Menção Honrosa 2
Arq. Micael Eckert e equipe Espaço Sideral (RS).
Equipe: Arquitetos André Jost Mafra, Nathalia Cantergiani Fagundes de Oliveira, Cristiano Kunze e os acadêmicos de Arquitetura Ana Cláudia Vettoretti, Patrícia Carraro e Rafael Fornari Carneiro. Arquiteta convidada: Andréa Soler Machado (drª e profª na Arquitetura da Ufrgs).
Espaço Sideral -Arquitetura Atômica
O Trem da história é a metáfora de origem deste projeto, ponto de partida para uma interpretação do sítio e do programa em seus aspectos formais e simbólicos, entre os quais está a trajetória percorrida pelo PMDB ao longo da história política brasileira: “a história do PMDB é a história do Brasil que continuou pulsando a partir de 1964.
Se manteve em movimento, com contradições, abrigou vários tipos de ideologias e tendências políticas, instigou, gestou outros partidos, mas se manteve no centro das discussões durante, na queda e após o regime militar. Hoje, para contar um pouco da história do PMDB é preciso não só falar da história do Brasil, mas de praticamente todos os partidos, à sua esquerda, ou à sua direita. Oficialmente o PMDB, que nasceu MDB, teve sua fundação em 24 de março de 1966 com o registro na Justiça Eleitoral. Era um dos resultados da extinção dos partidos imposta pelo AI-2 e a instalação do bipartidarismo logo em seguida.”
Projeto
A configuração alongada do terreno de 19 metros de frente por 170 de fundos inserido entre um casarão antigo e edifícios baixos, na zona norte e industrial de Porto Alegre sugere uma ocupação mais esparramada das diversas partes do programa sobre o mesmo.
A sua vocação institucional e pública contrasta com a estreita largura do terreno e com a sua localização na movimentada Voluntários da Patria, apontando para a criação de um sistema de movimentos que privilegie uma apropriação mais horizontal que vertical. A possibilidade de distribuição dos elementos repetitivos do programa de forma modulável encaixa-se com esquemas formais lineares e com a possibilidade de otimização da estrutura.
O movimento é a característica humana mais fascinante, capaz de paralisar os preguiçosos e estimular os mais ousados. A velocidade e a forma dos meios de transporte inventados pela modernidade provocam paixão e espanto, abrem novos caminhos para a vida e também para a morte.
Trens, navios, automóveis e aviões adquirem status de forma, na linguagem e na arquitetura. Le Corbusier buscou algumas de suas referências no transatlântico; Niemeyer tem medo de avião, mas não do edifício que quer voar. Milhares de caixas autônomas correspondentes aos edifícios que caracterizam a cidade moderna brasileira soltam-se do solo, mas procuram novas conexões com seus empobrecidos contextos.
Novas possibilidades estruturais, no aço e no concreto, permitem o vão livre e o vôo solto dos pássaros modernos. A figura do trem alinha-se com o bando em busca de novos rumos que apontem para a construção de um futuro a partir da valorização da história. Se a locomotiva é a força motora, os vagões são o verdadeiro sentido de sua viagem.
Volumetricamente, o trem corresponde a uma grande barra de 75 metros de profundidade por 7,5 metros de largura estacionada sob o auditório que aloja a maior parte das áreas de uso público e desprende-se do solo, abrindo espaço para a grande rampa de acesso, cujo ponto focal é a entrada edifício corada pelo parlatório, no centro do terreno.
Além de permitir a acessibilidade universal e monumentalizado à esplanada onde localizam-se as áreas públicas, elevadas a dois metros e meio do nível da rua, a grande rampa é um espaço cívico que convoca o público na parte dianteira do lote e compõe uma fachada frontal que é metade um negativo de uma cunha, em sombra, metade fachada cortina, transparente e urbana, visualmente integrada à cidade.
Esplanada e rampa recriam o solo dando origem ao pavimento térreo, estruturalmente cobertura das áreas administrativas e de estacionamentos; urbanisticamente uma rua de pedestres, espaço arquitetônico aberto linear de uso público delimitado por edificações distintas. A sua localização no lado norte do terreno desloca o trem para o lado sul, onde se apóia e encobre o acesso aos estacionamentos. Bancos, luminárias e alguma vegetação ao longo da mesma geram mudanças de rítmo e surpresas; perfurações estratégicamente localizadas configuram pátios arborizados de iluminação e ventilação.
A metáfora da estação de trem formaliza-se na concepção da estrutura porticada da caixa quadrangular do auditório, na qual a caixa metálica correspondente ao edifício-barra se dependura, até que se solte sobre uma seqüência de pilares de concreto dispostos de acordo com modulações diversas.
O contraste entre a leveza do trem e o peso da estação é atenuado por um envoltório translúcido, uma espécie de pele que se desprega da superfície opaca da segunda para abrigar as lâmpadas que o transformam em luminária noturna, simbolicamente, a tocha do partido.
Um terraço-jardim disposto sobre a cobertura do trem amplia o espaço do foyer do auditório, permitindo a recomposição do percurso inicial e de vistas sobre o rio.