O problema
Além do atendimento aos aspectos primordiais e obrigatórios de qualquer situação arquitetonica -- programa, lugar e construção -- no caso da futura sede do PMDB/RS o problema projetual também consistia em conferir um caráter institucional/ monumental a um edifício situado em entorno não consolidado. Este propósito não é em nada facilitado pelo fato de que as dimensões do terreno (19.5m de frente por 155m de fundos) não favorecem a visibilidade do edifício na sua totalidade.
Um aspecto fundamental do problema é o fato de que, como a sede do PMDB/RS não ocupará mais de 1/3 da capacidade construtiva do terreno, é absolutamente fundamental considerar a construção futura de pelo menos mais 3.000 m2.
Objetivos
1. Do ponto de vista formal, criar um objeto que possa se impor à desordem do entorno e afirmar o seu caráter institucional;
2. Propor um modo de ocupação do terreno que resolva, ao mesmo tempo e de modo integrado, a sede do PMDB e as inevitáveis construções futuras, sejam elas vinculadas ao PMDB ou não.
3. Estabelecer a possibilidade de uma relação com os usuários que reafirme os princípios democráticos que regem o PMDB, franqueando o terreno o mais possível às pessoas que habitam e/ou trabalham no bairro;
4. Em termos construtivos, trabalhar com tecnologias de ponta que, contribuindo para definir o caráter do edificio como sede de instituição que representa o avanço tecnológico, propiciem, por um lado, conforto ambiental e economia de energia, e por outro, uma construção rápida, limpa, sem desperdícios.
Estrutura formal e espacial
A concepção inicia por duas decisões conjuntas:
1. Apropriação do terreno por meio da sua divisão em faixas de 7,5m, módulo compatível tanto com as dimensões do estacionamento como com as dos espaços de trabalho;
2. Estabelecimento de uma estrutura formal baseada na alternância blocos construídos e pátios, tendo os blocos a altura máxima permitida (18m) para construções que vão de divisa a divisa.
A necessidade de contar com um espaço aberto para manifestações públicas determinou o recuo de 22.5m do conjunto em relação à rua Voluntários da Pátria.
Considerando que a construção dos blocos sobre o solo dificultaria o acesso ao fundo do terreno, optou-se pela elevação de todos os blocos, minimizando o seu contato com o solo, o que cria uma grande permeabilidade e permite o acesso desimpedido ao fundo do terreno, possibilitando ainda a utilização do terreno como jardim de uso público controlado. Assim o PMDB poderá estabelecer um novo nível de relacionamento com a população, disponibilizando um espaço aberto qualificado para a população em uma área carente de praças e parques.
A união do conceito de ocupação do terreno com o programa real resultou em um edifício “poroso”, composto por dois blocos com profundidade de um módulo (7.5 m) e um terceiro composto por quatro módulos (30m). O anexo seria um edifício análogo, afastado dois módulos (15m) da sede do PMDB, e composto por três blocos de 7.5m, três pátios e um último que ocupa o fundo do terreno.
Os blocos transversais serão ocupados pelas atividades principais que constam do programa, maximizando a superfície de fachada para iluminação e ventilação naturais, e garantindo um máximo de privacidade em relação à futuros vizinhos. Os núcleos de acesso e circulação estão dispostos no sentido longitudinal do terreno, junto às divisas, conectando os blocos principais.
Algumas decisões formais dão especificidade à sucessão genérica de blocos e pátios:
1. O primeiro bloco está elevado dois pés-direitos em relação ao solo (os demais apenas um), o que abre as visuais para o terreno e causa a expansão do espaço do largo (espaço aberto para manifestações públicas);
2. O bloco longitudinal de acesso e serviços avança por baixo do primeiro bloco em direção à rua, possibilitando a criação, sobre ele, do parlatório;
3. A previsão de um bloco longitudinal de acesso e serviços para o edifício anexo junto à divisa nordeste, no lado oposto ao do PMDB, tornará legível a sua entrada e cria um plano intermediário de percepção, minimizando a sensação de profundidade extrema causada pelas dimensões do terreno.
