira de estrada, podendo tornar-se um apoio ao núcleo tombado e recepção para quem chega, além de fornecer simbolicamente indicações do patrimônio que se esconde atrás.
Situação projetada
O Contorno da Cidade
O projeto proposto considera a intervenção na cidade como forma de construir para atribuir novos significados a Parnaíba, ao mesmo tempo em que reafirma uma postura preservacionista dentro dos limites da cidade antiga. Considera a recuperação ambiental que envolve o rio e as matas como indicador fundamental para a manutenção da qualidade de vida da cidade e do próprio espaço construído. Tem ainda por objetivo atender à cidade que se formou a sua volta, que carrega contradições sociais e espaciais, incrementando serviços e infraestrutura para atender à população e sua realidade emergente.
O desenho da franja da cidade, por ser a primeira impressão de quem chega ou está de passagem, não deve se configurar como uma ocupação de beira de estrada, podendo tornar-se um apoio ao núcleo tombado e recepção para quem chega, além de fornecer simbolicamente indicações do patrimônio que se esconde atrás. O caráter proposto para esta ocupação é um parque, que menos isola do que integra e preserva o núcleo urbano, ao conter serviços, acessos, acolher o visitante e comportar espaços de acumulação de veículos e pessoas. Este limite da cidade é conformado como uma muralha simbólica, com uma linha iluminada e um percurso que contorna o sítio, passando por uma Praça Seca e uma Praça de Água. Cinco cubos dispostos ao longo deste limite fazem o papel de torreões, marcam a intervenção e abrigam usos diversos. Construídos com estrutura em aço, possuem fechamentos variados.
Núcleo Histórico: o Conjunto Arquitetônico
O isolamento, a estagnação econômica e a manutenção do uso residencial no centro histórico foram em parte responsáveis por sua conservação ao longo do tempo. Neste sentido, uma tendência natural para mudança de uso e aproveitamento do potencial turístico com desenvolvimento da região deve vir acompanhada de um rigoroso controle do desenho da cidade, para que este desenvolvimento sustente a manutenção do bem tombado, em vez de promover sua deterioração.
O projeto no centro histórico busca a manutenção do uso misto do solo para garantir a dinâmica da cidade. Nota-se uma tendência já estabelecida para usos institucionais, administrativos e culturais. A habitação deve ser mantida, e usos como o comércio e serviços ligados ao turismo (restaurantes, bares, pousadas, souvenires) devem ser incentivados.
O projeto busca intervir o mínimo possível nas edificações. Reformas e construções novas devem seguir as normas estabelecidas pelo CONDEPHAAT.
Núcleo Histórico: Espaços Públicos
A partir de uma leitura da cidade, identificam-se 4 recintos urbanos (praças) que, por serem de uso público, passam a constituir pontos de intervenção direta do projeto, articulados por escadas, muros de pedra, e pelas demais vias do traçado urbano. Três destes recintos estão ligados à Igreja Matriz: a Praça 14 de Novembro, a Praça da Bandeira e o Largo da Matriz. O outro espaço público a ser considerado é o Largo São Bento. São espaços em negativo da cidade, resultado dos edifícios que os circundam. O redesenho destes espaços considera que sua conformação definitiva é dada pelas construções, e que o desenho atual do piso destes recintos resulta de uso rodoviarista e é prejudicial à sua apreensão.
O plano inclinado característico da cidade está presente nestes recintos, com exceção da Praça 14 de Novembro, que aparece como um grande aterro e um muro de arrimo. O projeto para estes espaços acentua o plano inclinado e o regulariza em sua inclinação, propondo sempre a manutenção do vazio e salientando sua importância enquanto recinto. Os planos inclinados construídos nas praças geram acertos de nível a serem feitos com muros de pedra, e seu pavimento será de terra batida rigidamente compactada, resquício do pavimento original. O uso junto a estes largos e praças deve ser estimulado a atender o turismo, como o uso gastronômico e cultural. As calçadas serão padronizadas com laje de pedra e as ruas terão o paralelepípedo recuperado.
O Morro do Cruzeiro
O Morro do Cruzeiro, por sua importância paisagística já mencionada, deverá ter sua vegetação preservada e recomposta, e deve ser transformado em parque para frear a ocupação em curso. O novo parque público oferece visuais para a encosta histórica e para o rio, e poderá ser futuramente desenhado de forma a conter equipamentos para a cidade. É recomendável que ele incorpore possíveis áreas adjacentes como maneira de garantir a qualidade de sua ocupação. Deverá também conectar-se com o centro esportivo da prefeitura, que ocupa o topo do morro já devastado, deverá ser incrementado com ginásio, vestiários, piscinas, e torna-se um espaço para aglomeração em dias festivos.