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PORTAL VITRUVIUS. Shopping Center na Unisinos. Projetos, São Paulo, ano 05, n. 054.01, Vitruvius, jun. 2005 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/projetos/05.054/2488>.


O projeto para conversão do Centro Administrativo da Unisinos em Shopping Center se fundamenta nas seguintes premissas:

1 – a exploração das pré-existências como fatos geradores do projeto, de modo a reforçar percursos, eixos e ordenações espaciais, visuais mais interessantes e em especial a relação entre construção e vazio definida pela edificação circular e seu pátio interno ajardinado, de modo a ampliar a integração física e visual com o ambiente natural do campus, como recomenda o Regulamento no ítem 2.2.1.

2 – a diferenciação clara entre as novas intervenções e os elementos pré-existentes de modo a preservar suas qualidades, demarcar com clareza os diversos tempos de cada parte e reduzir conflitos construtivos e estruturais.

3 – a valorização do pátio interno como principal elemento articulador do conjunto. Para isso, promoveu-se uma variação significativa na sua topografia, conciliando a geração de espaços para as atividades demandadas para o programa com a preservação integral do amplo espaço verde de uso público, reforçando seu caráter cultural e de lazer pela localização privilegiada, no grande espaço central, dos cinemas, restaurantes, praça de alimentação e praça arborizada com suportes para eventos ao ar livre e apresentações, a reforçar a abertura e integração entre espaço interior e pátio ajardinado.

4 – a distribuição equilibrada de pontos atratores de público – âncoras – e de lojas satélites nos percursos resultantes, tendo em vista a importância dos vários edifícios de ensino da Universidade e da Biblioteca – localizados em quadrantes opostos em relação ao Shopping – como âncoras.

5 – a aplicação de soluções construtivas ecologicamente corretas, tanto na sua lógica construtiva como na manutenção e no seu respectivo custo energético, de modo a ampliar a inércia térmica da edificação, reduzir a aplicação do condicionamento de ar, propiciar maior interação com o clima e a natureza.

6 – a proposição de sistemas de reciclagem, tratamento e reutilização de resíduos e recursos naturais, em especial a água, tanto proveniente de chuva quanto das águas servidas, e os resíduos sólidos, de modo a estabelecer padrões exemplares, de baixo impacto ambiental e ecologicamente corretos que venham a se tornar paradigmas para a Universidade e para a Sociedade, através de uma exploração de seu caráter didático e transformador, “oportunizando a geração e a transferência de conhecimentos e tecnologias para a comunidade, servindo de exemplo e liderança neste campo e alinhando-se com a tendência mundial do uso racional dos recursos naturais e da valorização da vida como bem inalienável”, em consonância com as determinações ambientais já vigentes na Instituição e recomendadas no Regulamento no item 2.3.

As pré-existências e a estruturação do lugar

As pré-existências notáveis se tornaram fatos geradores do projeto nas seguintes situações:

