Santa Tereza, situada à margem do Rio Taquari, é um núcleo de imigração italiana, distante 30 Km de Bento Gonçalves, na Serra Gaúcha. É considerada de grande importância cultural pela preservação de seu patrimônio histórico e ambiental, onde predominam exemplares do ecletismo constituídos por casarões de alvenaria e madeira, típicos da arquitetura da imigração italiana.
O Concurso objetivava selecionar a melhor proposta para o desenvolvimento do Projeto Executivo no âmbito da Arquitetura da Paisagem para a área urbana da Cidade de Santa Tereza, RS. Tem como finalidade valorizar o seu patrimônio cultural e ambiental incluindo a área central e os locais indicados no Objeto deste certame, com o redesenho de espaços, a localização de equipamentos e mobiliário urbano e a implantação de sistema de comunicação visual.
O Objeto do concurso é composto pelos seguintes itens:
- Marco Referencial de acesso à Cidade;
- Tratamento de espaços e percursos indicados;
- Sinalização turístico-interpretativa;
- Anteprojeto para a Praça Central;
- Anteprojeto para o Parque Municipal;
- Propostas para o uso e tratamento da Orla do Rio Taquari, incluindo a área do Camping Municipal.
Conceitos do projeto
A diretriz inicial que norteou o desenvolvimento do projeto foi identificar o Campanário de Santa Tereza, construído entre 1888 e 1902, como o ponto focal da intervenção urbanística.
O Campanário foi nosso guia, nosso “centro” magnético de convergência conceitual e de projeto.
O segundo aspecto considerado foi o entorno urbanístico. A cidade conseguiu, como poucas, manter seu traçado original, preservar suas edificações e, acima de tudo, respeitar o seu centro histórico no seu desenvolvimento atual, mantendo sua morfologia urbana. O traçado de vias, os loteamentos, os prédios tombados: todos apresentam uma clareza geométrica e uma racionalidade surpreendentes para uma cidade que surgiu em uma geografia tão acidentada, cercada por morros, rios e arroios. Considerando isso, a nossa intervenção seguiu seu raciocínio geométrico, e tendo como guia a base do campanário, criamos um módulo de 6,00 x 6,00 metros, organizador de toda a intervenção.
Jogando com essas duas diretrizes, fomos criando, acrescendo e retirando volumes e caminhos novos. Criamos uma metodologia de desenvolvimento somente possível com programas específicos de ambientação computacional, tendo o projeto desde o seu início uma concepção tridimensional. Fizemos experimentos, adaptando as nossas diretrizes e conferindo eixos de visualização, de direcionamento de percursos, de criação mantendo a topografia e vegetação existente, enfatizando sempre as edificações históricas mais significativas.
Havia também pré-existências na praça que deveriam ter um tratamento para entrar em harmonia com o restante do projeto: usamos o artifício de “máscaras” em madeira que simplificaram a volumetria da caixa d’água e da igreja moderna construída sobre o antigo templo e que agredia formalmente a cidade – ao mesmo tempo, essas máscaras permitem a visualização interna dessas pré-existências.
A proposta final prima pelo horizontalismo e pela sutileza dos elementos novos. É uma proposta inteiramente nova, criada com foco nas diretrizes gerais e específicas, exeqüível com materiais e mão-de-obra locais. A proposta assume a racionalidade do ser humano sobre a natureza, mas com respeito ao seu patrimônio ecológico e histórico. O projeto é, acima de tudo, uma intervenção de atitudes e linguagem contemporâneas.
Praça Maximiliano Cremonese
O projeto aproveita o desnível do terreno para configurar espaços com patamares e platôs em que as pessoas tenham uma interação tridimensional com seu entorno, possibilitando sua percepção em diferentes angulações. Pode-se ter, como exemplo, contatos visuais com diferentes pessoas e acontecimentos estando 75 centímetros a 5 metros e quarenta centímetros acima dos mesmos.
Por outro lado, a preocupação em tornar a praça mais permeável e acessível foi constante. Para isso, propusemos diversas formas de vencer os desníveis da praça: em rampa, em escada, pelo passarela e escada, em platôs modulados, e na rampa-escada.
O uso de escadas e platôs é uma constância no modo como as edificações históricas de Santa Tereza foram construídas.