O partido adotado determina uma mínima ocupação do nível do solo pelas edificações: apenas os espaços de acesso e uso público estão aí situados. O edifício do PMDB ocupará apenas 17% do terreno, enquanto o futuro anexo ocupará outros 14%, ficando, na pior das hipóteses, 69% da área térrea destinada a espaço aberto de uso público.
Distribuição do programa
A organização espacial levou em conta a possibilidade de uso independente dos espaços mais públicos como o cybercafé, o restaurante e o auditório, aos quais se tem acesso desde o saguão no térreo, diretamente, no caso do café, ou pela escadaria situada oa lado da recepção.
Não há interferência dessas atividades com a rotina do edifício, cujos integrantes poderão ter acesso direto ao restaurante e ao auditório sem necessitar descer ao saguão.
Deficientes físicos poderão utilizar os elevadores para chegar ao restaurante e ao auditório.
Subsolo: estacionamento, reservatório inferior, sub-estação.
Térreo: acesso principal, saguão, memorial do PMDB, loja e cybercafé.
Segundo pavimento: Fundação Ulysses Guimarães, segurança, restaurante, ar condicionado (fan coils do restaurante, saguão e memorial).
Terceiro pavimento: PMDB-RS, parlatório, ass. Vereadores, ass. Prefeitos, auditório.
Quarto pavimento: PMDB-Porto Alegre, PMDB Jovem, PMDB Mulher, subdiretórios, som/ projeções, ar condicionado (fan coils do auditório).
Quinto pavimento: setor administrativo, central de água gelada (chiller).
Cobertura: reservatório superior, condensadores.
Estrutura resistente
Estrutura principal:
Pilares de concreto armado (60x60cm), situados nas divisas, sustentantam vigas transversais de 60x200cm que cobrem a largura do terreno, às quais se fixam tirantes metálicos de secção 10x10cm, que suspendem as lajes de piso. No caso específico do auditório existe uma linha longitudinal de tirantes coincidente com a parede lateral interna do mesmo. Entre as vigas maiores existem três vigas de 40x100cm.
Unindo os pilares há paredes de concreto armado de 30cm, que servem de fechamento e contraventamento. Essas paredes serão construídas pelo sistema de formas deslizantes. Internamente, o espaço entre os pilares é fechado com painéis de concreto prémoldado, criando shafts para a passagem de tubulações.
Lajes:
Planas com 20cm de espessura.
Vedações e proteção solar
As fachadas foram resolvidas a partir da intenção de obter visibilidade ao mesmo tempo que se possibilita uma ventilação adequada e um controle eficiente das radiações solares.
A ventilação natural, considerando o efeito chaminé e a ventilação cruzada, está proposta pela utilização de partes articuladas pivotantes, horizontal e vertical, nas esquadrias que complementam o sistema com pequenas faixas venezianadas (acima e abaixo nas esquadrias). Somando a condição de renovação do ar e a possibilidade de direcionamento do fluxo, dentro dos ambientes, há um dispositivo para exaustão do ar sob o piso e acima do forro. Tal dispositivo permite a retirada, à noite quando a temperatura externa está mais baixa, daquele ar quente acumulado durante o dia nos ambientes. Sendo o dispositivo controlável, no inverno basta fechá-lo para que o ar interno permaneça aquecido pelo acúmulo da radiação diurna. Com esta estratégia espera-se a redução do uso do ar condicionado mecânico, para os dias em que as temperaturas estiverem fora de uma faixa aceitável para o conforto higrotérmico, muito quente ou muito frio. Dessa forma é também esperado uma redução nos custos energéticos para condicionamento do ar.