  • o eixo de ordenação norte-sul que configurará o acesso principal de pedestres desde a Avenida Unisinos determina um longo percurso que se buscou enfatizar tanto pelo tratamento das áreas externas e arborização, como na abertura de dois módulos nas lajes do edifício existente de modo a permitir integração física e visual nos nós de interseção entre o eixo e a edificação existente. Nestes pontos se localizam circulações verticais com escadas rolantes que conectam os três pavimentos. Este eixo demarca ainda a linha de inflexão das declividades do pátio interno, convergindo em uma bacia cuja cota mínima é coincidente com o percurso de entrada, permitindo cruzar o pátio em nível. Por coincidir com a variação existente do nível do pátio, demarca ainda a localização da galeria técnica no pavimento inferior que concentra e interliga os dois espaços de docas para a carga e descarga de todo o Shopping Center.
  • o eixo leste-oeste, que ordena o edifício da biblioteca e configura seu eixo de simetria, funciona como ordenador do espaço de integração entre o Shopping Center e o Centro do Conhecimento, bem como dos cinemas e das lojas satélites do primeiro pavimento. A modulação construtiva de todo o núcleo central proposto responde à malha definida pelos dois eixos citados, com origem no centro da circunferência do edifício existente, de modo a estabelecer uma relação entre a nova intervenção e as edificações existentes.
  • os dois percursos diagonais a leste que promovem uma interligação direta entre os espaços de ensino da Universidade e o atual Centro Administrativo têm sua função reforçada pela definição de dois halls generosos nos respectivos acessos, com escadas localizadas em vazios que favorecem o acesso e a integração visual com o terceiro pavimento, dando acesso às áreas administrativas da Universidade e aos serviços da Linha de Saúde, e pela localização da Alameda de Serviços entre eles. Com isso, reforça-se a integração física e visual entre a Alameda e a Universidade, facilitando seu acesso e permitindo seu funcionamento aberto e integrado à área verde adjacente, como recomenda o regulamento.
  • o ambiente natural existente no campus e as extensas e bem cuidadas áreas gramadas que o caracterizam orientaram a definição plástica e construtiva de todas as novas áreas edificadas, conferindo-lhes a conformação de extensões construídas da topografia natural, com coberturas gramadas que, além de contribuírem para a qualificação ambiental e a conservação de energia, como se descreverá adiante, consideram “a diretriz de sustentabilidade (...) também na integração do conjunto edilício que constituirá o Shopping Center com o ambiente natural existente no campus”, como recomenda o Regulamento no ítem 2.2.1.2.. Esta estratégia amplia ainda, sempre que possível e desejável, as áreas de uso público e reforça a fruição visual das áreas verdes e gramadas ao ocultar os volumes edificados por sob a topografia artificial.
  • o trecho de cota rebaixada existente do pátio central na sua porção oeste permite abrigar o Supermercado e lojas satélites a ele relacionadas. Favorece a concentração da circulação de carrinhos exclusivamente neste piso ao viabilizar o acesso direto da porta da loja a todos os estacionamentos de maior porte, inclusive àquele localizado no subsolo da Biblioteca, através de nova rampa de pedestres proposta.
  • o intervalo existente entre as edificações do Centro Administrativo e da Biblioteca favorece a criação de um amplo átrio ajardinado com iluminação zenital que ambienta a transição entre ambos, promovida por nova passarela de interligação no segundo pavimento, a Ponte do Conhecimento, e reforça a integração do Centro do Conhecimento ao Shopping. Fortalece esta integração a proposta, em nível de IDÉIA, de abertura de um vão central nos três primeiros pavimentos daquele edifício, de modo a unificar visualmente as áreas comerciais, culturais e administrativas do Centro do Conhecimento, além de favorecer o uso dos seus elevadores panorâmicos e de sua escada como alternativas de circulação do Shopping e de interligação rápida entre este e o subsolo que abriga o estacionamento coberto.
  • as duas áreas externas periféricas de cota mais baixa, previstas no programa para localização das docas, têm seu piso ligeiramente rebaixado de modo a configurar patamar adequado para a carga e descarga, com pé-direito livre de 4 metros e cobertas por volume de construção independente que abriga lojas satélites no segundo pavimento.
  • a abertura visual para o lago a nordeste, no segundo pavimento, sugere a configuração de mirante que define espaço de permanência com uma chopperia, alternativa à praça de alimentação.
  • o intervalo existente entre a edificação e os pilares externos permite a instalação de uma galeria técnica em meio nível, de modo a alimentar todas as lojas implantadas no segundo pavimento do edifício existente e ao mesmo tempo permitir a implantação de mall iluminado e ventilado zenitalmente para acesso às lojas localizadas nos novos blocos propostos por sobre as docas.

A consideração das estruturas existentes e as novas intervenções

A partir da leitura da estruturação urbana e arquitetônica do Campus, verifica-se que o grande volume edificado circular do Centro Administrativo, por sua geometria diferenciada em relação aos edifícios de uso predominantemente acadêmico, e por sua maior centralidade e visibilidade, constitui importante referência na construção da imagem da Instituição. A fim de respeitar sua relevância e reforçar seu caráter estruturador como espaço de convergência, procurou-se reforçar a leitura da sua geometria circular. Para isso, todas as intervenções externas ao volume se elevam sob lajes gramadas inclinadas que se dissimulam como topografias artificiais, reforçando, para quem observa à distância, em especial desde a Avenida Unisinos, a leitura da cobertura característica do edifício que evidencia sua conformação singular.