Numa profunda intenção de respeito ao patrimônio histórico, aliado à busca de coerência com o entorno urbanístico existente, o projeto desenvolveu-se numa neutralidade visual. Porém, está evidente a composição e linguagem contemporânea, onde eixos, projeções e subtrações criam espaços inusitados. Uma praça em que os gestos são sutis e as intenções são claras, numa arquitetura racional, responsável, e ao mesmo tempo emotiva.
A passarela de concreto possibilita a visibilidade da área multi-uso; a conformação da escada; a proteção da arquibancada, e é também um forte elemento emoldurador espacial.
O platô curvo é a única referência à geometria da Igreja Matriz, na busca de uma melhor relação da mesma com seu entorno.
Programa da Praça
01. Espaço aberto multifuncional02. Passarela com escada03. Sanitários públicos (no nível 80,00m)04. Viveiro Municipal05. Caixa d’água existente (revestimento com “máscara” em madeira)06. Igreja Matriz existente (revestimento com “máscara” em madeira)07. Campanário existente (receberá iluminação cênica)08. Espelho d’água09. Arborização paisagística: deverá permanecer a maior quantidade de árvores existentes possíveis10. Recreação infantil11. Rampa para deficientes12. Escada13. Rampa-escada14. Mirante em alvenaria
Parque Municipal – Norte / Camping / Parque Municipal – Sul
Criamos uma contraposição espacial entre os eixos-mirantes (voltados ao campanário) e a malha modular 6m x 6m. Um reflexo da situação enfrentada (novo x antigo). Seguimos o conceito da convivência e respeito entre nossa proposta e a cidade existente.
Dessa dialética resultou a segmentação da malha modular pela eixo horizontal, e o parque foi espalhando-se entre a topografia e vegetações existentes. O resultado final prima pelo horizontalismo, pelos eixos ordenadores e por um racionalismo assumido.
Na busca pela simplicidade gestual, muitas vezes "enterrando" platôs e retirando excessos de composição que poriam em risco algum tipo de competição com a cidade existente. Por vezes, entramos com elementos de uma arquitetura que causa emoção e gera surpresas.Claro que, tudo isso com a intenção final de somar, de acrescer qualidade ao ambiente urbano.
O terreno triangular do Parque Municipal, já no modo como ele se conforma, nos direciona o olhar para esse poderoso elemento da natureza: o rio Taquari.
O parque desenvolve-se em diferentes situações:
- ao longo da rua Césare Appiane, criando uma nova opção de passeio (trajeto rápido);
- tira partido dos desníveis e se espalha sobre o terreno (questão econômica também), onde a escadaria que leva
- ao platô principal serve de arquibancada para apreciarmos a natureza ou algum evento de pequeno porte no local;
- o eixo-mirante direcionando os olhares ao campanário.
Programa do Parque Municipal – Norte
01. Eixo-mirante em concreto armado e pedra basáltica lascada02. Platô em nível mais baixo / ponto de encontro03. Escada04. Escada05. Rampa-escada06. Passarela em madeira autoclavada ligando os dois Parques Municipais e aproximando as pessoas do rio07. Módulos 6m x 6m em concreto e piso em pedra de basalto
Programa do Camping
08. Deck baixo em madeira09. Platô alto em concreto armado10. Restaurante / lancheria11. Administração12. Banheiros13. Área demarcada para as barracas14. Área pavimentada com churrasqueiras15. Estacionamento16. Escada nova em concreto17. Muro de contenção em concreto -existente
Programa do Parque Municipal – Sul
18. Passarela em madeira autoclavada19. Eixo_mirante em concreto e pedra basáltica lascada20. Escada21. Módulos de 6m x 6m em concreto e piso em pedra basáltica22. Pergolados em madeira autoclavada23. Paisagismo da servidão existente para maior permeabilidade de pessoas na praça
O imponente eixo horizontal e todas suas funções: eixo direcionador do olhar ao campanário; passarela sobre platô inferior; mirante para o rio; conformação da escada; conformação do abrigo de transição entre eixo e a passarela de conexão em madeira.
ficha técnica
Responsável pelo projeto
Grandó Arquitetura
Autor
Arquiteto Gabriel Cruz Grandó
Colaborador
Acadêmico Marcos Laurino (da UNIRITTER)
Consultoria sobre patrimônio histórico
Professora e antropóloga Tânia Rossari
Professora e arquiteta Lúcia Gea
Consultoria em orçamentos
Acadêmico de arquitetura e engenharia civil Nelso Kunrath