Todas fachadas paralelas à rua são resolvidas com o mesmo tipo de esquadria de alumínio. Na fachada mais externa, a mais exposta ao sol de noroeste, propõe-se uma fachada dupla, formando uma câmara com persianas comuns no seu interior. A esquadria interior, somente utilizada nessa fachada, permite acesso ao interior da cãmara para limpeza da esquadria exterior e controle das persianas.
Nos demais blocos, mesmo quando orientados a noroeste, é proposto o uso de uma esquadria sem câmara, pois os blocos interiores são sombreados pelo próprio edifício.
A fachada traseira, pela natureza dos espaços contiguos a ela, não necessita de janelas, por isso é revestida com chapas de aço plano, que são furadas em frente às casas de máquinas do ar condicionado e à escada de emergência.
Serviços
1. Ar condicionado
Auditório, restaurante, cybercafé, Memorial PMDB: sistema de geração centralizada por água gelada e condicionamento terminal tipo “fan coils” zoneados por setor específico de uso, com sistema de distribuição por dutos de baixa velocidade e dispositivos de difusão, captação e atenuação de ruidos projetado para auditórios;
Áreas de trabalho e reunião: aparelhos tipo split com os condensadores colocados na cobertura e evaporadores sob o forro, conectados por dutos que descem por shafts existentes nas divisas. Desse modo pode-se setorizar o condicionamento até o nível de cada sala ter o seu próprio aparelho.
2. Elevadores
Dois elevadores hidráulicos, com capacidade para oito pessoas e velocidade de 120m/min.
3. Reservatórios
água para consumo e para combate à incêndio, no subsolo e na cobertura.
4. Sub-estação e gerador
Localizados sob o largo, com acesso direto ao exterior pela rampa que leva à garagem.
5. Proteção contra incêndio
Sprinklers em todos os pavimentos e extintores em nichos ao lado dos elevadores.
6. Estacionamentos
Estão previstas 21 vagas no subsolo, uma a mais do que o programa solicita. No entanto, mantendo o desenho atual a garagem poderia ser ampliada para 51 vagas ou, com outra disposição, se poderia atingir 89 vagas, com ou sem anexo. É importante manter a garagem no subsolo para que seja possível tratar o térreo como jardim público.
Especificações
1. Pisos: piso elevado industrial com carpete nos escritórios; marfim no saguão de entrada, Memorial, cybercafé; granito nos halls de elevadores em cada pavimento; cerâmica nos sanitários e vestiários; carpete no auditório; granito serrado no jardim.
2. Forros: chapas de alumínio perfuradas.
3. Paredes internas dos escritórios: divisórias leves com parte superior de vidro fixo.
4. Paredes internas das áreas de serviço: gesso cartonado.
5. Iluminação: nas salas de trabalho será utilizada iluminação fluorescente com difusores.
6. Revestimentos especiais: as paredes do bloco dos elevadores, em todos os pavimentos, assim como as paredes internas e tetos do auditório serão revestidas em painéis de madeira, possívelmente mogno ou marfim.
Orçamento estimativo
Instalações provisórias: R$ 183.400,00
Infra-estrutura: R$ 52.400,00
Supra-estrutura: R$ 248.900,00
Paredes, esquadrias, vidros: R$ 209.600,00
Cobertura e impermeabilização: R$65.500,00
Revestimentos, forros e pinturas: R$ 183.400,00
Pavimentações: R$ 78.600,00
Instalações, aparelhos, ar condicionado, elevadores: R$ 275.100,00
Complementação da obra: R$ 13.100,00
Total: R$ 1.310.000,00 (Um milhão, trezentos e dez mil reais)
ficha técnica
Arq. Edson da Cunha Mahfuz (coordenador).
Acadêmicos Nicolás Palermo e Roberto Nehme (estagiários).
Arquitetos Heitor da Costa Silva (conforto ambiental) e Elisabeth "Kucha" Saatkamp (paisagismo).
Engenheiros
Júlio Curtis Filho e Paulo Roberto Marcondes Carvalho