Nos ambientes internos do Shopping Center optou-se por evidenciar a modularidade circular da edificação, tratando os espaços de circulação com o mínimo de ornamentação de modo a ampliar a percepção da estrutura existente. Assim, toda a compartimentação das lojas instaladas no anel busca reforçar sua geometria e modulação e, operando por contraste, as novas instalações projetadas no vazio central adotam modulação ortogonal e se concentram em um volume cuja independência construtiva e formal é explicitada enfaticamente pela conformação de um intervalo entre as varandas existentes e as novas áreas, a permitir maior abertura visual e integração entre o primeiro e o segundo pavimentos. Neste intervalo, a abertura zenital total permite uma interação completa com o clima sem comprometer a habitabilidade e o uso das áreas comerciais em dias de chuva. Para isso, os pisos do primeiro pavimento apresentam jardins secos ligeiramente rebaixados cujas pequenas depressões e elevações já definem o mobiliário imprescindível para o mall complementar à âncora Supermercado, e as satélites deste pavimento têm suas vitrines recuadas em relação à laje do pavimento superior de modo a configurar marquise de proteção nas suas transições de entrada.

A fim de reforçar a unidade entre o Shopping Center e o Centro do Conhecimento, propõem-se duas iniciativas fundamentais: a primeira, já citada, consiste na abertura do vão central das lajes dos dois primeiros pavimentos do vão frontal aos elevadores da atual Biblioteca, a fim de ampliar a integração física e visual entre estes pavimentos e o Shopping, estabelecendo uma transição natural que reforça a complementaridade entre os dois grandes equipamentos e demarca um mall de entrada que articula o acesso desde grande parte dos estacionamentos e do ponto de taxi; a segunda iniciativa consiste na proposição, em nível de IDÉIA, do tratamento das fachadas do Centro do Conhecimento de modo complementar ao Shopping Center, visando à caracterização da unidade arquitetônica de todo o conjunto edilício, e ao mesmo tempo, minimizando os problemas decorrentes da incidência excessiva de radiação solar no corpo do edifício e seu conseqüente dispêndio energético. Para isso, propõe-se a instalação de uma segunda pele de proteção das fachadas, estruturadas em perfis metálicos e tela, em forma de haletas horizontais que conformam suportes para vegetação a ser plantada na base e na cobertura do edifício. Este conjunto verde, além de reforçar a integração visual com o paisagismo que singulariza o campus e com as intervenções propostas para o Centro Administrativo, vem contribuir para a redução do consumo de energia no edifício ao reduzir a carga térmica transmitida por radiação para seu espaço interior decorrente da incidência direta de sol na massa construída e em especial nos panos de vidro. Para conciliar a necessária proteção com a abertura para as visuais que as áreas envidraçadas propiciam, as haletas se estruturam como brises horizontais gigantes, com intervalos que direcionam o olhar para a paisagem imediatamente adjacente.

O pátio interno: natureza e cultura

A preservação do caráter verde do pátio interno foi condição, colocada pelo Regulamento, que orientou a definição da intervenção central proposta. Conciliar as demandas pragmáticas de criação de área construída para abrigar as atividades do Shopping com a imprescindível ambientação natural conferida pelo extenso pátio e seu paisagismo conduziu à solução apresentada, que concentra nesta área as atividades relacionadas ao caráter cultural e de lazer do Shopping Center. Assim, cinemas, restaurantes e praça de alimentação são abrigados por sob parte da praça gramada, e se abrem para a mesma de modo a reforçar as possibilidades de uso do jardim recriado como sua extensão natural, parte sombreada pelas árvores geometricamente dispostas a sul, parte aberta para o sol a permitir a montagem temporária de suportes que viabilizem a realização de eventos de pequeno e médio porte. No gramado, defronte à praça de alimentação, um deck se desdobra em pequena arquibancada a permitir a realização de apresentações, em especial da Orquestra da Unisinos. A declividade suave do gramado permite a livre circulação dos usuários de toda a Universidade, configurando um lugar de intervalo que traz para o centro do Shopping Center a possibilidade do descanso ao ar livre.

Por sobre a praça de alimentação e as lojas, chaminés que equacionam de modo ambientalmente correto as ventilações e exaustões imprescindíveis se alternam com aberturas em forma de terraços que permitem a configuração de áreas abertas ao nível dos mezaninos de restaurantes e lojas. Estes terraços, além de estimular ordenações alternativas para algumas das lojas de alimentação, estabelecem relação mais direta entre os espaços de lazer e o grande pátio ajardinado, estimulando sua fruição e definido suportes variados na forma e na localização que ampliam as possibilidades de uso do gramado acima das lojas, com vista panorâmica e privilegiada do conjunto por sua situação elevada em relação aos percursos e espaços principais do Shopping Center.

 

A variação topográfica proposta, ao mesmo tempo em que recria o espaço público e a paisagem gramada do pátio ajardinado, apresenta um artefato de construção simples e engenhosa, ambientalmente correta, que reforça simbolicamente a relação entre natureza e cultura que caracteriza e diferencia o Shopping Unisinos, reforçando seu ineditismo.

Ancoras e satélites: fluxos e articulações funcionais

A rigorosa distribuição das âncoras visou sobretudo à potencialização dos fluxos naturais que a estrutura urbana do campus apresenta. A polaridade entre o Centro do Conhecimento e as unidades de ensino tem a virtude de reforçar a itinerância através das lojas satélites pelos usuários da Universidade. Assim, a localização das áreas administrativas da Instituição e da Linha de Saúde no terceiro pavimento, e as âncoras Supermercado e Bookstore no 1o pavimento, reforçam a itinerância pelo fato de que o acesso da grande maioria dos alunos se fará pelas entradas a leste no segundo pavimento. Em virtude disso, e para assegurar maior relação com o público usuário do campus, a Alameda de Serviços se situa entre estes dois acessos, conformando um mall aberto para os extensos jardins da área definida pelo Regulamento como “área de tratamento paisagístico”.

Em contrapartida, considerando o público externo à Universidade, tem-se duas situações. A primeira, do público que chega de ônibus pelo Terminal previsto junto à Avenida Unisinos, tem reforçada a itinerância pela localização dos dois nós articuladores das circulações verticais, nos quadrantes norte e sul da circunferência, que, através da abertura de vãos nas lajes, passarão a apresentar grande integração física e visual entre os três pavimentos. Esta chegada alimenta ainda as circulações alternativas que conduzem mais diretamente desde este eixo à Alameda de Serviços e ao Mirante. Além disso, a localização das âncoras Loja de Departamentos e Cinema nos quadrantes leste e oeste cria focos de interesse eqüidistantes para quem chega a pé.

A segunda, do público que chega de automóvel próprio ou taxi, a maior parte dos estacionamentos conduz ao acesso demarcado pelo átrio criado entre o Shopping Center e o Centro do Conhecimento, no primeiro pavimento. Este acesso permite maior autonomia de funcionamento da âncora Supermercado, evitando conflito entre usuários e carrinhos de compra nos malls das lojas satélites, e assegura grande afluxo de público para todas estas lojas neste pavimento uma vez que as circulações verticais principais se localizam nos finais dos percursos destas circulações, promovendo naturalmente o acesso ao segundo pavimento no exato eixo Norte Sul que ordena o acesso desde a avenida, em pontos eqüidistantes das âncoras citadas anteriormente: Cinemas e Centro do Conhecimento de um lado, e Loja de Departamentos e Alameda de Serviços de outro.

As áreas de entretenimento do Shopping Center ocupam a porção central da edificação de modo a permitir total abertura e continuidade entre restaurantes, praça de alimentação e gramado central. A entrada para os cinemas ocorre no mall principal, no eixo de acesso ao Centro do Conhecimento, através de foyer aberto e visualmente integrado ao mall. Passa-se por uma ponte por sobre o intervalo entre a edificação nova e a existente, em que se localizam dois volumes circulares que abrigam bilheteria, bombonière e apoios. Passa-se das roletas de controle e se atinge o hall de acesso às salas, bem como as instalações sanitárias de uso exclusivo. Todo este conjunto ocupa um vazio por sob a platéia das salas, resultando em um teto inclinado que cria abertura visual ascendente em direção à abertura zenital. Como um grande corte no volume central, a extensão inclinada das salas flutua sobre o foyer, dispensando os pilares de apoio pela utilização de tirantes ocultos nas paredes duplas entre as salas, que coincidem com os eixos de modulação da estrutura principal. Esse artifício reforça a abertura e o caráter público deste espaço. As saídas das salas convergem para um único ponto de descarga de público na Praça de Alimentação, estimulando a fluência de público junto às lojas e restaurantes e valorizando a abertura para a praça verde central.

Todos os espaços comerciais de alimentação são servidos por galeria técnica, localizada no nível da sua sobreloja, de modo a evitar o cruzamento de fluxo com a saída dos cinemas e a atender também aos fluxos técnicos para cabines de projeção, escritórios e casas de máquina de ar condicionado de cinemas e supermercado. Esta galeria se conecta por elevador de carga e escadas com a galeria técnica do 1o pavimento, que interliga os dois espaços de docas para carga e descarga, a permitir maior flexibilidade em seu uso. Esta mesma galeria dá acesso, através de rampa, à galeria técnica da loja âncora de departamentos, aproveitando a declividade da cobertura gramada. Concentra ainda todos os apoios técnicos, depósitos e áreas de apoio aos funcionários. Assim, reduz-se significativamente o dispêndio de áreas construídas para as circulações, reduzindo percursos e potencializando as articulações de serviço em uma única galeria subterrânea no eixo principal do edifício.

Ao interligar as áreas de carga e descarga, esta galeria favorece a utilização dos pátios das docas para abrigar equipamentos que demandam contato com o ambiente exterior e que apresentam pouco acesso e manutenção. Central de GLP, depósito de jardinagem e área para cultivo de mudas, substação elétrica, oficinas de manutenção, compactação de lixo, e dispositivos para tratamento de águas servidas para reuso ocupam espaços gerados por sob os taludes de fechamento dos pátios de docas. Esta solução assegura maior fechamento e controle das áreas de carga e descarga, tendo em vista sua caracterização como “área crítica em relação à segurança patrimonial”, e reduz a visibilidade de todas as áreas de apoio, “de forma a evitar conflitos e perturbações com o ambiente educacional”. Ao ter seus fechamentos definidos por elevações aos modos de taludes gramados, sua presença se dissimula na paisagem, integrando-se à ordenação paisagística predominante de todo o campus, de modo a atender à “necessária preservação da paisagem do campus”, conforme solicitado no Programa de Necessidades, ítem 2.2.1.1..

Construção: sustentabilidade, economia e qualidade do ambiente construído

A eleição das soluções construtivas adotadas teve como critérios fundamentais os seguintes quesitos:

  • a máxima economia associada ao mínimo consumo de energia na produção e na reciclagem dos materiais utilizados e na manutenção e conservação da edificação deles resultante.
  • a opção por sistemas semi-industrializados, compatíveis com as restrições de acesso e montagem impostas pela presença da edificação existente, de modo a reduzir perdas e a conseqüente produção de rejeitos da construção, e ao mesmo tempo viabilizar uma construção mais rápida e precisa.
  • a independência completa das novas estruturas em relação às edificações existentes, para reduzir conflitos de ordem técnica e funcional como de ordem plástica, explorando o potencial de cada estrutura naquilo que lhe é intrínseco.

Procurou-se preservar integralmente a estrutura em concreto armado que caracteriza o edifício existente. Apenas nos nós que configuram os acessos principais se propõe o rompimento de trechos de lajes dentro da modulação estrutural existente a fim de promover maior integração física e visual entre os diversos pavimentos.

As novas áreas edificadas contam com estrutura mista, que concilia pilares metálicos preenchidos com armadura e concreto de alta resistência, reduzindo seções e ampliando a capacidade portante, e lajes nervuradas sem viga, com trechos maciços nas áreas sujeitas a esforços de punção. Dispostos em malha de 8 x 12 metros, essa solução gera tetos contínuos, o que reduz as alturas necessárias para entreforros de instalações, e permite o acabamento em concreto aparente em áreas de uso coletivo. Nestes casos, o caixão perdido das nervuras deve ser realizado com moldes economizadores a fim de evitar a utilização de forros e reduzir custos. Para as instalações, em especial de iluminação, propõe-se a utilização de equipamentos industriais, com eletrodutos aparentes, em ordenação austera que não oculte os elementos das estruturas, inclusive do edifício existente.

A solução moldada in loco permite a utilização de formas e escoramentos metálicos, reduzindo ao mínimo a aplicação de madeiras e compensados. Permite ainda o beneficiamento das armaduras fora do canteiro, e a concretagem programada com a utilização de concreto usinado. A laje nervurada, por sua forma ativa, concilia maior capacidade de carga com menor consumo de material e agiliza a construção ao demandar apenas planos contínuos de formas. A solução moldada in loco é mais indicada para a situação específica dada a existência de barreiras para o deslocamento e montagem de grandes peças industrializadas, definidas pelo anel edificado e pelas pré-existências do sítio, e também pela geometria circular que geraria maior variedade dos elementos, reduzindo a economia do processo de industrialização por não favorecer a modulação e a repetição de peças.

A fim de reforçar a diferenciação entre as partes novas e existentes buscou-se valorizar a presença da cobertura do edifício circular e ocultar os novos elementos edificados por sob cobertura gramada, reforçando a integração com a paisagem. Estas novas estruturas definem lajes impermeabilizadas com cobertura de brita, geotêxtil, terra e grama que, inclinadas, convergem as águas de chuva para pontos de coleta que conduzem a caixa de captação para reuso. A inclinação dos planos de laje reduz a sobrecarga gerada pela saturação da terra pela água de chuva ao favorecer a drenagem mais rápida.

Água, luz e resíduos sólidos: valorização dos recursos naturais e redução do impacto ambiental

O projeto para o Shopping Center Unisinos busca atender integralmente às Diretrizes de Sustentabilidade relacionadas no ítem 2.3 do Termo de Referência, para o que busca ampliar a racionalização do uso de energia elétrica e água através dos seguintes cuidados:

  • Redução da radiação solar direta nos ambientes internos, mesmo quando propostas iluminações zenitais, utilizando-se atenuadores externos que impedem a incidência de sol nos vidros e conseqüentemente eliminam o aquecimento por efeito estufa. Essa solução permite a utilização da iluminação natural sem comprometer vitrines e sem ampliar o consumo de energia da edificação pela demanda de sistemas de condicionamento de ar, como recomenda o Termo de Referência.
  • Plantio de árvores no pátio central, melhorando a qualidade ambiental e reforçando seu caráter de área de permanência pela geração de sombra. Sua localização estratégica busca também ampliar a proteção das circulações e vitrines do quadrante sul, abertas para o norte e portanto suscetíveis à exposição indesejada ao sol.
  • Diminuição da radiação solar direta e difusa nas superfícies envoltórias da edificação que têm contato com os ambientes internos – todos os planos de fachadas e coberturas –, através da disposição inclinada dos planos de laje e em especial por seu recobrimento verde, que evita a reflexão e constitui uma massa úmida que amplia a inércia térmica das coberturas, gerando isolamento térmico, acústico e ampliando o resfriamento da construção pela evaporação contínua da umidade da terra gramada. A cobertura modular existente no edifício circular, por seu destacamento em relação à laje de cobertura do último pavimento, tem sua preservação justificada também por favorecer a ventilação e reduzir a transmissão de calor para os espaços internos, funcionando como anteparo. Na edificação do Centro do Conhecimento, a previsão de uma segunda pele com cobertura vegetal reduz a exposição direta da fachada do edifício aos rigores solares.
  • Ampliação da ventilação natural permanente em todos os ambientes em que o uso do ar condicionado não seja obrigatório. A ventilação natural é complementada, nas áreas internas das lojas, por insuflamento de modo a assegurar a necessária renovação do ar das áreas de trabalho. Nas circulações, a abertura avarandada favorece a ventilação e reforça a integração com a natureza, evitando a artificialização dos espaços internos. Essa opção se justifica pela predominância do clima ameno na maior parte do ano na região. Nos dias excessivamente quentes ou frios, a proteção configurada pela ordenação em pátio interno reduz por um lado as incidências diretas de sol, configurando microclima ameno e, por outro lado, reduz a incidência de ventos nas áreas internas, o que ameniza os rigores do clima frio.
  • Previsão, nas cozinhas e áreas técnicas, em que há equipamentos elétricos, mecânicos, motores e outros geradores de calor, da instalação de equipamentos de exaustão, que têm reforçada sua capacidade de troca do ar interno pela instalação de chaminés distribuídas ao longo do gramado do pátio central, funcionando como elementos escultóricos que contribuem para diferenciar a ambiência do pátio.
  • Definição de sistema especial para condicionamento de ar das salas de cinema, com tubulação distribuída por sob as poltronas e saídas de insuflamento individuais, com bico controlador individual por poltrona. Como em ônibus e aviões, a saída individual controlável do ar condicionado permite a operação personalizada, promovendo o insuflamento direto sobre a fonte geradora de calor. Ao individualizar esta operação, o sistema atende melhor às especificidades individuais quanto ao conforto e reduz a demanda total de consumo de energia decorrente da utilização do ar por reduzir o volume total de ar refrigerado. Essa redução se deve, em especial, ao fato de que o insuflamento individual e frontal atinge diretamente e sem perdas as fontes geradoras de calor, e ainda elimina a necessidade de refrigeração de todo o volume de ar das salas de cinema, cujo pé-direito elevado amplia a demanda dos equipamentos e o consumo de energia em sistemas convencionais e, em geral, atendem apenas parcialmente aos diferentes níveis de conforto esperado pelos usuários.
  • Previsão de reservatórios para captação de toda a água pluvial que precipita sobre a edificação, com indicação de seu uso no próprio edifício, para fins específicos não potáveis, em especial na alimentação de vasos sanitários, torneiras de áreas externas e limpeza e irrigação de jardins. Para isso, indicam-se os seguintes equipamentos e dispositivos mínimos: reservatório de descarte, reservatório principal, bombas, calhas e tubulações independentes para o reuso. Favorece a implementação independente de rede de abastecimento de água de reuso a proximidade de localização da maior parte das instalações sanitárias de atendimento ao público, e a localização centralizada da caixa de captação.
  • Previsão de sistema independente que promova a separação dos esgotos cinzas provenientes de lavatórios para sua reutilização em prumadas de água para vasos sanitários. Para isso, prevê-se, junto ao talude de fechamento de uma das docas, a instalação de equipamentos de depuração física e química, com esquema de fossa séptica para separação de resíduos, filtro anaeróbio e caixa clorada para purificação.

ficha técnica

Autores
Arquitetos Bruno Luiz Coutinho Santa Cecília, Carlos Alberto Batista Maciel, Débora Vieira Mendes de Oliveira e Igor Macedo de Araújo

Colaboradora
Fernanda Dolabella Dubal

Consultor
Raul Neuenschwander (engenharia civil)

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Equipe premiada
Belo Horizonte MG Brasil

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054.01 Concurso
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IAB-RS
Porto Alegre RS Brasil

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054

054.02 Concurso

Sede da Orquestra Sinfônica de Minas Gerais

054.03 Institucional

Memorial Getúlio Vargas

054.04 Concurso

Habitação Popular – Concurso Público Nacional de Anteprojetos no Estado do Amazonas

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